Quando a Rede de Inovação Política da América Latina foi criada em 2016, nuvens escuras já apontavam no horizonte, embora quase ninguém antecipasse o que a tempestade política que vinha do norte depois do fim da maré rosa traria para o continente.
Reunidos nesta semana pela terceira vez na Cidade do México, o Encontro de Inovação Política reunirá líderes sociais, políticos e ativistas de toda a América Latina que enfrentam o desafio de repensar a inovação política na região em um contexto de persistente regressão democrática, repressão e desigualdade.
Os casos do Brasil, Venezuela e Nicarágua são particularmente preocupantes. Na Colômbia, a qualidade da democracia sofre, e na Argentina, quatro meses após as eleições presidenciais, a economia continua afundando e a desafeição é enorme. E o que será do México e a incerteza que paira sobre o que acontecerá quando a administração de AMLO se consolidar?
Nesse contexto de transtorno generalizado, a Rede de Inovação Política da América Latina reúne um coletivo de mais de 90 ativistas determinados a enfrentar um crescente autoritarismo antidemocrático.
Os desafios são múltiplos, mas a chave está em como otimizar a inovação política, não apenas para combater a violência, a repressão o ativismo e a disseminação de mensagens de ódio em toda a região, mas para desafiar os cidadãos e recuperar uma narrativa que pede uma participação mais efetiva em todos os níveis. O cenário é pior do que podemos imaginar.
Por isso, é importante, senão fundamental, que toda a energia que se expressou no ecossistema da inovação política nas últimas duas décadas seja canalizada para enfrentar as dinâmicas que minam gravemente as conquistas sociais e de direitos humanos que acreditávamos estar consolidadas.
Se a agenda atual do autoritarismo é enfraquecer a democracia desde dentro, é de dentro que a inovação deve ser aplicada não apenas para resistir, mas para fortalecer, convocar e voltar a dar esperança os cidadãos.
Inovação na América Latina: Para quê?
O projeto latino-americano, por exemplo, que mede as inovações políticas na América Latina, indica que estamos vindo de uma fase muito dinâmica. Entre 1990 e 2016, as inovações políticas proliferaram em todos os países da região, começando com cerca de 100 inovações em 1990 e chegando a 1676 em 2016.