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Assassinato de Berta Cáceres vinculado às elites hondurenhas

As autoridades hondurenhas não demonstram interesse em processar os supostos autores intelectuais do assassinato da ativista ambiental em 2016, deixando a rede criminosa que ordenou o homicídio praticamente intacta. Español English

Parker Asmann
14 Janeiro 2020, 12.01
Berta Cáceres era reconhecida internacional por seu ativismo ambiental em Honduras.
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Via InSight Crime

Mensagens recém-publicadas mostram novos vínculos sobre o plano para assassinar a reconhecida ativista Berta Cáceres, em Honduras, e revelam como as autoridades falharam em levar os supostos autores intelectuais do crime à justiça.

Registros de conversas pessoais, bem como mensagens de texto e de WhatsApp descobertas pelo Ministério Público de Honduras revelaram que o esquadrão dos assassinos “se comunicava através de uma cadeia compartimentalizada que atingia os mais altos níveis de gestão” da Desarrollos Energéticos SA (DESA) , a empresa que construiu a hidrelétrica de Agua Zarca, como revelou The Intercept em 21 de dezembro.

Cáceres, que ganhou o prestigioso prêmio ambiental Goldman em 2015, há muito protestava contra a construção da barragem, que ameaçava a sobrevivência da comunidade indígena Lenca ao longo do rio Gualcarque. A ativista foi morta a tiros em março de 2016 em sua casa em La Esperanza, no sudoeste de Honduras.

Uma das conversas do grupo incluía o diretor executivo da DESA, Roberto David Castillo Mejía, e o diretor financeiro Daniel Atala Midence, além dos membros do conselho da empresa, José Eduardo Atala Zablah e Pedro Atala Zablah. Os Atala Zablah pertencem a uma das famílias mais poderosas de Honduras e têm fortes laços com as elites dominantes e financeiras.

"Eles ou nós", disse o membro do conselho da DESA, Pedro Atala Zablah, em mensagem ao grupo em outubro de 2015, referindo-se ao Conselho Cívico e Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH), organização fundada por Cáceres, cuja membros se opuseram à barragem.

“Vamos mandar mensagem. 'Ke' [que] nada será fácil para esses 'hdp' [fdp]", escreveu ele.

Um advogado de Daniel Atala Midence e Pedro e José Eduardo Atala Zablah disse ao The Intercept que seus clientes "negam completamente qualquer envolvimento neste infeliz crime". Nenhum deles foi preso ou enfrentou acusações criminais.

O assassinato de Cáceres não foi uma decisão tomada no calor do momento

Sete dos oito acusados de envolvimento no assassinato de Cáceres - entre eles ex-oficiais militares treinados pelos EUA e funcionários da DESA - foram condenados em novembro de 2018 e sentenciados a penas de prisão de entre 30 a 50 anos.

Ao ler o veredito contra os assassinos de Cáceres, o tribunal determinou que os executivos da DESA haviam ordenado a morte da ambientalista porque seus esforços haviam causado prejuízos financeiros à empresa e atrasos no projeto.

Em março de 2018, as autoridades hondurenhas detiveram Castillo Mejía, director executivo da DESA no momento do homícidio de Cáceres, por sua participação como suposto autor intelectual. No entanto, ele ainda aguarda julgamento devido a vários atrasos e outras irregularidades no caso. Uma lei hondurenha que rege a detenção preventiva poderia permitir a libertação de Castillo Mejía se seu caso não for decidido antes de março de 2020. Ele negou todas as acusações contra ele.

Análise de InSight Crime

O assassinato de Cáceres não foi uma decisão tomada no calor do momento, foi o "ponto culminante de anos de corrupção e violência coordenadas", segundo The Intercept. Embora aqueles que apertaram o gatilho estejam atrás das grades, as autoridades hondurenhas parecem ter menos interesse em processar os supostos autores intelectuais do assassinato, o que deixa a rede criminosa que ordenou a morte praticamente intacta.

Por mais de um ano, os executivos da DESA planejaram metodicamente os ataques a Cáceres e sua organização, através de uma cooptação sistemática da polícia, funcionários do governo e da mídia, segundo The Intercept.

Em 2013, quando o exército hondurenho assassinou o membro do COPINH Tomás García durante uma protesta contra a construção da barragem de Agua Zarca, Atala Midence e Castillo Mejía rapidamente maquinaram para “controlar as versões da mídia”, pagando subornos a repórteres para descrever o evento fatal como um "confronto sobre a oposição da barragem", segundo The Intercept.

“Paga o repórter da HCH”, ordenou Castillo Mejía a Atala Midence em referência ao canal local de notícias HCH Televisión Digital. “1000 lempiras [ao redor de US$ 40] […] y depois podemos dar mais mil”.

Os supostos conspiradores na morte de Cáceres também dependiam de aliados dentro da polícia local para intimidar os membros da comunidade que protestavam contra a construção da barragem.

“Agradecemos o apoio que você nos deu ontem, os Copinhnes viram a presença da Polícia Nacional [...] e tiveram medo de atravessar o rio”, diz a mensagem de Castillo Mejía a um chefe de polícia. Posteriormente, o executivo compartilhou a mensagem na conversa em grupo que incluía membros do conselho da DESA, outros executivos e outros funcionários.

Após o assassinato de Cáceres, membros da empresa confiaram em seus poderosos aliados políticos, como o ministro da Segurança Julián Pacheco, que, segundo The Intercept, prometeu a Pedro Atala Zablah, alguns dias após o homicídio, que seria classificado como um “crime passional” para desviar a atenção indesejada da empresa.

As mensagens indicam que os envolvidos na conspiração para assassinar Cáceres sabiam que tinham amigos suficientes em altos cargos para garantir que as chances de serem levadas à justiça fossem remotas ou nulas. Eles claramente falaram de suas intenções nas mensagens, discutindo detalhes da "missão", os subornos que seriam pagos e as armas que seriam trocadas para perpetrar o crime.

No momento, as elites que sentem que podem deliberadamente planejar e perpetrar o assassinato de uma figura pública e ficar impunes parecem estar certas.

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Este artículo foi publicado previamente em espanhol pelo InsightCrime. Leia o conteúdo original aqui.

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