Sete dos oito acusados de envolvimento no assassinato de Cáceres - entre eles ex-oficiais militares treinados pelos EUA e funcionários da DESA - foram condenados em novembro de 2018 e sentenciados a penas de prisão de entre 30 a 50 anos.
Ao ler o veredito contra os assassinos de Cáceres, o tribunal determinou que os executivos da DESA haviam ordenado a morte da ambientalista porque seus esforços haviam causado prejuízos financeiros à empresa e atrasos no projeto.
Em março de 2018, as autoridades hondurenhas detiveram Castillo Mejía, director executivo da DESA no momento do homícidio de Cáceres, por sua participação como suposto autor intelectual. No entanto, ele ainda aguarda julgamento devido a vários atrasos e outras irregularidades no caso. Uma lei hondurenha que rege a detenção preventiva poderia permitir a libertação de Castillo Mejía se seu caso não for decidido antes de março de 2020. Ele negou todas as acusações contra ele.
Análise de InSight Crime
O assassinato de Cáceres não foi uma decisão tomada no calor do momento, foi o "ponto culminante de anos de corrupção e violência coordenadas", segundo The Intercept. Embora aqueles que apertaram o gatilho estejam atrás das grades, as autoridades hondurenhas parecem ter menos interesse em processar os supostos autores intelectuais do assassinato, o que deixa a rede criminosa que ordenou a morte praticamente intacta.
Por mais de um ano, os executivos da DESA planejaram metodicamente os ataques a Cáceres e sua organização, através de uma cooptação sistemática da polícia, funcionários do governo e da mídia, segundo The Intercept.
Em 2013, quando o exército hondurenho assassinou o membro do COPINH Tomás García durante uma protesta contra a construção da barragem de Agua Zarca, Atala Midence e Castillo Mejía rapidamente maquinaram para “controlar as versões da mídia”, pagando subornos a repórteres para descrever o evento fatal como um "confronto sobre a oposição da barragem", segundo The Intercept.
“Paga o repórter da HCH”, ordenou Castillo Mejía a Atala Midence em referência ao canal local de notícias HCH Televisión Digital. “1000 lempiras [ao redor de US$ 40] […] y depois podemos dar mais mil”.
Os supostos conspiradores na morte de Cáceres também dependiam de aliados dentro da polícia local para intimidar os membros da comunidade que protestavam contra a construção da barragem.
“Agradecemos o apoio que você nos deu ontem, os Copinhnes viram a presença da Polícia Nacional [...] e tiveram medo de atravessar o rio”, diz a mensagem de Castillo Mejía a um chefe de polícia. Posteriormente, o executivo compartilhou a mensagem na conversa em grupo que incluía membros do conselho da DESA, outros executivos e outros funcionários.
Após o assassinato de Cáceres, membros da empresa confiaram em seus poderosos aliados políticos, como o ministro da Segurança Julián Pacheco, que, segundo The Intercept, prometeu a Pedro Atala Zablah, alguns dias após o homicídio, que seria classificado como um “crime passional” para desviar a atenção indesejada da empresa.
As mensagens indicam que os envolvidos na conspiração para assassinar Cáceres sabiam que tinham amigos suficientes em altos cargos para garantir que as chances de serem levadas à justiça fossem remotas ou nulas. Eles claramente falaram de suas intenções nas mensagens, discutindo detalhes da "missão", os subornos que seriam pagos e as armas que seriam trocadas para perpetrar o crime.
No momento, as elites que sentem que podem deliberadamente planejar e perpetrar o assassinato de uma figura pública e ficar impunes parecem estar certas.
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Este artículo foi publicado previamente em espanhol pelo InsightCrime. Leia o conteúdo original aqui.
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