A cobertura da morte de Javier enfatizou que ele era um homem de família dedicado aos dois filhos e que era formado em engenharia aeronáutica e estava prestes a se formar em direito. Imagens circularam nas redes sociais com críticas como "nenhum diploma universitário protege da brutalidade policial" e manchetes apareceram na mídia dizendo "Quem foi Javier Ordóñez, o advogado que morreu após um julgamento policial em Bogotá", e "Este era Javier Ordóñez, o advogado e pai que morreu após ser espancado pela polícia em Bogotá".
Esta cobertura dá à vítima a dignidade que ela merece e deveria estar presente em todos os casos. No entanto, ela é muito diferente da cobertura que a maioria das vítimas de brutalidade policial no país recebeu. Devido a diferentes circunstâncias de vida, suas mortes não provocaram a mesma indignação que vimos na ocasião da morte de Javier.
O caso de Anderson Arboleda é um dos mais recentes. Em 19 de maio, o jovem afro-colombiano, de apenas 19 anos, foi brutalmente espancado até a morte supostamente por policiais por alegada violação das medidas de quarentena. Anderson era um jovem trabalhador que estava terminando o ensino médio para ajudar a melhorar a condição de sua família. Além de estudar, ele servia no exército e vendia roupas e tênis para trazer dinheiro para casa. Era um jovem sociável e alegre, que gostava de passar tempo com sua família e tinha um bom relacionamento com todos à sua volta.
Logo depois, em Puerto Tejada, outro afro-colombiano de 22 anos, Janner García, foi assassinado em um caso que também aparenta envolver policiais. Janner era um esportista profissional com um futuro promissor pela frente como goleiro e se dedicava arduamente para dar um futuro melhor a sua família.
A cobertura de ambas os casos se concentrou muito mais na forma como morreram do que em quem eram e, embora houve uma pequena demonstração em Puerto Tejada, os bogotanos decidiram não ir às ruas naquela ocasião. Então por que não ficamos tão indignados quando Anderson e Janner foram mortos? Quem decide quais mortes são mais ultrajantes?
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