Além da burocracia e da oposição às mudanças legislativas a nível local, existem outros obstáculos práticos que dificultam o acesso ao aborto seguro no México. Em 2018, legisladores declararam que médicos têm o direito de se recusar a realizar abortos se o procedimento for contra suas crenças, exceto em casos de emergência – um direito que a Corte Suprema manteve nesta segunda-feira, 13 de setembro, ao declarar que a objeção não infringe o direito à saúde.
Assim, em uma semana, a corte promoveu uma vitória e edificou um obstáculo ao acesso ao aborto no México.
México indica possível consolidação de tendência na América Latina
Em dezembro de 2020, a Argentina se tornou o país mais populoso da América Latina a legalizar o aborto. A descriminalização do aborto no México nove meses após a aprovação da lei no Senado argentino mostra que a tendência de descriminalização do aborto na América Latina está em ascensão.
Os lenços verdes argentinos da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito viraram um símbolo regional da luta por esse direito. Segundo a antropóloga brasileira Debora Diniz, não é um fenômeno comum na região.
“Tradicionalmente, a América Latina não opera assim. Era uma região colonizada, que olhava muito mais para o Norte Global. E agora olhamos uns para os outros. Até um país que se entende como continente, como o Brasil, está usando o lenço verde para representar as causas das mulheres”, disse em entrevista à BBC.
México e Argentina mostram que é possível separar leis e crenças
Os mexicanos, em sua maioria, são socialmente conservadores. Uma pesquisa de 2019 mostra que 63% dos cidadãos são contra a legalização do aborto, com apenas 32% dos entrevistados se declarando a favor. A maioria da população é a favor do aborto legal em apenas 2 das 32 entidades federativas mexicanas, como mostra a mesma pesquisa – na Cidade do México, com 53%, e Baja California, com 51%.
A resistência de entidades religiosas ainda impõem desafios em toda a região. Em 2018, a influência da Igreja na rejeição do projeto de lei de legalização da interrupção da gravidez no Senado foi evidente. Na ocasião, o arcebispo de Buenos Aires, Mario Aurelio Poli, celebrou uma “Missa pela Vida” enquanto a lei era debatida pelos senadores. Anteriormente, o arcebispo de Tucumán, Carlos Sánchez, havia instado deputados – por nome e sobrenome – a votarem contra a medida.
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