A eleição dos candidatos, portanto, indica que a batalha está ocorrendo agora no campo transversal do peronismo e que a polarização na Argentina poderia ser reduzida com essas eleições. Parece também que não há candidatura que venha de fora dos círculos das elites políticas mais poderosas do país, como foi o caso recentemente no Brasil e nos EUA.
A família Kirchner tem muitos laços com a política e continua acreditando que pode determinar os resultados de importantes processos democráticos. Mas Pichetto também tem uma trajetória política tradicionalista, e Alberto Fernández começou a trabalhar na política pouco depois de se formar na Universidade de Buenos Aires em 1989. Não há, portanto, nenhum outsider.
O que estão dizendo os candidatos
A campanha de Macri enfatiza o fato de que, durante sua presidência, as obras públicas melhoraram e a infraestrutura do país ajudou a criar "uma nova realidade" na Argentina. Também enfatiza o sucesso de seus acordos no exterior com o Mercosul e a União Europeia, que fortaleceram a posição internacional do país, bastante enfraquecida pelo padrão anterior do kirchnerismo.
Por outro lado, Fernández declara ser um "tipo comum", que pode oferecer uma política conciliatória em um país devastado pela polarização política e econômica. "Vou ordenar o caos que estão deixando, temos a força para fazê-lo", disse ele durante uma entrevista recente. Junto com Cristina, que tentará ficar em segundo plano, embora seja difícil consegui-lo, vai chamar a atenção para o estado da economia doméstica, que não melhorou desde que Macri chegou ao poder. Em vez de reduzir o enorme déficit herdado do governo anterior, Macri deixou o país ainda mais endividado. Além disso, eles afirmam que a política externa da Macri é muito próxima dos EUA, seguindo os ditames do FMI.
O plano de governo de Fernández se propõe a eliminar o IVA sobre produtos alimentícios básicos e declarar uma emergência nutricional para tratar imediatamente da pobreza alimentar. Também inclui um plano de crédito para famílias de classe média, para que possam sair da dívida. Em qualquer caso, a batalha da dívida em um país imensamente rico soma contradições de ambos os lados que não oferecem soluções claras. Ambos fogem das políticas impopulares, que seriam necessárias para uma verdadeira contenção do déficit.
O primeiro turno das eleições presidenciais acontecerá em outubro, mas se, como é provável, nenhum candidato conseguir 45% dos votos, ou 40% com 10 pontos de diferença com o segundo candidato, haverá um segundo turno em novembro.
Parece que estas eleições serão travadas no campo do peronismo e de algum modo desafiarão a polarização política que determinou a política argentina durante o último século. Mas, mesmo nesse caso, quem vencer, será a mesma elite de sempre que se perpetua no poder. Podemos esperar mudanças, se todos são peronistas? Talvez não tanto.
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