Neste especial 'Brasil em chamas: um apelo à ação', analisamos com um olhar múltiplo a atual crise ambiental. Precisamos urgentemente converter palavras em ações concretas que desafiam as políticas do governo Bolsonaro, que criou um cenário que incentiva o desmatamento, a impunidade e a destruição contínua de um dos pulmões do mundo: a Amazônia.
A resposta gerada pelos incêndios na Amazônia brasileira tem sido esmagadora, principalmente por uma sociedade civil que permaneceu bastante fora dos problemas ambientais, exceto pelos militantes sempre envolvidos.
O assunto foi um dos mais comentados globalmente no Twitter, Instagram e Facebook. Pessoas frustradas e chocadas usaram as hashtags #PrayForAmazon e #ActForTheAmazon para buscar maneiras de agir em favor da floresta amazônica. Também foram compartilhadas cadeias de informações de organizações como a Rainforest Foundation ou o Greenpeace, além de iniciativas de doação de dinheiro e de árvores. Se gerou um fenômeno de uma cidadania envolvida e interessada e, mas mais do que tudo, alarmada e consternada.
Os cidadãos envolvidos canalizaram sua frustração em ações focadas em mudanças na rotina: reduzir o consumo de carne vermelha, reciclar, usar sacolas reutilizáveis ou usar escovas de dente de bambu.
Em outras palavras, implementar práticas sustentáveis na rotina diária. Além disso, foram os cidadãos que se mobilizaram e saíram às ruas para comunicar sua indignação. De um protesto em frente à Embaixada do Brasil em Bogotá a uma mobilização maciça no Rio de Janeiro e em outras grandes cidades brasileira, vozes foram levantas para promover uma mudança de políticas em favor da Amazônia.
Ações de ONG e ativistas
Também no nível das organizações, sejam elas não governamentais ou a sociedade civil, vemos a mesma não conformidade existente na cidadania, mas vemos ações maiores e mais concretas. Exemplos disso são a Rainforest Foundation ou o Greenpeace, mas especialmente as organizações indígenas que vêem suas terras ameaçadas e afetadas por esses incêndios. Essas ações mobilizaram ainda mais os cidadãos e geraram mais ações e demandas de solução.
Iniciativas de plataformas como o Change.org (Stop the burning of the Amazon forest!) também contribuíram para a resposta em massa de atores não-governamentais à crise na Amazônia. Sua petição regional, assinada por cidadãos do Brasil, Colômbia, México, Peru, e Bolívia, conseguiu coletar quase 4.500.000 assinaturas exigindo que o governo brasileiro atue para deter os incêndios. O Change.org também desempenhou um papel fundamental na organização de manifestações de protesto diante de embaixadas brasileiras e entregas de assinaturas a embaixadores brasileiros em toda a região.
Ativistas ambientais também levantaram suas vozes contra as políticas de Bolsonaro e tiveram um impacto significativo no debate. O democraciaAbierta esteve com uma das ativistas mais importantes, a ex-ministra do Meio Ambiente do primeiro governo de Lula, Marina Silva, em uma conversa em Bogotá, onde ela nos explicou por que proteger o meio ambiente não deveria ser uma questão de ideologia política, mas uma questão de ideologia de todos.
Ações governamentais e instituições internacionais
Coincidindo com o pior momento da crise de incêndio na Amazônia, a cúpula do G7 ocorreu na França, onde líderes do Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Japão e EUA se reuniram para discutir questões de importância global. Os líderes do G7 deixaram claro que os incêndios na Amazônia e a política ambiental do governo brasileiro seriam questões prioritárias em sua agenda de debates.
O G7 terminou com uma proposta de doar US$ 20 milhões ao Brasil para ajudar a Amazônia. No entanto, Bolsonaro rejeitou o apoio financeiro, abrindo uma disputa com o presidente da França, Macron, que terminou com Macron declarando que Bolsonaro não era digno de governar o povo brasileiro. Bolsonaro reagiu com um discurso nacionalista e demagogo, observando que ele rejeita as ideias colonialistas do G7 e que só receberá recursos se o Brasil tiver controle total do dinheiro.
A França e a Irlanda declararam que bloqueariam a ratificação do recente acordo comercial entre a União Européia e o Mercosul se o Brasil não tomar medidas para interromper imediatamente os incêndios na Amazônia. Esses avisos e o clamor internacional geraram reação no presidente Bolsonaro, que enviou o exército brasileiro para a Amazônia, na tentativa de controlar os incêndios e assinou um decreto proibindo queimadas em todo o Brasil por 60 dias. No entendo, ele alterou o decreto um dia depois, liberando a prática para agricultores fora da região conhecida como Amazônia Legal.
Propor soluções regionais para esta crise é crucial hoje. No entanto, até agora, os governos latino-americanos permanecem sem ação sobre o assunto. Como diz Marina Silva, "a América Latina tem a oportunidade de ser um exemplo de políticas ambientais para o mundo, mas, infelizmente, por enquanto estamos vendo apenas contratempos". Quanto tempo permaneceremos de braços cruzados diante da crise que afeta um dos pulmões do planeta (o outro pulmão, a floresta tropical africana, também está queimando com a mesma intensidade ultimamente) tenha adquirido uma dimensão global?
Sobre democraciaAbierta
democraciaAbierta é uma plataforma independente que discute política, ideias e cultura em busca de desafiar o poder e incentivar o debate democrático na América Latina e no mundo.
Nesta série de reportagens, mapeamos como funcionou o comando militar na fiscalização da operação, demonstrando como a atual GLO da Amazônia é fadada ao fracasso.
Esta série capta as vozes das comunidades indígenas que lutam pela sobrevivência em tempos de pandemia nas selvas amazônicas da Colômbia, Brasil e Equador.
Uma série de vídeo-colunas em que figuras influentes, como Jean Wyllys, discutem temas de ativismo, análise política, meio ambiente, entre outros, para gerar um diálogo sobre a América Latina.
Com o apoio do Rainforest Journalism Fund do Pulitzer Center, em colaboração com o fotojornalista Pablo Albarenga, Engajamundo (Brasil) e Kara Solar (Equador), apresentamos sete histórias inspiradoras: são as vozes de quem não tem medo de defender seus territórios, mesmo quando as forças mais poderosas do país representam ameaças graves.