O presidente é conhecido por sua grosseria, desrespeito e vulgaridade ao abordar seus críticos ou oponentes, sejam eles jornalistas, artistas ou acadêmicos. Sua virulência é especialmente dura quando seus alvos são mulheres. Há uma semana, Bolsonaro caluniou publicamente a jornalista Patricia Campos Mello, da Folha de São Paulo, alegando que ela tentou conseguir um furo através de insinuações sexuais a um de seus informantes. A verdade é que Patricia Campos Mello investigou e divulgou evidências robustas sobre o uso não regulamentado de estratégias de comunicação por WhatsApp pela campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018.
Não foi a primeira vez que o presidente Bolsonaro abertamente atacou a jornalista, mas nunca de maneira tão brutal e cruel, cruzando a linha da contravenção. Dado a incomum resposta pública que abalou o debate nacional, seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, veio em auxílio de seu pai em um debate na Câmara, mais uma vez agredindo mulheres. Ele replicou o gesto que o presidente Bolsonaro usa contra jornalistas toda vez que ele não gosta de suas perguntas, mandando o dedo a uma parlamentar.
Este episódio lamentável é apenas mais uma em uma série longa e cumulativa de atos de discurso repugnantes realizados pelo presidente Bolsonaro que começaram antes mesmo de ele assumir o cargo. No entanto, mais claramente do que aconteceu antes, o ataque cruel a Patricia Campos Mello viola regras explícitas de como um presidente deve se comportar, tornando-o potencialmente sujeito a ação judicial por má conduta presidencial. A pergunta a ser feita é por que isso não está acontecendo como seria de esperar?
Nas últimas duas semanas, vozes do mundo acadêmico, da imprensa e da sociedade civil pediram que o ato repugnante de Bolsonaro fosse interrogado judicialmente. Por outro lado, lamentavelmente, os principais líderes de todo o espectro político permaneceram calados ou fizeram apelos por restrição e paciência histórica.
Por outro lado, como é sabido, em 2016, a presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment, apesar das evidências insuficientes e truncadas de má conduta. Seu julgamento foi um espetáculo de agressividade, sexismo e preconceito que nos obriga a concluir também que, no Brasil, o estado de direito é profundamente enviesado por gênero em favor do domínio masculino em todas as esferas, principalmente na política.
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