democraciaAbierta

O que aconteceu na Nova Zelândia não foi casualidade

O ataque na Nova Zelândia deve nos fazer refletir sobre as maneiras pelas quais a violência e o ódio tentam fraturar nossas democracias.

democracia Abierta
21 Março 2019, 12.01
Membros do público homenageiam as vítimas durante uma comemoração dos ataques na Mesquita Al Noor em Christchurch, Nova Zelândia, em 19 de março de 2019.
|
(AAP Image/Mick Tsikas). Todos los derechos reservados.

O que aconteceu na Nova Zelândia não é um evento isolado. Sem dúvida, este é um fenômeno que tem raiz na islamofobia levada ao extremo, que teve como resultando um massacre desconcertante que deixou 50 mortos e 50 feridos. O ataque na Nova Zelândia é a pior ação terrorista perpetrada por um militante da extrema direita na história moderna do país oceânico.

Esse ato de violência nos leva a investigar o futuro do chamado discurso do ódio, e também nos faz refletir sobre a maneira pela qual a radicalização ideológica leva a fenômenos incompreensíveis, no qual racismo e xenofobia culminam em um nível de violência que busca o fim das nossas sociedades multiculturais.

Para o autor do ataque, a razão para cometer este crime foi clara: vingar a morte de milhares de pessoas assassinadas por "invasores estrangeiros". As teorias que circulam entre os grupos de extrema direita, como a "Grande Substituição" - um panfleto racista que aponta que os povos europeus estão sendo substituídos por populações de imigrantes não europeus - são outro exemplo de quão perigosa é a propagação e a legitimidade de o discurso de ódio.

Nova comunidade: a extrema direita mundial

Subgrupos na internet foram criando de forma acelerada novas comunidades virtuais e reais que defendem as posições extremistas da supremacia branca e agridem descaradamente estrangeiros, mulheres e muçulmanos. Ideias racistas se transformaram em ideologias e a militância encheu múltiplas agendas democráticas com noções negativas baseadas no etnocentrismo e o desejo contínuo de exercer a hegemonia sobre os povos não brancos.

Ideias racistas se transformaram em ideologias e a militância encheu múltiplas agendas democráticas com noções negativas baseadas no etnocentrismo e o desejo contínuo de exercer a hegemonia sobre os povos não brancos.

A preocupação é acirrada quando ataques como o da Nova Zelândia chegam a ser transmitidos ao vivo pela internet, levando o Facebook e o YouTube a removerem milhões de vídeos que mostraram o ataque do começo ao fim. Essas técnicas perversas que buscam legitimar o discurso de ódio através da viralidade da internet são utilizadas pelas comunidades que chegam a esses conteúdos para se informar e continuar validando suas ideologias extremas, sendo a internet o principal canal pelo qual é promovido o crescimento dessa nova extrema direita mundial.

Não pronunciar nome do autor

Com a ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que promove a ideia de nunca pronunciar o nome do autor, desperta-se uma sensibilidade importante sobre o poder da linguagem e a importância centrada nos autores e não nas vítimas. A busca por notoriedade através do terrorismo parece se espalhar mais cada vez que o nome do autor é repetido. Portanto, as notícias críticas sobre a emoção, posições e reconhecimento das vítimas parecem estar em dívida quando esse tipo de ataque ocorre.

As reflexões imediatas, mais à frente do sensacionalismo midiático da descrição de fatos, autores ou figuras, devem se concentrar nas questões centrais que se encontram por trás desses episódios, como as narrativas sobre a liberação da posse de armas promovidas por governos como o de Trump, ou as fórmulas para buscar justiça e reparação para as vítimas.

Que discursos influenciam crimes como este e, a partir disso, o que devemos mudar como sociedades democráticas?

Quem são as figuram que adotam noções de pós-verdade semelhantes àquelas que promovem a supremacia branca? Que discursos influenciam crimes como este e, a partir disso, o que devemos mudar como sociedades democráticas? Qual é o papel do Estado, do círculo privado e familiar e das instituições sociais para evitar que cenários como este se repitam? Estas são apenas algumas das questões que devem ser abordadas com mais vigor inclusive do que o próprio massacre.

Portanto, reflexões sobre o extremismo na internet, a islamofobia impulsionada pelo etnocentrismo, ou como essas tragédias podem ou não acontecer, devem ser a verdadeira lupa posta sobre o assunto.

We’ve got a newsletter for everyone

Whatever you’re interested in, there’s a free openDemocracy newsletter for you.

Assine nossa newsletter Acesse análises de qualidade sobre democracia, direitos humanos e inovação política na América Latina através do nosso boletim semanal Inscreva-me na newsletter

Comentários

Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy
Audio available Bookmark Check Language Close Comments Download Facebook Link Email Newsletter Newsletter Play Print Share Twitter Youtube Search Instagram WhatsApp yourData