Demonstrar que a cúpula de poder que governa um país estava envolvida nessa rede de propina e fazer frente a corrupção em seus níveis mais altos pode ter consequências trágicas, como foi o suicídio de Alan García. Até onde chega a punição pelos crimes da Odebrecht?
Nova munição para anticorrupção
Com a politização da morte desse ex-presidente, algumas questões são novamente levantadas. Por um lado, existe a necessidade de não deixar impunes os crimes de corrupção e por outro existe a questão das limitações do poder e da dignidade de um aparato estatal peruano que não soube evitá-lo ou pará-lo. A mãe firme de vários setores e dos próprios cidadãos no julgamento e na punição da corrupção alcançaram uma investigação sem precedentes. Mas quase ninguém imaginava que chegaria aos peixes mais gordos.
A confirmação de que a Odebrecht contribuiu com dinheiro para a campanha de Alan Garcia mostra o nível que a corrupção atingiu na região. A sequestro da democracia pelas elites econômicas alcançou os níveis mais altos, conseguindo assim controlar investimentos multimilionários em infraestrutura.
Parece que a única maneira de fazer política na América Latina é receber financiamento de elites e grupos empresariais. É aí que vivem as despesas multimilionárias das campanhas que são feitas nas eleições presidenciais ou regionais, onde o que tem mais dinheiro é o que tem maior probabilidade de tomar o poder ou se perpetuar. Assim, as consequências criminais da corrupção da Odebrecht devem estimular o surgimento de novas formas de fazer política de maneira transparente e honesta: na democracia, as eleições não devem ser ganhas com dinheiro, mas com ideias e propostas políticas a favor de todos os cidadãos.
Quatro anos procurando justiça
Além do Peru, a maioria dos países envolvidos no escândalo da Odebrecht parece eternizar ou bloquear as investigações. Será que querem realmente processar aqueles que aceitaram propinas?
Na Colômbia, embora a Odebrecht tenha sido sancionada por 10 anos evitando que ela realize qualquer tipo de operação no país, as investigações para desvendar onde foram parar os US$ 26 milhões que a empresa teria pago pela concessão de obras andam em marcha lentíssima.
Na Argentina, há apenas duas semanas, um juiz finalmente processou 26 pessoas, incluindo um ex-ministro do governo Kirchner, que só agora enfrentará a justiça para continuar esclarecendo a verdade no país.