ourEconomy: Opinion

Acabar com monopólios corporativos é a única solução para a democracia

Para resolver nossos problemas mais urgentes será necessário retomar o enorme poder do 1%

Nick Dearden
5 Abril 2023, 10.00
As cinco maiores corporações do mundo ganharam coletivamente mais do que a renda de quase um quarto da população mundial
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Mark Ralston, Getty Images

Alguns meses após assumir a presidência, Joe Biden assinou uma ordem executiva para promover a competição na economia americana dizendo: “Estamos agora há 40 anos no experimento de permitir que corporações gigantes acumulem cada vez mais poder [...] Acredito que o experimento fracassou.”

Embora essas palavras possam parecer improváveis do outrora campeão centrista de acordos comerciais corporativos, os discursos de Biden – salpicados de ataques contra a big agriculture, "ig tech e big pharma – hoje soam mais próximos do ex-chanceler trabalhista da Grã-Bretanha John McDonnell do que Hillary Clinton.

Existem muitas razões para a posição de Biden sobre os monopólios. O choque profundo para o estabelecimento liberal da presidência de Trump nos Estados Unidos e a popularidade do ex-oponente de Clinton, Bernie Sanders, certamente mudaram o debate.

Mas também há um profundo reconhecimento de que vivemos em uma economia capturada por corporações incrivelmente ricas e poderosas, quase a ponto de ameaçar a estabilidade do sistema.

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Enquanto o mundo vive uma crise de custo de vida, mesmo quando se recupera da pior pandemia em um século e luta para lidar com os efeitos da mudança climática, os lucros das 500 maiores empresas do planeta quase dobraram, ultrapassando US$ 3 trilhões em 2021. Com US$ 38 trilhões, sua renda combinada totalizou quase 40% da economia mundial e mais do que o PIB de todos os países juntos, descontando os países mais ricos.

As cinco maiores corporações juntas ganharam mais do que a renda dos dois bilhões de pessoas mais pobres – ou quase um quarto da população mundial. E uma única corporação, o Walmart, ganhou mais de meio trilhão de dólares ou pelo menos US$ 1,5 bilhão todos os dias, enquanto os lucros da Apple dispararam para US$ 95 bilhões.

A razão é a crescente concentração do poder corporativo. Em muitos setores, um punhado de grandes empresas monopolizou o mercado, o que significa que elas são livres para definir preços, sejam quais forem as circunstâncias.

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Sem soberania alimentar, empresas privadas continuarão a lucrar às custas de pessoas vulneráveis

Uma análise recente da Universidade de Harvard, da Universidade de Chicago e do Instituto Leibniz de Pesquisa Financeira constatou que 1% das empresas americanas responde por surpreendentes 81% das vendas de negócios e 97% dos ativos comerciais. Os 0,1% mais ricos sozinhos respondem por 88% dos ativos corporativos e 66% das vendas.

Entre 1995 e 2015, 60 empresas farmacêuticas americanas se fundiram e se tornaram apenas 10. Há cerca de 25 anos, 10 corporações controlavam 40% do mercado global de sementes; hoje são apenas duas.

O Google detém 85% do mercado global de motores de busca, enquanto Amazon, Microsoft e Google juntos possuem 65% dos serviços de infraestrutura em nuvem. No Reino Unido, apenas três empresas possuem 90% do mercado nacional de jornais, contra 71% em 2015.

Isso foi exacerbado por uma nova aristocracia financeira, com os maiores acionistas em todas as grandes corporações transnacionais cada vez mais compostos pelos mesmos enormes fundos de investimento. Apenas três delas – BlackRock, Vanguard e State Street – são os maiores acionistas de 495 das 500 maiores corporações dos Estados Unidos.

Em uma economia onde o acesso ao capital é a prioridade máxima, essas corporações têm um poder enorme. Como Farhad Manjoo argumenta no The New York Times: “Sua ascensão veio à custa de intensa concentração na propriedade corporativa [...] no futuro, cerca de uma dúzia de pessoas em firmas de investimento deterão poder sobre a maioria das empresas americanas."

Tudo isso não significa simplesmente que pagamos preços mais altos. Em vez disso, a própria democracia é corroída pelo capitalismo monopolista.

Dizem que vivemos em um mercado gigantesco, onde nenhuma autoridade central toma decisões e todos podem expressar seus desejos mais profundos comprando coisas.

Nossa economia pode ser reformulada no interesse público mobilizando um amplo movimento contra os monopólios

Na realidade, deixar as decisões importantes “para o mercado” significa deixá-las para as grandes empresas. Mas essas decisões são de natureza profundamente política: o que a sociedade deve fazer, para quem e como? Quem deve obter esses produtos e serviços e em que condições?

A concentração corporativa concede às grandes empresas influência política descomunal e o lobby lhes permite criar regras para exacerbar seu poder. Por exemplo, monopólios de propriedade intelectual ou políticas fiscais para reduzir as obrigações fiscais.

O ativista anticorrupção Zephyr Teachout acredita que a privatização dessas decisões políticas e o poder de governo concedido às corporações não apenas torna a corrupção mais provável, mas é a própria corrupção.

A resposta de Biden ao problema do poder monopolista é inadequada, mas este é um momento com enorme potencial de mudança positiva. Nossa economia pode ser reformulada no interesse público mobilizando um amplo movimento contra os monopólios, aos quais as pessoas são mais hostis do que, digamos, o livre mercado.

Dentro desse movimento, existem diferentes escolas de pensamento.

Alguns, como o Balanced Economy Project, estão colocando seus esforços em um trabalho antitruste radical, desfazendo os cartéis, evitando fusões e reinventando a política de concorrência.

Outros querem pressionar pela nacionalização dos monopólios naturais, transformar as regras comerciais globais que mantêm esses monopólios em vigor (pense no enfrentamento da People's Vaccine aos monopólios de medicamentos) ou promover meios alternativos de organização da sociedade, como o inspirador movimento de soberania alimentar.

Outros ainda querem enfrentar os monopólios individuais reunindo diferentes grupos de interesse, como no Make Amazon Pay. E em nível local, nos Estados Unidos, há dezenas de exemplos de iniciativas de combate às grandes empresas. Dakota do Norte tem lutado para manter um setor bancário local e 39% do orçamento de compras de Cleveland foi transferido para empresas locais.

O importante é nos vermos, em qualquer trabalho que fizermos, como parte da luta para transformar nossa economia, reconhecendo que o capitalismo monopolista não pode ser derrotado por um único método.

O capitalismo monopolista mudou o poder de 99% para 1% e minou nossa democracia, tornando mais difícil enfrentar nossa crise mais existencial – a mudança climática. Somente recuperando, quebrando, descentralizando e dispersando esse poder, poderemos esperar tomar decisões democráticas de interesse público.

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From coronation budgets to secretive government units, journalists have used the Freedom of Information Act to expose corruption and incompetence in high places. Tony Blair regrets ever giving us this right. Today's UK government is giving fewer and fewer transparency responses, and doing it more slowly. But would better transparency give us better government? And how can we get it?

Join our experts for a free live discussion at 5pm UK time on 15 June.

Hear from:

Claire Miller Data journalism and FOI expert
Martin Rosenbaum Author of ‘Freedom of Information: A Practical Guidebook’; former BBC political journalist
Jenna Corderoy Investigative reporter at openDemocracy and visiting lecturer at City University, London
Chair: Ramzy Alwakeel Head of news at openDemocracy

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