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Infecção mortal no Pacífico colombiano: onde está o estado?

Cinco crianças morreram de uma infecção em Chocó, incluindo uma de um ano. O ministério da saúde confirmou as mortes em um tuíte, mas o foco se voltou para o coronavírus. Español English

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10 Fevereiro 2020, 3.32
Um grupo de crianças do Chocó, Colômbia
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"La ventana II" por Lolabe. CC BY-NC 2.0

Na semana passada, várias manchetes em diferentes publicações da Colômbia (El Tiempo, Vanguardia, El País), alertaram para o aparecimento de uma doença ainda não bem identificada que teria matado cinco crianças em uma comunidade indígena do departamento de Chocó, na Costa Pacífica do país. Desde então, o ministério da saúde confirmou as mortes em um tuíte, mas o foco rapidamente se voltou para o coronavírus.

A última vítima tinha apenas um ano e meio, e todos elas pertenciam à comunidade indígena Wounaan do Bajo Baudó colombiano. Cerca de 185 crianças estão sendo tratadas em uma comunidade de apenas 1.500 habitantes e ninguém pode confirmar a causa ou origem desta infecção. Com sintomas de diarréia, vômito, complicações respiratórias e febre, essa possível epidemia não apresentaria semelhanças com o coronavírus que está assolando a China e que já se espalhou pelo mundo.

O coronavírus já deixou mais de 630 mortos ao redor do mundo, e a cifra continua subindo. A OMS declarou emergência internacional. A cidade de Wuhan, na China, foco da epidemia, reagiu tarde para isolar a infecção, embora tenha construído um hospital com 1.000 leitos em 10 dias para lidar com a epidemia, cuja letalidade ainda é desconhecida em sua verdadeira dimensão.

Enquanto isso, a equipe enviada a Bajo Baudó pelo governo colombiano é composta por um médico, uma enfermeira, um bacteriologista e uma equipe de vacinação. Comparar o coronavírus com o episódio nessa comunidade indígena é obviamente exagerado. Não parece que tenha havido algo semelhante ao salto do vírus de animal para um humano, que é a mutação que torna novos vírus desse tipo tão perigosos, dada a sua novidade. Mas o surto epidêmico é uma prova de uma desigualdade que reina, principalmente na América Latina.

É inimaginável que essa comunidade possa construir um leito de hospital mesmo em 1.000 dias. A cidade nem sequer tem um posto de saúde primário – o mais próximo fica a seis horas de distância, em um percurso geralmente intransitável. Duas crianças doentes tiveram que ser evacuadas de helicóptero.

O surto epidêmico é uma prova de uma desigualdade que reina, principalmente na América Latina

A comunidade nem sequer tem água potável e consome a dos rios, sem garantia sanitária, que poderia ser a causa do surto e torna ainda mais evidente que a presença do Estado é quase nula.

Segundo o Banco Mundial, na Colômbia, para cada 1.000 crianças nascidas, 12 morrem. No México, 11; no Brasil, 13; na Venezuela 21 e no Haiti 50. Em média, na América Latina e no Caribe, 14 em cada 1.000 crianças morrem, uma taxa superada apenas pelo sul da África e pelo sul da Ásia.

Como afirma um editorial recente do jornal colombiano El Tiempo, não é possível que a morte de menores seja a única maneira de gerar uma presença estatal, ausente em centenas de comunidades na Colômbia e em muitos lugares da América Latina.

Embora esteja muito longe do caso do coronavírus que preocupa o mundo, o aparecimento de um surto epidêmico não identificado é claramente preocupante. O que aconteceria na Colômbia se acontecesse algo semelhante ao que aconteceu na China?

Na ausência de estabelecer a origem e o verdadeiro escopo deste possível novo surto, este caso deve ser um sinal de alarme. Deve alertar os estados sobre as conseqüências de não abordar as enormes desigualdades existentes, particularmente no que diz respeito ao acesso à saúde básica. Um dever, o de acesso universal à saúde, que os estados latino-americanos, com a Colômbia no topo, lida com negligências imperdoáveis ​​e letais.

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