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Número de assassinatos de ativistas ambientais bate recorde histórico

Pelo menos 200 defensores de causas ambientais e fundiárias foram assassinados em 2016 – 60% na América Latina. English Español

Robert Soutar
24 Julho 2017
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Aumenta o número de mortes por proteger o meio ambiente (imagem: Eduardo Santos).

O ano passado foi o ano mais letal já registrado, de acordo com os dados divulgados pela ONG Global Witness, do Reino Unido.

O mais recente relatório da organização mostra o alastramento de uma “crise” pelo mundo, uma vez que o número de países onde foram registradas mortes subiu de 16 para 24 no ano passado. Um total de 60% das mortes ocorreu na América Latina, o que significa que a região continua sendo a mais perigosa do mundo para quem luta contra a degradação ambiental.

O Brasil, que foi palco de conflitos particularmente sangrentos por terra nos últimos meses, mais uma vez saiu na frente, com o maior número de homicídios registrados: 49 casos. A Nicarágua teve a maior taxa de homicídios per capita: 11 e a Colômbia bateu recorde com 37 mortes em um ano, afirma o relatório.

“Esses relatórios contam uma história muito sombria. A luta para proteger o planeta está intensificando rapidamente e o custo dela pode ser calculado em vidas humanas”, comentou Ben Leather, assessor de campanhas da Global Witness.

“Eles [FARC] não eram ambientalistas, mas regulavam a atividade na região. Como tinham armas, as pessoas respeitavam”.

Na Ásia, em países como a Índia e as Filipinas, toda resistência contra grandes projetos de mineração tem sido combatida com repressão e violência sancionada pelo estado. Na Índia, o número de assassinatos triplicou e as Filipinas se destacam como o país mais letal da região, com 28 homicídios.

A exploração madeireira e a agricultura, incluindo a pecuária extensiva, também geram muitos conflitos, diz o relatório.

A paz é perigosa para a Colômbia

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo guerrilheiro colombiano, abandonaram o controle de vastos territórios rurais no ano passado como parte de um histórico processo de paz. No entanto, a decisão trouxe mais desmatamento e degradação ambiental para a região.

Em 2016, o desmatamento na Colômbia aumentou 44% em relação ao ano anterior, atingindo uma área de mais de 1.700 km2 (cerca de 180.000 hectares). As áreas vazias passaram a ser ocupadas por grupos criminosos envolvidos na exploração madeireira e na mineração ilegal, segundo dados recentes divulgados pelo Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais do governo colombiano (IDEAM).

As regiões amazônicas de Putumayo, Caquetá, Meta e Guaviare, no sul da Colômbia, foram as mais afetadas.

“Eles [FARC] não eram ambientalistas, mas regulavam a atividade na região. Como tinham armas, as pessoas respeitavam”, afirmou recentemente a ativista Susana Muhamad para o jornal The Guardian. Sob a vigilância das FARC, o desmatamento causado por civis limitava-se a dois hectares por ano, pois dessa forma o grupo conseguia manter a cobertura florestal que proporcionava proteção contra as forças do governo.

Pelo menos um especialista alegou que o relatório da ONG não distinguiu os ambientalistas assassinados das vítimas de conflitos agrários.

O aumento do desmatamento trouxe o aumento do número de assassinatos de defensores ambientais e da terra na Colômbia.

“O processo de paz na Colômbia alimentou, paradoxalmente, a violência contra aqueles que defendiam suas terras e o meio ambiente contra indústrias destrutivas”, afirma Billy Kyte, líder da campanha pelos defensores dos direitos ambientais e da terra da Global Witness.

Kyte explicou que as comunidades retornam para recuperar as terras perdidas durante o conflito armado, mas agora têm de enfrentar grupos paramilitares, grandes latifundiários e gangues criminosas que buscam lucrar com a abundância de recursos naturais.

“É imperativo que, antes de pensar em promover projetos de desenvolvimento que levam à degradação ambiental, o governo colombiano fortaleça o estado de direito na zona rural e torne as áreas seguras para as comunidades”, complementa Kyte.

Metodologia questionada

No início deste ano, pelo menos um especialista questionou a metodologia utilizada pela Global Witness em um relatório especial que detalhava a situação de Honduras. Foi alegado que o relatório não distinguiu os ambientalistas assassinados das vítimas de conflitos agrários.

“O relatório da ‘Global Witness’ não resiste à análise científica”, disse José Herrero, vice-presidente da fundação de conservação FUCSA, argumentando que a “confusão” que foi feita entre as categorias de vítima no relatório teve como objetivo inflar os números.

Kyte, que sofreu intimidação e foi ameaçado de prisão ao promover o relatório em Tegucigalpa, capital hondurenha, defendeu os métodos de coleta de dados usados pela Global Witness.

“Nós compilamos dados sobre os defensores de causas fundiárias e ambientais – pessoas que defendem a terra ou os direitos ambientais. Nossas definições e critérios para inclusão são e sempre foram muito claros – não registramos apenas os assassinatos de ambientalistas”, disse ele.

 

Este artigo foi publicado previamente por Diálogo Chino.

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