Enquanto isso, as temperaturas em regiões da Europa que ultrapassam níveis que a homeostase humana pode lidar ilustram a colisão entre a crise climática e a sanitária.
Sufocado por uma dúzia de anos de austeridade conservadora e a resposta incompetente do governo à Covid-19, o sistema público de saúde da Inglaterra, o NHS, apresenta listas de espera recordes. As unidades de pronto-socorro estão “à beira do colapso”, com ambulâncias fazendo fila do lado de fora dos hospitais, incapazes de entregar seus pacientes.
E com a oferta mundial de alimentos já abalada pela guerra na Ucrânia, a onda de calor também significa o agravamento da fome global.
A isso se soma as previsões de que os agricultores italianos devem perder um terço das culturas de verão, como arroz e milho — sem contar as perdas em Sardenha, cujos campos foram assolados por gafanhotos. Na China, as altas temperaturas estão secando o solo, devastando sua agricultura. A África Oriental está passando por uma das estações chuvosas mais secas em 40 anos, que, combinada com o fato de que 40% do trigo consumido na África vem da Rússia ou da Ucrânia, deixa dezenas de milhões de pessoas com fome.
Os bilionários do setor alimentício e agrícola, por outro lado, aumentaram sua riqueza coletiva em 45% nos últimos dois anos, enquanto a gigante global de alimentos Cargill registrou um aumento de 63% em seus lucros no ano passado, seu melhor desempenho em quase 160 anos de história.
À medida que o mundo sai do modo pandemia, entra em uma nova fase do capitalismo global.
Para grandes empresas e bilionários, o estado de crise permanente apresenta uma oportunidade perfeita para o capitalismo de desastre, que os permite usar a a sensação avassaladora de que tudo está pegando fogo para saquear. Em outras palavras, para aumentar os preços enquanto mantém os salários baixos e extrair, extrair, extrair.
Mas este não é um futuro inevitável. O leve eco das promessas de reconstruir um mundo pós-pandêmico melhor pode ter desaparecido. Mas, diante da crise da política, as pessoas estão percebendo cada vez mais que não têm outra opção senão lutar por esse futuro.
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