
Padrão dos Descobrimentos. Lisboa. Domínio Público.
Salvaguardar o Património pode parecer um custo para alguns; extensos e fundamentados argumentos evidenciam que, com pensamento a longo prazo, existem inegáveis vantagens de ordem económica e social, intensificando a relação de pertença e identidade. Apagar o passado pode fracturar e destabilizar uma comunidade e a sua memória.
A Criatividade pode ajudar as pessoas, as organizações e a cidade como um todo a desbloquear o seu talento e, dessa forma, a se tornarem no melhor que podem ser. Podemos descobrir recursos ocultos e conduzir a um processo de inovação.
A maneira como o Património e a Criatividade interagem juntos requer o desenvolvimento de uma linguagem comum e de uma compreensão mútua do que cada um tem para oferecer ao outro. Sabemos, de facto, que edifícios antigos reabilitados e reutilizados, quer sejam industriais ou até mais nobres, tornam-se frequentemente em pólos inovadores que se transformam em centros nevrálgicos da cidade expressando a sua vivacidade e vitalidade.
Dilemas
Quando se trata de ligar o Património, a Criatividade e a cidade, surgem vários dilemas:
- Como considerar a arquitectura contemporânea no contexto da cidade? Que exemplos existem que nos podem ajudar a pensar este assunto
Após um longo período em que a tendência dominante foi alargar os seus limites, Lisboa acordou nos últimos 5 anos para a reabilitação. Hoje, por toda a cidade podemos ver como Lisboa se reinventa, com obras de reabilitação a ser feitas e edifícios velhos dando lugar aos novos. É sem dúvida uma mudança de paradigma.
O município aprovou recentemente novos regulamentos, e os mesmos parecem funcionar. Mas tendo em conta o grau e a escala da transformação do panorama urbano, há pessoas que discordam com muitas intervenções, que não entendem a sua lógica ou sentem que essas intervenções não respeitam o contexto social e histórico da cidade. Como devemos lidar com a arquitectura disruptiva?
2. Como conciliar as preocupações arqueológicas com as necessidades dos promotores? Que exemplos de boas práticas existem?
Existe uma crescente preocupação pelo património, estando as autoridades alertas, tendo diversos projectos sido paralisados devido a restrições arqueológicas. Estamos a falar duma cidade antiga e sensível, onde é frequente encontrar-se vestígios arqueológicos. Estas questões criam tensão com as autoridades de protecção do património. Como podemos evitá-lo?
3. Como pensar na mobilidade urbana para a cidade de Lisboa, oferecendo alternativas ao automóvel que sejam práticas e eficientes?
O espaço público tem sido objecto de uma intensa intervenção, praças em processo de renovação, árvores a serem plantadas em antigos eixos, ciclovias e mais extensos passeios pedonais. Por outro lado, o automóvel tem sido desencorajado e condicionado em determinadas partes centrais da cidade e em bairros antigos. Há, no entanto, quem pergunte se não deveríamos ter investido primeiro na extensão e melhoria da rede de transportes públicos. Existem alternativas viáveis para o automóvel?
4. Como garantir a diversidade económica no coração da cidade? Que bons exemplos nos podem fazer pensar?
Devido a uma crise económica duríssima, muitas empresas tradicionais desapareceram e foram substituídas por empresas orientadas para o turismo. Pese a emigração sem precedentes dos nossos jovens (a nossa geração mais qualificada de sempre), aqueles que ficaram têm muito que oferecer aos bairros onde estabelecem os seus negócios e desenvolvem as suas ideias. Que podemos fazer para garantir que estas novas iniciativas e outros sectores tradicionais não são postos de lado por aqueles negócios que se concentram exclusivamente no turismo? Onde está o limite? Que leis devem ser implementadas para garantir a diversidade económica?
5. Como promover a sustentabilidade social num contexto de valorização imobiliária? Que bons exemplos e boas práticas existem?
Finalmente, devemos abordar as questões da coesão e sustentabilidade social. Num contexto em que os bancos mais dificilmente emprestam e cada vez é mais caro comprar ou arrendar, conseguirão os cidadãos comuns adquirir casa no centro da cidade? Os jovens terão meios para constituir família na cidade? Poderão os idosos continuar a viver na cidade? Não deveríamos investir mais em cidades inclusivas e em garantir que as cidades respondem às necessidades de todos, não só dos turistas e dos milionários?

Lisboa, Portugal. Domínio Público.
O Futuro da Cidade
Tal como o Charles Landry escreve no seu livro “As Origens e os Futuros da Cidade Criativa”, as cidades enfrentam crises que não podem ser resolvidas recorrendo às soluções e metodologias de sempre.
Significa isto que, para além do sistema de planeamento urbano, a cidade tem de repensar o desenvolvimento da comunidade, do sector empresarial, tal como o papel das instituições culturais. Pontos de vista simplistas e a curto prazo no sentido de maximizar lucros não mobilizam, nem permitem aproveitar o potencial; estratégias rígidas de planeamento podem reduzir a capacidade que as pessoas têm para serem empreendedoras; as abordagens tradicionais em relação à maneira como as instituições culturais operam podem ser também desencorajantes para a comunidade criativa.
As cidades enfrentam crises que não podem ser resolvidas recorrendo às soluções e metodologias de sempre.
Grandes lugares têm cinco qualidades: são lugares de ancoragem e distinção; lugares de conexão e reconexão; lugares de possibilidade e potencial; lugares que fomentam o crescimento e a aprendizagem pessoal, e lugares inspiradores. Só combinando o património e a criatividade é que podemos tornar isto realidade.
Esperamos que o seminário que terá lugar em Lisboa em Junho para abordar esta questões nos proporcione novas formas de entender o desafio ao que nos enfrentamos, e nos ajude a combinar com sucesso a Criatividade e o Património para fazer de Lisboa um modelo para o mundo. Sem nunca esquecer um dos recursos mais importantes que as cidades têm – os seus habitantes.
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