Depois que o The Intercept Brasil divulgou reportagens de grande sucesso sobre alegações de comportamento impróprio e possíveis ações ilegais de alguns dos investigadores por trás do maior escândalo de corrupção do país, incluindo o atual ministro da Justiça, surgiram rumores de que a polícia planejava abrir uma investigação sobre o meio de comunicação para identificar suas fontes, e Bolsonaro sugeriu que o cofundador e editor Glenn Greenwald pudesse “pegar uma cana” [cumprir pena de prisão].
O presidente, seus filhos - incluindo um deputado federal e um vereador - e aliados próximos continuam atacando jornalistas, em declarações públicas e no Twitter, quase diariamente. Enquanto isso, os apoiadores compartilharam as informações pessoais dos jornalistas, incluindo endereços residenciais, e instaram outras pessoas a "fazer uma visita" a eles; funcionários não-cooperativos e esforços para reverter as leis de liberdade de informação tornaram muito mais difícil para os jornalistas ter acesso a informações básicas.
Os alarmes no Brasil começaram a soar no ano passado, durante uma campanha presidencial contenciosa que envolveu brigas físicas em eventos de campanha e culminou em um agressor esfaqueando Bolsonaro em um comício poucas semanas antes da eleição. A organização brasileira de liberdade de imprensa Abraji documentou mais de 150 incidentes de ameaças e ataques contra repórteres que cobriram a campanha eleitoral de 2018. Essas agressões foram divididas quase igualmente entre violência física e campanhas de assédio online - uma ilustração clara da realidade que, para os repórteres brasileiros, o perigo vem de vários lados.
A maior nação da América do Sul dificilmente seria considerada um paraíso para a imprensa antes das eleições: desde 2010, 25 jornalistas brasileiros foram assassinados em conexão com seu trabalho, e o CPJ ainda está investigando outros 11 homicídios. A grande maioria dos casos de jornalistas mortos - a maioria repórteres do interior e de pequenas cidades - nunca foi solucionada. Por nove anos seguidos, o Brasil apareceu no Índice de Impunidade do CPJ, uma análise anual que classifica os Estados com os piores registros de processar judicialmente os assassinos de jornalistas.
O sistema judiciário brasileiro deu alguns passos na direção certa, com várias condenações de alto nível nos últimos anos, mas é improvável que esses números melhorem no futuro próximo, pois Bolsonaro deixou claro que vê a imprensa, na melhor das hipóteses, como um incômodo e, na pior, como um adversário a ser derrotado. À medida que os incidentes de abuso racial e de violência contra mulheres e a comunidade LGBTQ continuam aumentando, a mídia brasileira tem boas razões para temer o mesmo.
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