democraciaAbierta

Nayib Bukele e o obscuro dinheiro venezuelano

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, recebeu US$ 1,9 milhão de uma empresa financiada pela Alba Petróleos, que por sua vez é bancada por dinheiro da estatal venezuelana PDVSA e é investigada por lavagem de dinheiro e ativos no país da América Central e nos Estados Unidos. Español English

30 Setembro 2019, 7.04
Nayib Bukele, que venceu as eleições prometendo combater a corrupção, recebeu milhões em transações suspeitas de uma companhia ligada à petrolífera venezuelana PDVSA. 02/02/2019
|
Foto: Wu Hao/Xinhua News Agency/PA Images. Todo os direitos reservados

Uma investigação da Revista Factum revelou que Nayib Bukele, que assumiu a presidência em junho, recebeu US$ 1,9 milhões da Inversiones Valiosas S.A. (Inverval) em 2013, quando era prefeito da pequena cidade de Nuevo Cuscatlán, perto da capital. A Inverval é de propriedade da Alba Petróleos, uma subsidiária da Petróleos de Venezuela S.A. com sede em El Salvador. (PdVSA), a empresa de petróleo estatal venezuelana que está sob pesadas sanções pelo Departamento do Tesouro dos EUA por ser um veículo de corrupção.

Os laços entre Bukele e Alba Petróleos surgiram em maio de 2019, depois que a Promotoria Geral de El Salvador abriu uma investigação sobre lavagem de dinheiro em 23 empresas, incluindo a Inverval.

A Inverval canalizou o dinheiro para Bukele - uma estrela em ascensão no então partido no poder, Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, de esquerda - como doações de campanha. Inverval também fez doações para uma empresa pertencente a um amigo da família de Bukele e outros associados próximos, que agora servem no gabinete do presidente.

No total, Bukele e seus associados receberam mais de US$ 3 milhões da Inverval, de acordo com a Factum.

Parte desses fundos foi usada por Bukele para investir na Starlight, uma empresa também financiada com capital venezuelano. Starlight é dono da estação de televisão TVX, que Bukele usou para promover sua carreira política.

O dinheiro da Inverval também financiou empreendimentos imobiliários de luxo em Nuevo Cuscatlán quando Bukele era prefeito. Um executivo da Inverval disse que doou US$ 500 mil ao gabinete do prefeito, segundo a Factum. Por sua vez, a Inverval estava isenta do pagamento de impostos sobre os empreendimentos imobiliários.

Inverval e Starlight foram quase inteiramente financiados com fundos da Alba Petróleos, de acordo com arquivos da Procuradoria Geral da República. A Alba Petróleos foi fundada em 2006 pela PdVSA como parte de uma campanha internacional de subsídios pela qual o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, manteve alianças políticas na América Central e no Caribe.

Em março de 2019, a Alba Petróleos e a Albanisa, subsidiária da PdVSA na Nicarágua, foram sancionadas pelo Departamento do Tesouro dos EUA como parte de suas medidas contra a PdVSA.

Depois que a Factum publicou sua investigação, Bukele admitiu ter recebido US$ 1,9 milhão da Inverval. O dinheiro, ele alegou, tinha sido para a venda da Starlight, que ele disse que pertencia a ele. No entanto, Bukele nunca foi registrado como proprietário da Starlight, tendo apenas atuado como seu fiador, segundo uma investigação da El Faro.

Em uma coletiva de imprensa, Bukele disse que o acordo havia acontecido antes das acusações surgirem contra a Alba Petróleos e que ele havia negociado exclusivamente com a Inverval.

"Para ser sincero, qual empresa não recebeu dinheiro da Alba Petróleos... se vocês se recordam, na época a Alba Petróleos entrou no mercado salvadorenho com bilhões de dólares e investiu em outras empresas", disse o presidente.

As suspeitas de que a Alba Petróleos estava envolvida em lavagem de dinheiro surgiram pela primeira vez em 2010, segundo um pedido da Procuradoria Geral da República em maio para explicar sua investigação sobre as finanças das 23 empresas.

No total, Bukele e seus associados receberam mais de US$ 3 milhões da Inverval, segundo a Factum.

Análise da InSight Crime

Os laços entre o presidente de El Salvador e a Alba Petróleos fizeram soar os alarmes sobre potencial corrupção no novo governo do país. Com apenas quatro meses de mandato, Bukele permanece extremamente popular, com um índice de aprovação entre 80 e 90%.

Desde essas revelações, uma nova investigação de El Faro conectou Bukele a dinheiro proveniente de associados de Herbert Saca, um dos operadores políticos mais questionáveis de El Salvador. No passado, a Saca estava ligada à facção narcotraficante de Perrones. Ele também teria participado de um círculo de corrupção que subornou parlamentares durante o governo do ex-presidente Mauricio Funes entre 2009 e 2014.

À medida que essas revelações vieram à tona, o governo de Bukele tentou impedir que jornalistas da Factum e El Faro realizassem seu trabalho, inclusive impedindo-os de participar coletivas de imprensa oficiais.

Como parte de sua agenda anticorrupção, Bukele anunciou em setembro seu plano de criar uma comissão internacional anticorrupção, semelhante à Comissão Internacional contra a Impunidade (CICIG), na Guatemala, apoiada pelas Nações Unidas. No momento, essa comissão existe apenas no papel e não está claro qual independência terá, de acordo com a Factum.

Por enquanto, essas transações financeiras suspeitas representam um duro golpe para Bukele e sua promessa de varrer a corrupção em El Salvador.

***

Este artigo foi publicado anteriormente em inglês no inSight Crime. Leia o original aqui

We’ve got a newsletter for everyone

Whatever you’re interested in, there’s a free openDemocracy newsletter for you.

Assine nossa newsletter Acesse análises de qualidade sobre democracia, direitos humanos e inovação política na América Latina através do nosso boletim semanal Inscreva-me na newsletter

Comentários

Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy
Audio available Bookmark Check Language Close Comments Download Facebook Link Email Newsletter Newsletter Play Print Share Twitter Youtube Search Instagram WhatsApp yourData