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As mudanças climáticas aumentam o risco do vírus Zika

22 países latino-americanos relataram vários casos de Zika. À medida que a temperatura global sobe e as regiões do planeta aquecem, a emergência toma uma dimensão internacional. English Español

Nadia Pontes
9 Fevereiro 2016
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Mosquito transmissor do virus zika, dengue e chinkungunya (image: Sanofi Pasteur )

A explosão do número de casos de microcefalia na América Latina e Caribe virou uma emergência internacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que a falta de vacinas e de testes rápidos que diagnostiquem a doença são os principais motivos para que o mundo fique em estado de alerta.

Mais uma vez, essa grande ameaça à saúde humana começa com a picada do mosquito aedes aegypti. O inseto, que também transmite dengue e chinkungunya, pode infectar pessoas com o vírus zika. Existem fortes evidências de que esse vírus esteja causando microcefalia em recém-nascidos.

Pesquisadores da área de infectologia ainda tentam entender como o zika em mulheres grávidas provoca a malformação congênita. “Todos concordam sobre a urgência de se coordenar esforços internacionais para investigar e entender melhor essa relação”, declarou a chefe da OMS Margaret Chan.

Por enquanto, a única defesa contra o zika é manter distância do mosquito. Mas à medida que a temperatura global sobe e regiões do planeta ficam mais quentes, o aedes aegypti chega cada vez mais perto. Isso faz com que um outro grupo de cientistas olhe para o mapa global com preocupação extrema.

“O aquecimento global afeta a abundância e distribuição dos vetores da doença, aumentando assim a incidência de doenças infecciosas e ampliando as áreas geográficas em risco”, afirma Fiona Armstrong, diretora executiva da Aliança Clima e Saúde, baseada na Austrália.

O calor e a umidade associados à mudança climática criam condições ideais para a procriação de mosquitos, acrescenta Armstrong. “À medida que regiões que antes eram mais secas e frias passam a registrar temperaturas mais elevadas e mais chuva, mosquitos expandem suas áreas de reprodução, o que aumenta o número de populações de risco.”

Ritmo de expansão

A OMS estima que até quatro milhões de casos de zika serão registrados nas Américas nos próximos 12 meses. Cerca de 80% dos infectados não apresentam sintomas e, quando eles aparecem, o paciente tem febre, vermelhidão na pele (exantema) e conjuntivite.

Pelo menos 22 países latino-americanos reportaram casos de zika – o Brasil é o mais afetado. Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde confirmou a relação entre o vírus e o surto de microcefalia na região Nordeste. Desde então, 3.448 casos suspeitos de microcefalia estão sendo investigados em todo o país. Acredita-se que o zika  tenha chegado ao Brasil com um turista asiático durante a Copa do Mundo de 2014.

Pesquisadores nos Estados Unidos temem que o vírus se espalhe rapidamente pelo território. Um estudo feito por Davidson Hamer e Lin Chen, do Boston Medical Center, afirma que o risco de difusão do zika é elevado devido à presença do mosquito aedes aegypti e aedes albopictus em vários estados. E, dentro de alguns meses, será verão no hemisfério norte, época apropriada para reprodução do mosquito.

Segundo a rede de noticias China Network Television (CNTV), autoridades locais monitoram o risco de o vírus chegar à China, embora nenhum caso tenha sido registrado no pais até o momento. O ministério das Relações Exteriores chinês já se colocou à disposição para ajudar as autoridades latino-americanas no que for possível, inclusive, na busca de vacinas para combater a doença.

O zika foi descoberto em Uganda, África, em 1947. O primeiro surto em humanos foi registrado apenas em 2007. O vírus passou então a circular pela Ásia e deixou pelo menos 19 mil infectados na Polinésia Francesa em 2013, onde as primeiras associações com microcefalia foram feitas.

Além da malformação congênita, acredita-se que o zika também provoque a síndrome de Guillain-Barre, uma doença neurológica que pode resultar em paralisia temporária ou definitiva.

Mais pressão

Autoridades ainda têm dificuldade para prever qual proporção o surto de zika pode atingir. Para o pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório do Clima e da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, o histórico da dengue pode dar algumas pistas.

“Temos observado que as áreas de transmissão de dengue estão se expandido pelo mundo todo. No Brasil, a dengue está chegando cada vez mais para o sul e em cidades mais altas, que antes eram mais preservadas”, comenta Barcellos. “Isso é possivelmente um efeito das condições climáticas sobre a saúde.”

Estudos já apontam o sul da China e o Sudeste Asiáticos como áreas de transmissão da dengue, assim como o norte da Austrália. Ou seja, já que o mosquito vetor habita essas regiões, pode ser que o zika também provoque um grande número de infectados.

“É impressionante como o aedes está adaptado na cidade. Ele tem um ciclo de uma a duas semanas – nesse período, deixa de ovo e sai voando e picando as pessoas. E as cidades têm um ambiente propício pra ele se reproduzir”, acrescenta Barcellos.

Segundo pesquisadores, a estimativa é de que as mudanças climáticas coloquem ainda mais pressão sobre os sistemas públicos de saúde, o que vai dificultar a alocação de recursos para o combate de novas doenças principalmente em regiões subdesenvolvidas do globo.

Em países latino-americanos e ainda em desenvolvimento como Brasil e Colômbia, que sofrem com o aumento de casos de microcefalia provavelmente em decorrência do vírus zika, a situação pode se complicar no futuro.

“Eu acredito esses são exemplos de como lideranças políticas e autoridades de saúde têm subestimando a amplitude e complexidade associadas com riscos para saúde humana que um planeta mais quente traz”, completa Fiona Armstrong.

Este artigo foi publicado anteriormente pelo Diálogo Chino.

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