A temporada de queimadas chega em um momento em que as exportações de soja e carne bovina brasileiras estão em alta, aumentando a preocupação de investidores estrangeiros e líderes empresariais de que eles estão lucrando com a destruição da Amazônia.
Ao mesmo tempo, o Brasil está se esforçando para mudar a narrativa em torno da crise. “Essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”, disse o presidente Bolsonaro em uma reunião recente. A temporada deste ano, contudo, mais uma vez atrai atenção para os graves problemas ambientais do Brasil.
Então o que mudou?
O que mudou na temporada de queimadas deste ano?
A maior diferença este ano é que há mais madeira para queimar.
Quando líderes políticos e empresariais do mundo todo expressaram indignação quanto à inabilidade brasileira de acabar com as queimadas na Amazônia, ex-capitão do Exército Bolsonaro agiu da única maneira que sabia: enviou os militares.
Dados sugerem que os militares ajudaram a mitigar as queimadas nos meses seguintes, mas não foram além disso. Eles não interromperam o desmatamento, que seguiu aumentando, e não levaram os responsáveis à Justiça. Isso significa que, este ano, os fazendeiros e grileiros estão livres para queimar toda a floresta que queriam ano passado, além de todas as árvores que derrubaram desde então.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) calcula que cerca de 9.062 quilômetros quadrados de floresta desmatada foram abandonados para as queimadas em agosto deste ano. Se apenas 60% dessas árvores pegarem fogo, a temporada deste ano será tão ruim quanto a do ano passado. Se tudo queimar, contudo, pode haver uma “calamidade sanitária sem precedentes” na região, intensificando os efeitos da Covid-19, afirma o Ipam.
A indignação mundial do ano passado fez alguma diferença?
Sim, mas não houve mudanças significativas em políticas públicas ou nas margens de lucro do agronegócio.
Investidores do Brasil e do exterior reagiram com veemência à incapacidade do governo de controlar o desmatamento e as queimadas. As ligações entre a destruição ambiental e as cadeias de abastecimento dos principais nomes
O Brasil proibiu queimadas na Amazônia após um grupo de investidores globais afirmou estar preocupado com o desempenho ambiental do país — uma medida que tem pouco potencial de fazer efeito, já que boa parte das queimadas já era ilegal.
No entanto, a inação por parte do governo levou a Nordea Asset Management, braço de investimento do maior grupo de serviços financeiros da Europa, a abandonar a JBS, maior produtora de carnes do mundo, em julho. O HSBC também alertou os investidores sobre o risco de investir na JBS, argumentando que a empresa não conseguia monitorar sua própria cadeia de abastecimento em busca de conexões com atividades ilegais. A chinesa Cofco, uma das maiores tradings do Brasil, prometeu tornar sua cadeia de abastecimento de soja totalmente rastreável até 2023.
Ainda assim, há poucos indícios de que os investidores retiraram quantias significativas de dinheiro do Brasil por causa de questões ambientais, e as exportações de produtos agrícolas estão crescendo, mesmo que suas ligações com o desmatamento ilegal estejam se tornando mais evidentes.
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