Porém, segundo o Observatório do Código Florestal, organização que atua no combate ao desmatamento, a exclusão de Mato Grosso da zona de proteção implicaria na liberação de, no mínimo, dez milhões de hectares (ha) de Amazônia para o desmatamento. A lei também perdoaria o desmatamento ilegal na região, reduzindo em 3,3 milhões ha as áreas a serem restauradas.
Enquanto isto, o desmatamento segue avançando de forma acelerada sobre o bioma. Dados do governo federal, indicam que, em abril, o desmatamento na floresta tropical aumentou 74,5% em relação ao mesmo mês de 2021. A área total de 1.012,5 quilômetros quadrados desmatados foi a maior desde que o sistema começou a funcionar em 2015.
Pesquisadores avaliam que o aumento do desmatamento impulsionaria a seca regional e provocaria perdas agrícolas da ordem de US$ 2,7 bilhões ao ano. “O aumento do desmatamento não implicaria em maior produção agrícola e ganho econômico — pelo contrário, geraria perdas em áreas já consolidadas e prejuízos de grande monta”, diz a nota técnica do observatório.
Propostas de flexibilização ambiental e discursos contra a Amazônia abrem caminho para um sentimento de permissividade da devastação, segundo Alice Thuault, diretora-executiva do Instituto Centro de Vida, organização que atua com políticas públicas ambientais.
“Os projetos são baseados em um discurso simplificador e cheio de mitos, como o mito de que o Brasil precisa produzir para alimentar o planeta”, afirmou Thuault.
Na avaliação de Herman Oliveira, secretário-executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, propostas de abertura de áreas protegidas para impulsionar setores agrícolas na Amazônia “são ideias eleitoreiras”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto, e Bolsonaro farão uma disputa polarizada nas eleições de outubro. Apesar de Lula antagonizar com o atual presidente, Oliveira avalia que o debate sobre Amazônia ainda é pouco presente no discurso do petista. Entre suas propostas, está a criação de um “Ministério Indígena”.
“É óbvio que se colocar o governo Bolsonaro em contraste com qualquer outro em matéria ambiental, este foi o governo mais desastroso que já existiu”, disse Oliveira. “Mas olhando para Lula, não há proposta ambiental. Ele tem proposta social, econômica, mas não ambiental”.
Já Thuault diz que a situação se tornou tão dramática que é preciso garantir pelo menos a manutenção de elementos democráticos no país. Nesse cenário de terra arrasada, qualquer sinalização de manutenção da democracia seria um alívio:
“É muito óbvio para todo mundo que é preciso reconstruir a governança ambiental no Brasil porque ela sofreu nos últimos anos um processo muito claro de desconstrução, aparelhamento e má gestão”.
Este artigo foi originalmente publicado no Diálogo Chino.
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