Conhecemos Andrith, um ex-policial, sua companheira Patricia e seu filho de 3 anos na fronteira entre o Equador e o Peru em abril de 2019. Tendo andado e pegado carona desde a Venezuela, chegaram sem passaporte e com recursos financeiros extremamente limitados. Quando o confinamento foi declarado, Andrith estava vendendo pulseiras em ônibus e foi completamente pego de surpresa: “nos pegou desprevenidos. Vivemos um dia após o outro. Não tínhamos dinheiro nenhum guardado… Essas semanas foram muito difíceis. Houve dias em que não tínhamos o que comer".
Apesar do apoio público inicial às medidas de emergência, incluindo o apoio dos venezuelanos, altos níveis de pobreza e vulnerabilidade dificultaram a conformidade. De acordo com uma pesquisa realizada por Equilibrium CenDe em 23 de março, uma semana após começar o confinamento, 37% dos migrantes venezuelanos declarou que suas casas estavam sem comida.
Em uma segunda pesquisa, realizada em 18 de abril, apenas 5% dos migrantes tinha dinheiro suficiente para comprar comida para suas famílias. A mesma pesquisa, realizada em 15 de junho, mostrou que 43% havia perdido o emprego.
De acordo com um estudo de rastreamento em andamento sobre a integração socioeconômica dos imigrantes venezuelanos que estamos realizando na Universidad del Pacífico, juntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cerca de 10% passou fome durante a quarentena.
Além disso, o acesso a serviços públicos, incluindo assistência médica, é altamente limitado e os migrantes carecem de redes de apoio social. Pouco antes do surto de Covid-19, três em cada quatro entrevistados estavam preocupados em não ter acesso ao sistema público de saúde. É importante ressaltar que, devido ao status legal irregular ou precário, 65% dos entrevistados temia procurar assistência médica em caso de doença.
Também houve relatos de venezuelanos que, ao entrar em contato com as unidades de saúde locais para solicitar exames, tiveram sua atenção negada por não portar um documento específico de residência (carné de extranjería). A exclusão da população de migrantes e refugiados do sistema público de saúde do país não só é discriminatória, mas também é prejudicial aos esforços para conter a disseminação da Covid-19.
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