São Félix do Xingu é um município superlativo da Amazônia brasileira: é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do país; o segundo com mais desmatamento médio nos últimos 15 anos; líder nacional em rebanho bovino; e um dos municípios com menor desenvolvimento humano na região.
O município é ainda um claro exemplo da condição do Pará. Desde 2006, o estado é o líder em desmatamento da Amazônia, impulsionado pelo avanço da pecuária, da soja e da construção de estradas e portos para facilitar o escoamento da produção para os mercados doméstico e internacional.
Mas com a crescente pressão para se reverter a devastação do bioma e a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que prometeu colocar as questões ambientais no topo de sua agenda —, o governador Helder Barbalho parece empenhado em dar um verniz mais verde ao estado.
Em novembro de 2022, Barbalho participou da conferência climática COP27, integrando a comitiva de Lula, que ofereceu a Amazônia brasileira para sediar a COP30 em 2025. Se o país for escolhido, Belém, capital do Pará, receberá o evento. Barbalho também aproveitou a conferência para anunciar o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio), que visa zerar as emissões líquidas de uso da terra no estado até 2036.
O plano teria como foco evitar o desmatamento por meio da valorização da bioeconomia, ou seja, a economia da floresta em pé. Nos próximos cinco anos, ele espera investir R$ 1,2 bilhão em produtos da biodiversidade, com um retorno estimado de R$ 170 bilhões até 2040, o equivalente ao PIB do estado.
A iniciativa é inédita a nível governamental — a maioria dos projetos que impulsionam a bioeconomia é assumida por organizações ambientais e comunidades tradicionais em escalas menores.
Será que o modelo econômico — e a imagem do estado como grande desmatador — estão prestes a mudar?
Para Celma de Oliveira, coordenadora de projetos da organização ambiental Imaflora e moradora de São Félix do Xingu, há um cenário promissor nas esferas federal, com a eleição de Lula, e estadual, com o PlanBio. “Existe esperança com essa retomada de um governo mais participativo e de ministérios e conselhos que foram desarticulados”, diz Oliveira, referindo-se ao esvaziamento de órgãos ambientais durante a presidência de Jair Bolsonaro. “Agora, a sociedade civil precisa participar da gestão para funcionar”.
Pecuária, soja e pressões sobre pequenos produtores
A pecuária e a soja são predominantes na paisagem paraense. As lavouras do grão ocuparam 849 mil hectares em 2022, aumento de 70% em relação a 2017. Além disso, o estado tem o segundo maior rebanho bovino do país, com 26,7 milhões de cabeças de gado e uma taxa de 1,5 cabeça por hectare — considerado de baixa produtividade.
“Essa taxa de lotação da pecuária paraense é muito baixa e precisaria ser dramaticamente melhorada para evitar crescer todo ano pela expansão de terra”, diz Sérgio Leitão, fundador e diretor-executivo do Instituto Escolhas, que desenvolve estudos voltados para o desenvolvimento sustentável.
Em meio a essa contínua expansão, muitos pequenos agricultores no Pará fazem o possível para resistir à tentação de se voltar para a produção de soja e gado e desmatar a terra.
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