Ao mesmo tempo, o assassinato se dá em meio a uma série de tendências criminais preocupantes no país.
Primeiro, o Paraguai atravessa uma onda de mortes por encomenda. Em janeiro, o país registrou 25 assassinatos desse tipo, o equivalente a um a cada 28 horas. O número marca um aumento em relação ao recorde anterior: 23 em outubro de 2021.
Em abril, o chefe da polícia paraguaia, Gilberto Freitas, atribuiu a crescente onda de assassinatos por encomenda a conflitos entre gangues paraguaias, que conseguiram demover grupos brasileiros, como o PCC, antes de se voltarem uns contra os outros.
Em segundo lugar, embora os níveis de corrupção política no país sejam conhecidos, uma série de casos recentes fornecem exemplos concretos de seu alcance. A operação Ultranza, na qual Pecci trabalhou como promotor, implicou um ministro, funcionários do alto escalão do governo, elites empresariais e seus parentes. O próprio Pecci dirigiu algumas das operações em propriedades vinculadas a esses suspeitos.
A operação Ultranza é fonte de preocupação entre os implicados, e também entre potenciais suspeitos, como agentes da agência antinarcóticos do Paraguai explicaram no dia seguinte ao assassinato de Pecci.
“Há muita gente sentada em um teto de vidro a ponto de quebrar. E quando caírem, pessoas importantes e uma estrutura complexa também cairão”, disse um dos agentes, que falou sob condição de anonimato.
Terceiro, o país está no centro do tráfico de drogas na América Latina. Embora o Paraguai não seja produtor de cocaína, tornou-se um elo crucial no movimento de drogas entre a Bolívia e o Brasil. Isso deu origem aos mencionados conflitos entre grupos criminosos locais e brasileiros, como uma série de assassinatos brutais entre o PCC e o paraguaio Clã Rotela.
Previsivelmente, o influxo de traficantes e atores criminosos tem elevado as acusações de envolvimento de políticos no comércio de drogas. Em discurso no Senado no dia do assassinato de Pecci, Esperanza Martínez, deputada da coalizão de oposição Frente Guasú, declarou que "o narcotráfico mostrou seu poder com impunidade [...] não pode haver futuro ou desenvolvimento em um país controlado pelo narcotráfico e o crime organizado".
Este artigo foi originalmente publicado em inglês e espanhol por InSightCrime.
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