O WhatsApp é o ‘carro-chefe’ da comunicação de milhões de pessoas. Agora, o aplicativo emitiu um ultimato aos usuários
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No início de janeiro, um ultimato no aplicativo informou os usuários do WhatsApp que deveriam aceitar uma atualização que compartilharia mais de seus dados com seu desenvolvedor, o Facebook, ou teriam suas contas fechadas até 8 de fevereiro.
Dado o histórico do Facebook de publicidade intrusiva e incidentes de segurança, não foi nenhuma surpresa que concorrentes como Telegram e Signal relataram um aumento subsequente de usuários.
O WhatsApp tem sido o "carro-chefe" da comunicação de milhões de pessoas por mais de uma década, então as preocupações dos usuários não são um detalhe técnico – para muitos, é um serviço essencial.
Embora as políticas de compartilhamento de dados permaneçam inalteradas na UE e no Reino Unido devido a rígidas regulamentações de privacidade, as mudanças geraram ampla reflexão ao redor do mundo.
O WhatsApp diz que não há nada com que se preocupar. Uau, sério?
Diante da reação negativa, o WhatsApp estendeu o prazo de aceitação da atualização para 15 de maio e lançou uma campanha na mídia para eclipsar as críticas.
No entanto, essas iniciativas esclarecedoras pouco consolam. Você pode se surpreender ao saber quantos dados fluíram entre o WhatsApp e o Facebook desde 2016, quando ocorreu a primeira atualização da política de privacidade do aplicativo.
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Naquela época, o WhatsApp discretamente deu aos usuários 30 dias para "cancelar" seus planos de compartilhar dados com o Facebook. Todos os usuários que aderiram à plataforma de mensagens desde então – ou que perderam o curto período de cancelamento – tiveram seus dados compartilhados.
Clicar em "Solicitar dados da conta" nas configurações do WhatsApp gera uma lista de todas as informações que o WhatsApp sabe sobre você. É uma quantidade significativa de dados e inclui seu número de telefone, nome, foto de perfil, localização, números de telefone de seus contatos e nomes de grupos dos quais você participa.
A screenshot from WhatsApp's settings | openDemocracy. All rights reserved
Cinco cenários problemáticos de uso de dados
Ao contrário de alguns de seus concorrentes, o WhatsApp e o Facebook são, antes de mais nada, empresas voltadas à geração de lucro. Isso está em desacordo com a dependência incondicional dos usuários do aplicativo para socializarem em privado.
Aqui está um resumo dos usos problemáticos dos dados coletados pelas plataformas.
1) Entender seus interesses e estilo de vida para assediá-lo com anúncios
Traçar um perfil de um usuário é burlar seus sentimentos e decisões. Se você notou anúncios no Facebook ou Instagram, de propriedade do Facebook, que correspondem aos seus interesses atuais com uma relevância assustadoramente alta, é esse mecanismo em ação.
Além do mais, pelo menos fora da Europa, seus dados do WhatsApp podem ser usados para inferir informações sobre outras pessoas com quem você se comunica, entendendo potencialmente os interesses de uma pessoa através das atividades online de outra.
2) Reformular suas visões políticas
Se você achar isso rebuscado, lembre-se do escândalo Cambridge Analytica em que 87 milhões de dados de usuários do Facebook foram coletados para construir perfis psicológicos e explorar suas tendências políticas com anúncios no Facebook. Acredita-se que esse jogo sujo tenha influenciado a eleição presidencial dos EUA de 2016 e o referendo do Brexit, no Reino Unido. Não foi o Facebook que fez isso, mas a gigante da mídia social não fez nada para impedir que o vazamento acontecesse.
3) Mudar seu estado emocional
Em janeiro de 2012, o Facebook virou um laboratório para um experimento pouco ortodoxo. Durante uma semana, 689.003 usuários pré-selecionados foram expostos, sem saber, a materiais com tons de positividade ou negatividade em seus feeds. A ideia era determinar como esses tipos de conteúdo diametralmente opostos afetavam o humor das pessoas e suas postagens.
4) Determinar seu paradeiro e lugares que você frequenta para obter maior precisão de publicidade
Se você já notou anúncios do Facebook em seu smartphone promovendo uma loja quando você está em suas proximidades, esta "coincidência" tem um nome – geolocalização. A rede social usa os dados de geolocalização dos usuários para ajudar as empresas parceiras a emboscar clientes em potencial.
5) Perder seus dados em outra violação de segurança
Quando se trata de manter as informações pessoais dos usuários intactas, o Facebook deixou muito a desejar no passado e poderia facilmente voltar a fazê-lo no futuro. Vazamentos de dados em grande escala que exploram vulnerabilidades na arquitetura da rede social e outros incidentes colocam sua vida digital em risco.
A política do Facebook é política pública
Como se as práticas de dados atuais do WhatsApp não fossem escandalosas o suficiente, dar luz verde ao aplicativo para também compartilhar informações sobre pagamentos e transações de comércio eletrônico com o Facebook é um problema duplo.
Considerando o ultimato da empresa, bem como o fato de o aplicativo manter sociedades inteiras conectadas, o dilema de "aceitar ou rejeitar" torna-se difícil.
Isso não é apenas uma preocupação para o usuário comum, mas também está levantando preocupações em nível de Estado-nação. O governo da Índia e a agência de proteção de dados de Hamburgo bloquearam as mudanças propostas. Embora poucos governos tenham agido até agora, estes esforços acrescentaram um aspecto político à questão.
Em última análise, uma política de privacidade de um serviço que está estreitamente interligado com a vida de tantas pessoas é efetivamente uma peça de regulamentação pública e requer debate público. Gigantes tecnológicos como o Facebook devem estar atentos às opiniões dos usuários antes de impor mudanças que tenham impacto em sua privacidade e bem-estar digital.
Enquanto isso, é uma boa ideia dar uma olhada em outras opções. Dar uma chance a uma plataforma mais focada na privacidade é tanto um bom Plano B quanto uma boa maneira de acabar com o monopólio do Facebook.
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