Nos próximos meses, os líderes mundiais darão passos importantes para enfrentar as crises convergentes: desde a alocação de milhões em fundos de ajuda econômica até o investimento em novos sistemas de saúde. Regiões inteiras já estão abrindo caminho para uma transição verde. Muitos dos investimentos e infraestruturas do futuro terão soluções de tecnologia em seu núcleo. Portanto, é fundamental incorporar ações afirmativas em todas as fases dos processos.
Na Aliança <A +> para Algoritmos Inclusivos, propomos uma abordagem holística para resolver o problema da exclusão tecnológica a partir de suas raízes:
Pedimos que sejam tomadas medidas dinâmicas para incluir uma variedade intersetorial e igual número de mulheres e meninas na criação, design e codificação da tecnologia que desejamos. Além de incentivar mais investimentos e melhores estratégias para que mulheres e meninas adquiram habilidades: queremos mulheres diversas envolvidas proativamente em todos os processos de IA, moldando a tecnologia que afeta cada parte de nossas vidas.
Defendemos a participação enérgica de mulheres e meninas, de assentamentos a cidades, de zonas rurais a escolas primárias e secundárias e universidades, que possam informar melhor as decisões de projeto e implementação de autoridades governamentais e comerciais, engenheiros e equipes de gerenciamento, geralmente localizadas a quilômetros de distância das sociedades que estão tentando servir e dos problemas que estão tentando resolver.
Na Aliança <A +> para Algoritmos Inclusivos, acreditamos que não só há espaço, mas há uma necessidade urgente da experiência e contribuição, da participação e da co-criação de mulheres e meninas na linha de frente, em cada etapa do desenvolvimento e da implantação da IA.
Pedimos uma ação afirmativa para os algoritmos que corrijam o viés desde o momento de sua concepção. E algoritmos que resolvam os problemas de forma localizada, com definição do problema e projeto de solução com origem na linha de frente. Defendemos a adoção de diretrizes que estabeleçam justiça, responsabilidade e transparência para a tomada de decisões algorítmicas (ADM), tanto no setor público quanto no privado, abrindo e eliminando o viés da caixa preta dos algoritmos.
Não é necessário um diploma de matemática para ter vivido e compreendido as correções sistêmicas que precisam ser implementadas na sociedade, para incluir mais e para servir melhor. Combinando o conhecimento local da linha de frente feminista com equipes mais diversas e inclusivas compostas por cientistas da computação, especialistas em aprendizagem de máquinas, cientistas de dados e matemáticos, pode-se criar uma aliança para enfrentar e corrigir ativamente as desigualdades sistêmicas de gênero e raça. Este, em nossa opinião, é um caminho melhor do que tomar velhos sistemas e velhas suposições, otimizando-os e digitalizando-os com velhos preconceitos em escala, para logo – talvez – corrigir os preconceitos depois que o dano tiver sido causado.
Dado o ritmo no qual a IA e outros sistemas automatizados de tomada de decisão estão sendo implantados, precisamos semear o futuro que queremos com inclusão, multidisciplinaridade e diversidade de gênero, raça e classe. Estamos prontas para pilotar esse futuro, aproveitando a urgência do agora no trabalho de resposta à Covid-19 para criar sistemas mais democráticos e novos para que todos possamos prosperar.
Nossa proposta é razoável e possível de implementar: abra a sala de reunião e sente mulheres e meninas à mesa em que estão sendo decididas as próximas intervenções tecnológicas, incluindo intervenções de IA, para resolver as crises atuais. Teste um modelo participativo. Veja a diferença nos resultados que criam o futuro coletivo que merecemos. Veja e aproveite o potencial das mulheres e das meninas. Repita o processo uma e outra vez. Uma vez aberto um espaço para o pensamento inovador, o mundo verá surgir um milhão de Adas. Mas somente se criarmos já um ecossistema para que suas ideias floresçam.
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Este artigo é assinado por Renata Avila como membro do conselho consultivo da Aliança <A+>, junto com Caitlin Kraft-Buchman, Nuria Oliver, Elisa Celis e Nanjira Sambuli.
*<A+> é uma coalizão multidisciplinar, diversa, global e feminista de especialistas, acadêmicas e ativistas que trabalham para criar e aplicar Algoritmos de Ação Afirmativa (<A+>) que não apenas detectam, mas corrigem o viés de gênero na Inteligência Artificial e decisão automatizada. Lançada formalmente no Fórum de Governança da Internet de 2019, <A +> foi nomeada pela Fast Company uma das ideais que mudam o mundo de 2020 em IA e Dados, em junho de 2020, e é líder da Coalizão de Ação de Geração de Igualdade da ONU para tecnologia e inovação.
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