
Desenho no muro da EMEI Santos Dumont, rua Padre Chico, 50, em São Paulo. Obra do artista Paulo Ito. Jo Lorib/Wikimedia Commons. Alguns direitos reservados.
“Espreitado espremido entre arfantes dedos cliques expectativas E um mundo de desdobramentos claros vivos sons imagens revelações. Lá está aquela escuridão que precede a geração. (...) Emergir de longas águas límpidas profundas acompanhado por ondas de realidades ainda imaginarias impregnadas de vontades primais. Absorver. Receber. Agir. Tomar. Para dentro de si A alma do mundo à frente, escrutável silente explosão de aromas. Antes de abrir os olhos.”
-- “Segundo”, in A Língua do Pulsar
Leonardo Lopes da Silva nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro, em Campo Grande, onde viveu até os seus 28 anos de idade. De nacionalidade brasileira, professor por vocação, escritor por impulso, um literato e viandante, e familiarizado com o sentimento de ser um estrangeiro em terra estrangeira, o Leonardo escreve através de explosões de inspiração, valendo-se de influências literárias brasileiras, portuguesas, norte-americanas, britânicas, francesas, espanholas e russas, sendo ele mesmo descendente de portugueses, índios, africanos, e holandeses. Viveu em cidades tão diversas como o Rio de Janeiro, Londres e Moscovo, onde passou alguns anos, e agora reside em Lisboa.
Manuel Serrano: Leonardo, viveu em países muitos diferentes, entre povos e culturas distintas. Que aprendeu com essas experiências e como mudaram as mesmas a forma como compreende o mundo?
Leonardo Lopes da Silva: Uma das revelações mais marcantes que tive, enquanto caminhava pelas ruas de Londres sozinho, quando era adolescente, em 1997, foi esse estranho sentimento de que já estivera lá, e que cada pessoa que cruzava o meu caminho partilhava das mesmas pequenas lutas e alegrias que eu e meus compatriotas passávamos, que não éramos tão diferentes, afinal de contas. Eu cresci num mundo onde tudo estava claramente delineado, o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste, os ricos e os pobres, os países de primeiro mundo e os de terceiro mundo (os termos “desenvolvidos” e “em desenvolvimento” ainda não pertenciam ao imaginário popular da época).
Morar em Londres me mostrou que não há tais absolutos, e que as delimitações estavam ficando cada vez menos nítidas. É possível ser um cidadão em uma colcha de retalhos de cidade com uma riqueza de culturas e múltiplas nacionalidades, que estimula a liberdade pessoal, o respeito e a tolerância a culturas diferentes, mas que ainda erige fronteiras invisíveis para algumas áreas urbanas de acordo com a etnia ou classe social daqueles que lá vivem, e regras tácitas para relacionamentos e mobilidade (“Pra quê é que você vai fazer compras em Kilburn? Você não sabe que tipo de pessoas moram lá?”, me perguntaram uma vez. Ou “Eu não caminharia por Brixton nesta hora da noite se eu fosse você” ). E essa é a Londres que amei profundamente, a Londres que me impressionava tanto com cenas inusitadas como a de ver dois punks de cabelos laranja e azul beijando-se em estilo “Alien” , entre uma velhinha que calmamente lia com o rosto enfurnado no seu livro, e um homem da religião Sikh a afagar o seu rosário.
Eu cresci num mundo onde tudo estava claramente delineado, o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste, os ricos e os pobres, os países de primeiro mundo e os de terceiro mundo.
Neste sentido, compreendo que o Rio de Janeiro, a minha cidade natal, poderia muito bem ser vista como uma cidade mais igualitária, com uma geografia (as favelas e condomínios de classe alta compartilham o mesmo bairro por causa da falta de espaço entre as montanhas e o oceano, e a sua relação simbiótica) , e praias, que unem pessoas de todos os tipos, jeitos e cores. Esse meu entendimento mudou, entretanto. Creio que esteja relacionado à ideia de locais e pontos de encontro, que toda cidade que se preza oferece, que removem as tensões e diferenças entre todos os membros da sociedade. Londres tem os seus parques, bares e o metrô. O Rio de Janeiro tem as suas praias. Moscou, os seus desfiles e procissões de 9 de maio, e eventos cristão ortodoxos.
Então, voltando a aquela revelação principal, sinto que somos todos os mesmos, mas nos expressamos de formas distintas, com graus de introversão ou extroversão variados, em ambientes distintos, nos iludindo com a ideia que estamos a fazer algo único, com uma língua própria. O mais estranho de tudo isso é que estamos sempre a nos comparar uns com os outros, vendo o outro como superior ou inferior, mais ou menos cristão, mais ou menos muçulmano, mais ou menos civilizado, mais ou menos autêntico. A nossa formação cultural é a nossa benção e maldição.
Londres tem os seus parques, bares e o metrô. O Rio de Janeiro tem as suas praias. Moscovo, os seus desfiles e procissões de 9 de maio, e eventos cristão ortodoxos.
MS: O Brasil, o seu país de nascimento, está a passar por uma crise interminável, com a corrupção e a polarização política a tornarem-se comuns. Ao mesmo tempo, na Rússia, a liberdade de expressão e a participação política são constantemente postas em casa. O que nos pode dizer sobre estas duas crises aparentemente tão diferentes?
LLS: elas não são tão diferentes como se acredita. Ambas as crises são características de uma tendência, de um viés de estagnação e entropia no contexto democrático de ambos os países. A maioria dos russos, com algumas exceções bastante notáveis e heróicas, ficou cansada e cínica em relação a quanto pode ser atingido no seu país através do voto, já que o resultado é sempre percebido como mais do mesmo. O regime trabalha incessantemente para limitar ou eliminar opções viáveis ao seu status quo, e há riscos crescentes de que essa máquina tenha se tornado eficiente demais no seu desempenho. É um ambiente que tem desconfiança a mudanças bruscas, e onde os itens mais deploráveis na agenda política e econômica do mesmo – a supressão dos direitos dos “indesejáveis”, o controle quase completo da mídia pelo governo, e a insistência em uma política econômica baseada quase que unicamente na exploração de óleo e gás – são amortecidos pela distribuição de benefícios sociais a idosos numa população que está envelhecendo, e a constante expansão de infra-estrutura e serviços de ponta em um punhado de cidades privilegiadas (Moscou e Grande Moscou, São Petersburgo, Sochi, cidades chave na Sibéria e na parte europeia da Rússia), ao detrimento e com o empobrecimento do resto do país. É importante notar, entretanto, que nada disso é novo. Sempre aconteceu, de uma forma, desde a era tzarista, e continuará a acontecer, na mente de muitos russos. O que é conhecido será sempre melhor do que o imprevisto e o desconhecido, e eles tiveram uma lição muito dolorosa com a democracia e capitalismo “descontrolados” sob a égide de Boris Yeltsin, que resultaram em empobrecimento, espoliação e sucateamento de propriedade pública (?), e instabilidade econômica. A estabilidade parece estar sempre à frente das prioridades na mentalidade e no inconsciente coletivo russo, e deve ser atingida a todos os custos. O Vladimir Putin foi a resposta às orações deles.
O que está acontecendo no Brasil é um processo de despertar, mas também de rápida desilusão. Muitos brasileiros que saíram da miséria e da pobreza se uniram à classe média, protestando por mudanças, mas estão começando a descobrir que o sistema político foi “armado”, para usar um termo futebolístico, contra eles por um longo tempo, talvez desde o seu começo. Há a desilusão aterradora, a impressão de que todo e qualquer político é corrupto, ao menos aqueles que eles não apoiam. O Ricardo Boechat, um dos ancoras de jornal de notícias na mídia brasileira, chama isso de “futebolização da política” – as pessoas passam a consumir as notícias como se fosse um esporte, e tomar partido de um lado ou outro virou um passatempo nas mídias sociais, com “debates” truculentos e repletos de expletivas sobre qual lado é o melhor, como se estivessem torcendo pelo seu time de futebol de coração.
O que está acontecendo no Brasil é um processo de despertar, mas também de rápida desilusão.
Há os bolsomitos, os petralhas, os coxinhas, e esse tipo de histeria coletiva está gerando tanto barulho, tanta comoção, que está afastando as pessoas do engajamento político autêntico, assim como a crescente percepção de que não há alternativas disponíveis; isso dá vazão a precedentes perigosos no Brasil, como movimentos exigindo o retorno da ditadura militar no país, e revisionismo histórico – “eles (os generais que controlaram o Brasil de 1964 a 1985) não eram tão maus, eram?”; “ao menos, eles não eram tão corruptos, não é verdade?”; “a educação nas nossas escolas era melhor, não era?”; esses argumentos, bastante discutíveis estão sendo usados para lentamente desgastar e sabotar a confiança que os brasileiros têm em suas instituições democráticas. Este é o sinal mais assustador, uma vez que a população brasileira em 1964 também se encontrava dividida, e ofereceu-se o regime militar como uma solução para fazer a vida menos política, ou mesmo apolítica. Era uma aspiração dos militares – remover a política da equação, e fazer tudo mais previsível, mais racional, fácil de se planejar. Os homens serão homens, as mulheres, mulheres; os ricos ficarão mais ricos, e os pobres, mais pobres. Os mesmos rostos familiares estarão na TV e nas notícias, e a escória será varrida para debaixo do carpete, ou encarcerada nos porões subterrâneos.
A ânsia por segurança. Por algo estável. Parece familiar, não é verdade?
MS: Leonardo, o que o levou a tornar-se um escritor? Foi a sua família, o facto de ter vivido numa cidade como o Rio, uma comunidade muito unida? Quando, e como, encontrou a sua voz?
LLS: Diria que ler muito me impeliu a escrever. A minha mãe me estimulou a ler quando eu era muito jovem, e não parei de fazê-lo desde então. Mas eu não comecei a escrever até que uma professora muito querida (obrigado, Monica Janara) me pediu para enviar um poema para o concurso de escrita literária da minha escola. Com esse poema, que achei, e ainda acho, bastante ordinário (com o título “Debaixo da Noite Estrelada” ), ganhei o primeiro prêmio na minha categoria. Por causa disso, tento inventar formas diferentes de dizer as mesmas coisas desde aquela ocasião. Usei elementos da minha vida no Rio para montar o ambiente poético, mas esses elementos nem sempre foram as forças principais.
Encontrei a minha voz poética bastante cedo, quando tentava pôr os meus sentimentos por garotas e mulheres no papel, e já fui verborrágico, contido, revoltado, meditativo, espiritual, passional, surreal. Escrevi os meus poemas inspirado por musas, pais poéticos, e escritores que li compulsivamente, as imagens que queimavam intensamente na minha mente. Eu creio que escrever é uma experiência esclarecedora, experimental – eu diria até masturbatória ? – onde o(a) escritor(a) se esfrega e se coça contra a realidade e as forças ditatoriais dos sentidos para tentar impor a sua própria visão de mundo, afogar, e cativar o leitor com uma verdade crua e retumbante que apenas ele(a) e o seu leitor(a) podem vivenciar. Peço desculpas pela imagem, porém acho difícil de evitar usá-la. Desde que comecei a escrever, desenvolvi um certo tipo de cegueira e ignorância pelo trabalho de outros autores contemporâneos, uma má leitura involuntária de seu trabalho, e cultivei uma relação quase religioso com poetas e escritores mortos. Virei um tipo de sectário virulento em relação aos meus escritos, ultrazeloso ao ponto de não os compartilhar com ninguém a não ser um punhado de pessoas seletas.
A ânsia por segurança. Por algo estável. Parece familiar, não é verdade?
Felizmente, com a idade, veio a maturidade de soltá-los e dividi-los com o mundo. Escrever às vezes me parece ser o ato mais extremo de amor próprio. Você fica produzindo páginas e mais páginas de perspectivas próprias, teimosamente, para que você não seja silenciado por outras. É uma forma estranha de egoísmo para mim. Obviamente, é a minha impressão pessoal, que não é partilhada por outros escritores e escritoras. Escrevo a partir de um certo desespero, do sentimento que não posso mais segurar o que há dentro de mim, e essa urgência produz algo desleixado mas espontâneo, críptico mas hipnotizante, denso mas verdadeiro (à minha verdade pessoal). Fico bastante intrigado quando leio os meus próprios poemas, pois sinto que não vieram de mim, mas de um outro eu, com uma voz mais sombria, perfeitamente confiante, e ultra masculina (no sentido de que está na busca de conquistar e dominar). Não consigo ler nenhum de meus poemas completos de cor, e isso é um sinal do relacionamento distanciado que tenho com a minha própria voz. Desejo que as pessoas me digam as suas próprias impressões sobre os meus poemas, quando eu os publico no papel e na Internet.
Fico bastante intrigado quando leio os meus próprios poemas, pois sinto que não vieram de mim, mas de um outro eu.
MS: e encontrou o seu público?
LLS: Tenho família, amigos, e conhecidos, que se tornaram mais do que família para mim ao ler os meus poemas e comprar o meu livro. Mas não posso dizer que encontrei leitores além deste universo amado que compartilho com a minha família e amigos. Talvez eu deveria escrever poemas mais acessíveis para leitores? Mas mesmo que eu soubesse como fazê-lo, não acho que poderia. A partir do momento que se escreve numa língua própria, não há como evitar usar aqueles sons, palavras, frases, sintaxes e imagens, a não ser que essa mudança parta de dentro de si mesmo.
MS: publicou um livro de poemas chamado “A Língua do Pulsar”. Pode explicar o conceito aos nossos leitores?
LLS: tive a ideia de chamar o livro assim propositalmente – pulsar tem dois significados distintos – depois que fui inspirado por minha maravilhosa amiga, Daniela Euzébio, de São Paulo. Ela chama os meus poemas “pulsemas” (o seu neologismo brilhantemente funde as palavras “pulso” e “poema”), pois ela crê que eles têm um ritmo e uma batida semelhante ao de um coração. Se os poemas são o produto de minhas compulsões e obsessões, faz muito sentido ver-me como um ser pulsante. Pulsar é uma imagem extremamente bela em termos astronômicos. Os pulsares são estrelas que implodiram, encolhendo em tamanho mas aumentando em massa dramaticamente, mais do que qualquer outro objeto celeste (com a exceção de buracos negros) revolvendo-se sobre si próprias com velocidades altíssimas, e que emitem sinais de radio que são emitidos através do universo. Se alguém captasse esses sinais no seu rádio, acreditariam que eles devem vir de uma outra civilização, como eles são tão regulares e com um padrão fixo. Acredita-se que os pulsares serão o nosso sistema de navegação interestrelar, quando finalmente dominarmos a tecnologia para viagens entre as estrelas num futuro distante. Acho essa imagem adequada para poetas e escritores, apesar de ser bastante presunçosa e altamente inapropriada para os nossos tempos.
Com cada poema e história que escrevo, tento criar a minha própria língua.
Tento cobrir a blasfêmia de querer recriar o mundo em minha própria imagem com palavras ritualísticas que expliquem o nosso senso de nascimento, de perda, de desejo e ânsia profundos, de raiva, medo, temor, pasmo e surpresa diante da vida e do mundo. Com cada poema e história que escrevo, tento criar a minha própria língua, uma mistura hibrida e macarrônica de todas as minhas experiências, críptica e visualmente sedutora o suficiente, para a transmitir para o mundo ao meu redor, quer eles ouçam ou não. A língua que pulsa. A língua do pulsar.
MS: em vez de indicar ao seu leitor pelo caminho que deve seguir, e aonde o leva, encoraja-os a procurar o seu próprio caminho. Com as suas expressões, com as suas palavras e as suas intepretações, ajuda-os a encontrar as suas vozes…
LLS: Sim, esse é o objetivo. Todos nós construímos o nosso próprio universo ao ler e interpretar o mundo ao nosso redor, e é a missão de escritores e poetas de estender um espelho feito de palavras e narrativas suas para mostras aos leitores o seu reflexo. O crítico literário Harold Bloom diz que ao ler, nós podemos achar fragmentos de nós mesmos, nossas próprias palavras, que havíamos esquecido há tanto tempo. Introduzimos o que nos é familiar ao aglutinar dentro de nós mesmos o que é inicialmente desconhecido, até que percebamos que foi sempre parte de nós o tempo todo. Todos nós já fomos Hamlet, Robin Hood, Don Quixote, Madame Bovary, Elizabeth Bennett e Capitu em algum ponto de nossas vidas. Ou seremos. Pelo menos na nossa imaginação.
Todos nós construímos o nosso próprio universo ao ler e interpretar o mundo ao nosso redor, e é a missão de escritores e poetas de estender um espelho feito de palavras e narrativas suas para mostras aos leitores o seu reflexo.
MS: quão difícil é ser escritor hoje em dia, num mundo que às vezes que não dá importância aquelas coisas que não geram enormes quantidades de dinheiro? É possível acreditar num mundo sem filosofia, sem poesia, sem literatura?
LLS: É uma tarefa hercúlea, como Sísifo na sua rolagem diária. Principalmente porque o tempo é um bem tão valioso hoje em dia, e eu simplesmente não posso viver apenas da minha escrita. Como professor, posso fazê-lo, mas é algo que exige muito de ti, em todos os aspectos possíveis. Resignei-me a esse fato, e tento manter as expectativas bem baixas. Como aqueles que escreviam poesia na Primeira Guerra Mundial das trincheiras, você deve escrever continuar a escrever, não pelo fato de ter condições para o mesmo, mas porque você TEM de fazê-lo, como testemunha da história e da vida. Sempre em prosseguimento, sempre em frente. Suponho que algum dia se possa alcançar notoriedade e sucesso financeiro ainda em vida, mas isso será a culminação de um conjunto de fatores dos quais você não possui controle completo.
Enquanto mantivermos os nossos olhos abertos e os ouvidos descascados, as artes humanas irão continuar a existir.
Mesmo que, na minha opinião sincera, haja pouco espaço para a apreciação de poesia como ela costumava ser, despejada num pedaço de papel, devo permanecer essencialmente otimista em acreditar na reinvenção da poesia, pois a mídia e o formato de mensagens que usamos nos permite fazê-lo. Um tweet pode virar um poema. Uma fotografia compartilhada na sua página do Facebook poderia ser convertida num poema ultra condensado, como um meme. A poesia tem de unir ao cinema, à musica, com todos os tipos de arte ou projetos criativos, para sobreviver como a forma supremamente humana de expressão. Enquanto mantivermos os nossos olhos abertos e os ouvidos descascados, as artes humanas irão continuar a existir, para falar verdades aos poderosos, para nos confortar da verdade incessante da nossa mortalidade, para nos lembrar de quem somos, fomos, e mais importante, do que podemos ser. Ou então, se nos mantermos calados, até as pedras clamarão.
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