A agenda interamericana em Washington nos últimos quatro anos vem sendo dominada pela política do pau sem a cenoura. Por que acrescentar uma nova fonte de controvérsia nas Américas? Por que Washington está tão obcecada em tornar a América Latina mais atraente para a projeção do poder chinês?
Um presidente americano no BID é uma receita para fricção e frustração. Os Estados Unidos têm controle total de seu Banco de Exportação-Importação e da Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional, juntamente com as maiores instalações de preparação de projetos operando na América Latina e no Caribe através da Agência dos Estados Unidos para o Comércio e Desenvolvimento.
A relativa falta de sucesso do comércio e da atração de investimentos dos EUA na região durante a última década nada tem a ver com o BID ou com a China: reflete algo que está acontecendo com a comunidade empresarial americana e a ênfase de Washington no envolvimento dos militares na aplicação da lei doméstica em toda a América Latina e no Caribe.
Finalmente, um argumento político. De acordo com as regras de votação do BID, a participação dos Estados Unidos é de 30%. A América Latina e o Caribe têm 50%; o Canadá, 4%; e os membros não regionais (principalmente europeus mais Japão, entre outros), 16%. Washington pode acreditar que já tem a maioria absoluta de votos para seu candidato.
Mas pode haver surpresas. Com 25% dos votos, não pode haver quorum para deliberar: uma posição muito forte, mas muito provável, que requer uma coalizão de países para atingir esse número. Deve-se ter em mente que devido a seus 30% de votos, Washington pode afetar unilateralmente o quorum e ninguém jamais disse que o uso dessa opção política é uma demonstração de hostilidade.
Pela primeira vez, vários governos latino-americanos de diferentes tendências políticas estão dispostos a ir tão longe. Com 50% dos votos, vários países podem convocar um novo dia de eleições: uma coalizão mais ampla deve se mobilizar e alcançar essa porcentagem.
Isso é difícil de se conseguir, mas os aliados tradicionais dos Estados Unidos, como o Canadá e muitos países europeus, podem acreditar que chegou a hora de mostrar seu descontentamento com a Casa Branca. Trump está disposto a apostar nessa possibilidade? Ainda há tempo para marcar uma nova data para a eleição do presidente do BID.
A melhor opção para as Américas agora é adiar a eleição do presidente para o início de 2021. Primeiro, os líderes latino-americanos precisam fazer essa demanda. É agora ou nunca. Em segundo lugar, as personalidades americanas dos partidos Democrata e Republicano devem apoiar tal demanda da região. Em terceiro lugar, a administração deve perceber que é melhor negociar do que impor um candidato ao banco. Estas são três razões muito razoáveis.
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