O Brasil também vai sediar a cúpula do G20 em 2024, proporcionando amplo espaço para moldar o diálogo multilateral — e até pressionar pela revisão do Quadro Comum do G20, uma tentativa de trazer os grandes credores à mesa para buscar aliviar as dívidas de nações mais vulneráveis.
Esse alívio exige uma reforma da arquitetura financeira global. Em 2020, o G20 reconheceu a necessidade de reestruturação das dívidas públicas e endossou a criação do Quadro Comum.
Até os anos 1990, os principais credores do mundo eram membros do Clube de Paris; hoje, China, Índia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos também são credores relevantes. Detentores privados de títulos da dívida pública também ganharam importância e acumulam hoje quase metade da dívida de países em desenvolvimento.
O Quadro Comum, tal como está configurado hoje, não consegue resolver a situação, por três razões: exclui os países em desenvolvimento; seu processo é excessivamente lento — os países que se candidataram ainda não viram uma redução da dívida; e não há incentivos para convencer credores privados a participar. O tímido envolvimento de credores multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI, também foi alvo de críticas da China e atrasou ainda mais uma reestruturação abrangente dessas dívidas.
Paralelamente a essa reforma, o Quadro Comum deveria associar o alívio da dívida aos compromissos de investimento em sustentabilidade. Isso alinharia as negociações das dívidas públicas com a agenda verde do novo governo brasileiro. Uma versão atualizada dos títulos Brady, ou Bradies, dos anos 1990 — que converteram dívidas em títulos com valores mais acessíveis e ajudaram a aliviar a crise da dívida latino-americana da época — poderia incentivar a participação de uma ampla variedade de credores.
Dívidas e vulnerabilidades climáticas estão interligadas, mas o ciclo pode ser quebrado. O caminho é resolver a iminente crise da dívida e criar oportunidades de investimento em metas climáticas.
O Brasil está em uma posição privilegiada para intermediar essas negociações e moldar uma nova arquitetura financeira global.
Este artigo foi originalmente publicado no Diálogo Chino.
Comentários
Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy