Há quarenta anos, em 28 de agosto de 1979, a Lei da Anistia do Brasil foi aprovada, protegendo todos os autores de crimes políticos cometidos durante a ditadura militar de 1964-1985 no país.
Aprovada pelo então presidente João Figueiredo, a lei inicialmente forneceu uma estrutura para a reconciliação nacional. Permitiu aos ativistas exilado a oportunidade de retornar ao Brasil. Também deu às vítimas de tortura e dissidentes políticos um meio pelo qual se defender, negociar sua libertação e limpar seus nomes.
Mas esse projeto acabou sendo moldado pelo apoio de membros das forças armadas brasileiras, fato que levou à infeliz interpretação errônea da lei. O que deveria ter sido uma oportunidade para a unidade, na prática foi cooptado por impunidade legalizada por crimes contra a humanidade. A lei foi amplamente interpretada para proteger as instituições, o que facilitou a repressão durante o regime de 20 anos do regime e impediu que todos os oficiais militares fossem acusados de envolvimento em crimes internacionais.
Como o passado molda o presente
No quadragésimo aniversário da Lei da Anistia do Brasil, agora vemos o país sofrer as consequências da impunidade ainda presente pelas violações graves ocorridas no passado recente. O presidente Jair Bolsonaro elogiou descaradamente a ditadura militar brasileira e sugeriu que a tortura é um método legítimo de lidar com o crime.
Vários ex-oficiais militares estão agora encarregados de cargos importantes do governo, incluindo uma Comissão responsável por investigar os desaparecimentos que ocorreram durante a ditadura militar. Após uma proibição de oito anos e uma batalha judicial, um desfile militar foi realizado em março passado para comemorar o 55º aniversário da ditadura militar, bem como uma cerimônia em comemoração ao coronel e torturador condenado Carlos Ustra. Recentemente, o presidente declarou publicamente que pode ou não saber onde estão enterrados os restos mortais do pai desaparecido do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.
Essas declarações e ações revisionistas são prejudiciais para as vítimas do regime militar, que devem viver diariamente com as mortes e desaparecimentos de seus entes queridos. Eles também comemoram a impunidade e a militarização, favorecendo outros tipos de violência futura. Em várias ocasiões, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte I-A) destacou os obstáculos trazidos pela Lei de Anistia para realizar investigações judiciais.
Os acadêmicos mostraram como as anistias podem minar a legitimidade de um sistema judicial já sobrecarregado. Nesse sentido, as discussões sobre como essa lei em particular foi interpretada concentram-se em como uma "cultura de impunidade" normalizou situações contemporâneas para os que estão no poder no Brasil para escravizar trabalhadores rurais e promover situações que colocam em risco as mulheres, moldando como a violência é entendida no presente.
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