Aqueles que apoiam esse governo acreditam que estão em uma luta contra os poderes que sempre governaram o país (casta política, imprensa e elite intelectual). Eles acreditam que colocaram "um dos nossos" no centro do poder. Alguém que tem as mesmas características e que compartilha das mesmas dificuldades. Alguém que não tem medo de mostrar sua inaptidão para ocupar o cargo, criando assim alguma identificação empática com aqueles que nunca imaginariam ser presidente. Eles acham que nessa revolução não se deve "respeitar as instituições" que eram em grande parte responsáveis "por tudo o que existe", o antigo status quo. Eles se veem lutando pela "liberdade de expressão", especialmente se essa "liberdade" permite circulação de violência discursiva contra setores vulneráveis da sociedade, como mulheres, negros, LGBTQs – violência discursiva que legitima práticas violentas.
Luta contra a “doutrinação”
Esse contexto criou o ambiente perfeito para a intensificação de uma polarização ideológica, que se concentra na luta do governo contra a "doutrinação" nas escolas e universidades. Depois de cortar o orçamento de três das principais universidades brasileiras em 30%, porque supostamente promoviam "mimimi" (interpretado como a abertura de um espaço para debates políticos e discussões sobre a situação nacional), o Ministério da Educação viu a opinião pública se voltar contra ele por perseguir politicamente instituições com altos níveis de pesquisa e comprometimento acadêmico e resultados. Em resposta, o governo simplesmente estendeu os cortes para todas as 69 universidades federais, afetando seus mais de 1,2 milhão de estudantes. Essa decisão coloca em risco o funcionamento cotidiano de várias instituições e a integridade do ensino superior no Brasil.
A decisão de fazer esses cortes veio poucos dias depois de o presidente da República anunciar sua intenção de pôs fim a cursos de filosofia e sociologia para privilegiar "áreas que geram retorno imediato ao contribuinte, como as ciências veterinárias, a engenharia e a medicina".
Para o público brasileiro, nada disso é estranho. Já no segundo dia após sua eleição, o próprio Bolsonaro postou vídeos de professores de escolas públicas que supostamente "doutrinavam" estudantes, prometendo que agora é hora de "menos política nas escolas". Pode-se imaginar a pressão sob a qual os professores de hoje no sistema público brasileiro estão trabalhando.
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