A emergência climática é uma questão de justiça social intrinsicamente relacionada com a desigualdade. Existe uma lacuna de riqueza bem documentada – que reflete injustiças históricas e relações de poder desiguais – entre as nações responsáveis pelas principais emissões de gases de efeito estufa e aquelas forçadas a lidar com seus efeitos adversos, que variam de enchentes a secas e incêndios florestais.
Por muito tempo, homens brancos no Norte Global – em grande parte intocados pelas realidades catastróficas das mudanças climáticas – dominaram o debate climático, excluindo populações do Sul Global, particularmente mulheres e comunidades indígenas. As consequências são emissões desenfreadas e financiamento insuficiente para apoiar ações de mitigação e adaptação, além de perdas e danos.
Enquanto isso, as “soluções” usuais, como a compensação de carbono, parecem agravar em vez de abordar as desigualdades globais. A gigante do petróleo Shell, por exemplo, planeja compensar 120 milhões de toneladas de dióxido de carbono de suas atividades poluentes com plantações de árvores em grande escala que provavelmente levarão à apropriação de terras no Sul Global.
“Se levamos a sério o enfrentamento da crise climática, precisamos começar a ouvir e sentir a dor daqueles que sofrem as consequências já hoje”, argumenta a ativista ambiental e climática queniana Elizabeth Wathuti.
Este não é apenas um pedido de representação, embora essa questão seja importante. “As ferramentas do mestre nunca vão desmantelar a casa-grande”, como disse a ativista americana de direitos civis Audre Lorde. Para enfrentar a crise climática e alcançar a justiça climática, precisamos de “ferramentas”, liderança e princípios radicalmente diferentes. Mulheres e feministas têm muito a oferecer nesse quesito, especialmente aquelas do Sul Global, com sua longa história de combate à desigualdade e construção de soluções inclusivas. São essas mulheres, de diversas origens, que estão indo cada vez mais para as linhas de frente na luta pela justiça climática.
Como apresentadora do podcast "People vs Inequality", tive a honra de entrevistar seis das líderes climáticas mais inspiradores da atualidade. As seis mulheres têm uma característica em comum: lutam para tentar transferir o poder para os mais afetados pelas mudanças climáticas. Independentemente de se considerarem feministas, suas histórias são ilustrações poderosas de liderança e princípios feministas. Mas o que exatamente elas fazem? E o que podemos – de ativistas a formuladores de políticas – aprender sobre como alcançar a justiça climática?