Com base nesses diferentes pontos de partida, Martín Obaya, pesquisador do think tank argentino Fundar, vê como bastante improvável que uma entidade no estilo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) venha a existir para o lítio. Reconhecida pela ONU, a Opep abrange 13 países que, juntos, representam 80,4% das reservas mundiais do hidrocarboneto e, com isso, intervêm em seu fornecimento.
"Os regimes regulatórios são muito diferentes e, particularmente na Argentina, as possibilidades de intervenção são limitadas. Não creio que as condições políticas, regulatórias e de mercado existam para pensar em uma 'Opep de lítio'", conclui Obaya.
Obaya explica ainda que a participação de Argentina, Bolívia e Chile na produção global de lítio caiu em relação a 2011, já que outros países estão avançando na exploração, embora com custos mais altos.
Cadeia de valor
Apesar de anúncios recentes de investimentos no lítio argentino, até o momento, apenas dois projetos estão em operação: um da empresa americana Livent, no Salar del Hombre Muerto, na província de Catamarca; e outro no Salar de Olaroz, na província de Jujuy, administrado pela australiana Orocobre, associada à japonesa Toyota e à empresa regional Jemse. Ambos estão em processo de expansão.
Em um futuro próximo, o projeto Minera Exar, da canadense Lithium Americas e da chinesa Ganfeng Lithium, com uma participação minoritária da Jemse, deverá entrar em operação no Salar de Cauchari-Olaroz, também em Jujuy.
Na Argentina, o controle da produção e das salinas está nas mãos de empresas privadas, com a participação das províncias e do governo nacional, por meio da cobrança de impostos e royalties. Por isso, o pesquisador de lítio Bruno Fornillo defende que a Argentina é o país que mais dificulta a articulação regional.
"A base para a coordenação de estratégias é o controle estatal e social das reservas de lítio e da produção primária. Não se pode administrar algo sobre o qual não se tem controle", disse Fornillo.
Apesar de não ter controle direto sobre o mineral, a Argentina quer aumentar a participação doméstica na cadeia de valor do lítio, seguindo sua tradição industrial e com um forte grau de desenvolvimento científico.
"O país tem condições de fabricar células para baterias de lítio que poderiam ser usadas para armazenar energia em parques solares. Queremos que o carbonato de lítio seja processado no país. Neste sentido, as experiências estão sendo compartilhadas com a Bolívia, que também está focada em agregação de valor", diz Salvarezza, da Y-tec.
Para Juan Carlos Montenegro, ex-gerente da Yacimientos del Litio Bolivianos, os países devem fortalecer suas relações para explorar alternativas de integração. "Nos últimos anos, essas iniciativas têm ganhado mais espaço. A integração é vital para discutir o papel que queremos desempenhar na gestão da transição energética", disse.
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