Esse discurso contraditório aumentou a desconfiança no presidente, mostrando que seus princípios não são inamovíveis e que AMLO está disposto a ceder e comprometer seu discurso de solidariedade diante do uso demagógico e oportunista da migração de Trump.
EUA versus México: uma guerra comercial nascente?
Donald Trump declarou recentemente que os EUA estão dispostos a impor tarifas sobre todos os produtos mexicanos que entram no país se o México não apertar sua política de imigração.
O México "tem que fazer mais para impedir esse ataque, essa invasão do nosso país", disse Trump. Ele também disse que, apesar das medidas tomadas pelo governo mexicano, ele continuará com a imposição de 5% de tarifas na próxima semana, que poderá aumentar gradualmente para 25%. Trump, que sabe que a AMLO não tem capacidade para interromper rapidamente os fluxos migratórios para os EUA, acha que a posição do presidente mexicano era muito fraca e atraiu apenas mais migrantes para sua fronteira.
Mas a realidade é que, dada a alta periculosidade das rotas que cruzam o México e o alto preço dos coiotes, os migrantes centro-americanos mudaram sua estratégia e se protegem em caravanas, o que aumenta sua visibilidade na mídia, mas os fluxos permanecem estáveis, embora as detenções e deportações na fronteira hajam aumentado desde a chegada de AMLO.
Impor 5% das tarifas ao México seria uma catástrofe econômica, mas vai de acordo com a retórica protecionista do "America First", de Trump. No entanto, diante da ameaça de uma guerra comercial, AMLO adotou uma posição conciliatória e declarou que está aberto ao diálogo com os EUA sobre o plano tarifário.
Se não encontrar uma solução, ele diz estar disposto a recorrer aos tribunais internacionais para apelar contra as medidas, afirmando que acredita que "podemos chegar a um acordo, porque a razão está conosco". De qualquer forma, a crise é real e seu ministro das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, esteve em Washington por vários dias e se encontrou com Pence e Pompeo para tentar amenizar o clima.
Embora ele diga confiar que pode resolver essa disputa, será difícil que a reputação interna de AMLO não seja afetada negativamente pelo que parece ser uma submissão ao poderoso vizinho do norte em um assunto de alta sensibilidade e relevância nacional. Afinal, quase 38% dos 50 milhões de migrantes que vivem nos Estados Unidos são mexicanos, seguidos, de longe, pelos centro-americanos, com 6,5%, e China e Índia, com cerca de 5% cada.
O impacto econômico de uma guerra comercial seria devastador para uma economia enfraquecida. AMLO sabe disso, e mostrou até agora que ele sabe como dizer o que "as pessoas" querem ouvir, e depois fazer o que é mais conveniente. Nesse sentido, é um populista clássico. Mas... sobreviverá a taxa de aprovação de 70% de AMLO a essa nova crise?
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