A instabilidade social aumenta em Angola desde o primeiro protesto em larga escala a 24 de Outubro, e da morte do Dr. Sílvio Dala pelas mãos da polícia. Nas últimas manifestações, a juventude urbana saiu à rua às centenas, tendo sido recebidos com ameaças e “raptos” por parte das autoridades. Muitos foram levados pela polícia e vários jornalistas foram detidos sem qualquer motivo aparente, apenas por desempenhar as suas funções. Parece que o regime deseja ocultar os seus problemas ao resto do mundo.
Angola gostaria de se apresentar ao mundo como uma nação democrática e cumpridora das leis, no entanto, a sua classe política no poder está a colocar os seus interesses políticos acima de tudo, relegando os interesses do povo para último. Estas questões arrastam-se sem resolução apenas porque não existe qualquer vontade para as resolver.
Desde a chegada do novo presidente em 2017, o clima de incerteza e tensão em Angola tem escalado. Mesmo antes do COVID, a situação económica era catastrófica, com a moeda local a perder mais de 40% do valor em meros meses. Hoje o país encontra-se num ponto de ruptura, com o povo a não ter nada mais a perder. Alguns perderam os seus negócios, outros estão incapazes de pagar as suas dívidas, muitos mal conseguem fazer face às despesas. O país é governado por uma classe de elite que se promove a posições de poder para servir os seus próprios interesses. Estes autointitulados guardiões de Angola escondem-se atrás de máscaras no seio do partido político.
A independência desta nação, obtida a sangue e fogo pelo povo, está agora ameaçada por esta classe política, que governa de forma egoísta para o seu próprio ganho e pelo futuro dos seus descendentes, que continuarão este seu “legado.”
Os princípios fundamentais, tais como dispostos no Artigo 1º da Constituição da República de Angola (1992), afirmam:
“Angola é uma República soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo angolano, que tem como objectivo fundamental a construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social.”
Estas são palavras às quais damos valor, mas a realidade é que a democracia em Angola está longe de ser sentida e compreendida, em particular quando a nossa subsistência daí depende. Estamos ao serviço do governo quando isso lhe interessa, e descartáveis quando não servimos o seu propósito. O dia 11 de Novembro não foi exceção. Quem defenderá a constituição Angolana se o governo não protege sequer a sobrevivência ou os interesses do seu povo? Novembro de 2020 foi um marco que nos mostrou que, no 45º aniversário da independência, os direitos de liberdade de expressão e de manifestação continuarão a ser reprimidos e silenciados pela força. Este ano, pelo menos um jovem manifestante morreu em frente às câmaras a lutar por estes direitos.
Sob a justificação de que as medidas de prevenção à propagação do COVID proíbem manifestações, o comandante da polícia deixou um aviso estrito alguns dias antes do dia de independência. Em vez de fomentarem um sentimento de união e esperança por dias melhores, as autoridades decretaram, a alto e bom som, que protestos e manifestações não serão tolerados, reprimindo o direito de manifestação. Este direito só pode, no entanto, ser retirado em estado de emergência gerado por guerra segundo a constituição, quando claramente não é o caso
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