E você se sente mal. Você é inteligente, você sabe o que fazer, você sabe o que quer, mas a língua não permite que você seja você. Você quer dizer coisas, mas você não sabe como dizê-las, apesar de você ter muitas ideias na sua cabeça. Por isso, você não é considerada pelas pessoas. Eu me matriculei em uma escola de línguas, onde eu estudei português por um mês. Eu comecei a aprender, mas não conseguia entender – era muito difícil. Eu disse para mim mesma: “mas isso é conjugação básica e literatura. Eu sou como uma criança, de volta no jardim de infância”. Eu sei latim, e latim é parecido com português – é a mãe da língua – então, eu entendo algumas palavras. Eu fiz mais três meses de aula antes de eu começar a melhorar.
Quando eu deixei o meu país, eu deixei muitas coisas para trás. Mas, antes de começar a me arrepender da minha decisão, eu sempre dizia para mim mesma: “Eu vou me encaixar aqui, de pouco em pouco”. Eu terminei a universidade em 2015. Eu tinha me graduado em Latim e Filosofia, em 2010, e na universidade eu estudei política e ciências da administração política. Mas, com a política no nosso país, eu corria o risco de morrer trabalhando como cientista política, então eu mudei para negócios e administração, no fim. Eu fiz um estágio no Ministério das Relações Exteriores, em 2015, mas, depois desta experiência e de ver com como as coisas funcionavam por lá, eu decidi sair.
Eu esqueci de trazer os meus diplomas comigo quando eu vim para o Brasil. Eu contatei meus pais e eles conseguiram me enviar todos os documentos agora; eu pretendo estudar aqui. Eu gosto de estudar e descobrir coisas novas. Se Deus ajudar, eu vou refazer os meus estudos. Nós temos muitas mulheres inteligentes no Congo, mas nos falta incentivo e meios para estudar e fazer outras coisas. Eu vim para o Brasil para me integrar, ganhar algum conhecimento de fora do mundo. Conhecer como o Brasil funciona, ver que existe mulheres brasileiras em posições administrativas e políticas aqui, é um aprendizado. Eu desejo que tenhamos equidade no Congo, que as pessoas possam fazer coisas por razões que não sejam porque elas são homens ou porque elas têm nome ou família. Então, se eu tiver que retornar ao meu país, eu vou lutar por equidade para as mulheres. Existe muitas mulheres inteligentes que precisam apenas de uma oportunidade.
V. A., um ano no Brasil
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