democraciaAbierta

Candidata a vice-presidente do Brasil, Sonia Guajajara, com líderes indígenas em uma hidroreunião

O futuro democrático do Brasil está em jogo nas próximas eleições de outubro. Durante uma parada na Amazônia, a candidata indígena a vice-presidência, Sónia Guajajara, encontrou-se na água com suas seguidoras. Imagens: Pablo Albarenga / Midia NINJA. Español English

WhatsApp Image 2022-04-16 at 2.52.03 AM.jpeg
Francesc Badia i Dalmases
25 Setembro 2018
07_2_0.jpg

Um dos seguidores de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara cumprimenta a candidata depois de terminar um ato eleitoral em Macapá, Amapá Pará, Brasil. Fotografia: Pablo Albarenga / Mídia NINJA. Todos os direitos reservados.

Embora os road-shows e apresentações sejam exaustivos para os músicos, eles são fundamentais e devem ser realizados com entusiasmo e profissionalismo. O mesmo vale para campanhas eleitorais, e para qualquer candidato a presidência ou vice, que sigam esse caminho, que em geral exige muitas visitas de campanha, quanto mais selfies melhor.

Mas em meio a essa turnê promocional, pode surgir um momento de tranquilidade onde se pode encontrar a paz, um espaço de recuperação, de serenidade, e no qual se pode conectar com suas emoções mais internas. E foi o que ocorreu em 6 de setembro passado para a primeira candidata indígena a vice-presidência no Brasil, Sônia Bone Guajajara, durante uma escala na cidade de Santarém, a qual estava a caminho de São Paulo via Belém, na foz do rio Amazonas.

abrazo.jpeg

Aproveitando ao máximo sua parada, Sônia entrou em contato com lideranças indígenas do entorno do rio Tapajós, onde está localizado um dos maiores aquíferos do mundo e um lugar de importância dentro da região amazônica, e onde estão sediadas defensoras femininas indígenas sob o nome de “Suraras do Tapajós”. Ela também entrou em contato com Raquel Rosenberg, líder do movimento juvenil #Engajamundo que dirige desde agosto o projeto “Engaja na Amazônia” que trabalha com o engajamento de jovens de comunidades tradicionais do rio Tapajós, dentre eles indígenas, com a esperança de mobilizá-los.

As ameaças à sobrevivência do rio são imensas: o agronegócio, a indústria madeireira ilegal, a construção de portos e barragens e até mesmo a pressão sobre a propriedade de uma crescente indústria do turismo desordenado.

Há razões mais do que suficientes para estarmos alerta e apoiar as comunidades indígenas na defesa de seus direitos e na luta por um desenvolvimento que seja saudável e sustentável. Grupos como o Projeto Saúde e Alegria, organização emblemática com base em Santarém, veem isso como seu objetivo principal.

sonia tierra_2.jpeg

A proposta que surgiu da conversa entre Sônia e as lideranças femininas, #SurarasdoTapajós, foi a de realizar uma reunião no rio, uma hidroreunião, como assim foi denominada. Entre mergulhos no rio, as discussões foram conduzidas, algo inédito, resultando em uma intensa e poderosa conversa.

A reunião começou na última luz do dia e durou até que a abóbada celestial se encheu de estrelas. A líder e candidata indígena, que está junto com Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e candidato a presidência do PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade) para as próximas eleições de outubro, quis se cercar de uma dúzia de mulheres que, como ela mesma, empreenderam uma luta profunda contra as poderosas forças da exploração mineraria.

As águas do rio, sagradas para as comunidades indígenas, exerceram seus poderes de revitalização e a conversa fluía com intimidade até o crepúsculo. Sônia, ou Soninha, como suas colegas defensoras gostam de chamá-la, falou do enorme desafio de ser a única candidata indígena na corrida presidencial e das dificuldades no centro de sua missão de defender as comunidades indígenas em uma esfera política que tradicionalmente as fez invisível.

Sonia en el agua2.jpeg

Submersa na calmaria do rio e inspirada pela energia ancestral, Sônia falou de como a luta coletiva favorece a comunidade, de como eles devem não apenas se levantar em defesa das comunidades indígenas no Brasil, mas também devem lutar por um ecossistema estável, a conservação do rio e da floresta tropical. Como todos os povos indígenas sabem muito bem, ela disse, resistir é existir.

Formando um círculo de corpos flutuando na água enquanto a última luz do dia descansava no horizonte, as mulheres falavam deste momento especial que estão vivenciando e como, apesar das dificuldades que enfrentam em um país com tremendo machismo, são protagonistas desta história, são capazes de lutar, de resistir, de contar novas narrativas.

hidroreunión_o.jpg

Neste exercício revitalizante, em contato com um rio que reforça o poder do espírito ancestral, cada um virou a cabeça para uma estrela cadente, cuja trilha de ouro brilhou nas retinas por um instante que quase pareceu eterno.

Foi um momento cósmico, que precedeu uma breve mas solene cerimônia de purificação em águas mornas, perfumadas com ervas preparadas de acordo com a prática ritual ancestral. Um momento de silêncio foi compartilhado, embora consciente da transcendência do momento em que a água se derramou de uma tigela ritual sobre as cabeças dos presentes, uma após a outra, acompanhada de palavras de purificação, palavras diferentes para cada bênção.

Ceremonia4_o-1.jpg

A cerimônia chegou ao fim, enquanto a cumplicidade, anedotas e piadas retornavam ao círculo, como se alguém desejasse quebrar o gelo depois de testemunhar tal momento. A hidroreunião foi dissolvida harmoniosamente, com cada indivíduo tomando seu tempo para retornar para a beira da praia, para a normalidade da vida quotidiana, para o road-show da campanha eleitoral.

As comunidades indígenas conhecem os significados da opressão, da violência e sabem que a luta coletiva pode contribuir para o crescimento da verdadeira democracia no Brasil, atualmente ameaçada por brutais digressões a um regime autoritário. Felizmente, muitas mulheres levantaram suas vozes contra a natureza arbitrária de um modelo econômico cruel que oprime, que exclui e mata. E elas estão lutando.

plumas en el ríod_1.jpeg

Sônia Guajajara repete em sua campanha, sempre que tem a chance, que houve 518 anos de opressão, mas agora serão as mulheres, indígenas, negras, guerreiras, qualquer mulher com audácia e coragem, que terá a capacidade de defender uma democracia que hoje está tão ameaçada no Brasil. Elas sabem da importância de ganhar, para que uma nova história possa ser contada.

****

Tradução al Português: #Suraras Do Tapajós

Assine nossa newsletter Acesse análises de qualidade sobre democracia, direitos humanos e inovação política na América Latina através do nosso boletim semanal Inscreva-me na newsletter

Comentários

Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy
Audio available Bookmark Check Language Close Comments Download Facebook Link Email Newsletter Newsletter Play Print Share Twitter Youtube Search Instagram WhatsApp yourData