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Tensas eleições no Equador diante de um futuro incerto

O Equador, dividido e desconcertado, procura um líder capaz de lidar com uma situação crítica em múltiplas frentes.

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4 Fevereiro 2021, 12.01
Urnas eleitorais durante o referendo de 2018
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Shutterstock

Talvez o que mais chame a atenção nas eleições presidenciais no Equador do próximo domingo (7) é que há 16 candidatos – 15 homens e uma mulher – disputando o cargo mais importante do país. Destes, os que surgem como favoritos são Andrés Aarauz, candidato do ex-presidente Rafael Correa e líder do correismo, e o conservador Guillermo Lasso, líder do anti-correismo.

Embora distante, um terceiro candidato, Yaku Pérez, é um líder do movimento indígena, um conhecido ativista ambiental e um homem de esquerda.

Yaku surge como uma alternativa potencial para o segundo turno, se conseguir liderar uma real mobilização dos eleitores cansados da polarização e de uma classe política corrupta.

O clima dessas eleições, porém, é marcado pela apatia e indecisão, que prenuncia, desde já, um segundo turno. Para evitar o segundo turno, que seria realizado em 11 de abril, uma das chapas deve garantir pelo menos 40% dos votos e obter uma diferença de 10% em relação à segunda mais votada. Segundo as últimas pesquisas da Cedatos, Market e Pulso Ciudadano, nenhum dos candidatos está perto de obter esses resultados.

Campanha digital

Uma das novidades dessas eleições é que, devido à pandemia e suas restrições, grande parte da campanha dos candidatos foi feita através das redes sociais. Como uma fórmula para combater a apatia dos jovens eleitores, vários candidatos optaram por usar até mesmo redes relativamente novas, como o TikTok, popular entre os jovens, para chamar sua atenção.

O clima dessas eleições, porém, é marcado pela apatia e indecisão, que prenuncia, desde já, um segundo turno

Um bom exemplo disso é Xavier Hervas, da Esquerda Democrática, que aproveitou suas redes para passar a imagem de um novo político, vanguardista, moderno, feminista que compartilha as preocupações dos jovens. Outro candidato que tem usado as redes para se aproximar do público é Yaku Pérez, que posta vídeos dele dançando e mostrando sua faceta íntima no TikTok.

A estratégia, no entanto, tem sido criticada por muitos. Os vídeos de Pérez de cueca abraçando um bicho de pelúcia, de Lasso brindando e xingando e de Arauz falando sobre seu gosto pelo rock receberam mais zombaria do que elogio. Além disso, as tentativas não parecem ter influenciado as intenções de voto. O que isso mostra é que, embora sejam estratégias cada vez mais necessárias, a América Latina e seus candidatos ainda não sabem – talvez com exceção de Jair Bolsonaro – como utilizar as redes sociais a seu favor.

Os favoritos

A seguir, o democraciaAbierta traça os perfis dos principais candidatos que buscam o cargo mais alto no Equador:

Andrés Arauz Galarza

Partido: Alianza UNES

Vice-presidente: Carlos Rabascall

Líder do movimento correista, é formado em Ciências com especialização em Economia pela Universidade de Michigan. Também fez mestrado em Economia do Desenvolvimento pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

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Andrés Aarauz. | Creative Commons.

Foi assessor de política financeira do Ministério de Coordenação da Política Econômica de 2007 a 2009; diretor geral bancário do Banco Central do Equador; subsecretário-geral de Planejamento para o Bem-Estar e diretor-geral do Serviço Nacional de Compras Públicas. Durante seu governo, Correa o nomeou ministro coordenador do Conhecimento e Talento Humano e, em 2017, ministro da Cultura. Sua visão econômica e política tende para a esquerda socialista e segue os parâmetros de Correa, quem o apoia nestas eleições. Correa, condenado e desqualificado por corrupção, mora fora do país e dirige a campanha, que usa sua efígie. As pesquisas colocam Arauz como forte candidato ao segundo turno.

Guillermo Lasso

Partido: CREO

Vice-presidente: Alfredo Borrero

De direita, o candidato de 65 anos lidera o anti-correísmo. Foi candidato à presidência em 2013 e 2017. Nesta última ocasião, chegou ao segundo turno e perdeu por apenas 2,3% de diferença para Lenín Moreno, o atual presidente.

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Guillermo Lasso. | Creative Commons.

Foi governador de Guayas e super-ministro da Economia. Foi também embaixador itinerante do Equador, presidente da Fundação Terminal Terrestre de Guayaquil, membro do conselho de administração e presidente do Banco de Guayaquil, onde passou quase toda sua carreira. Com seu conhecimento de banqueiro, ele busca dar um novo rumo econômico ao país. As pesquisas colocam Lasso como forte candidato ao segundo turno, na competição com Arauz.

Yaku Pérez

Partido: Pachakutik

Vice-presidente: Virna Cedeño.

O representante do partido indígena de 51 anos é doutor em jurisprudência e advogado de justiça; especialista em Direito Ambiental, Penal e Justiça Indígena e mestre em Direito Penal e Criminologia. Com uma visão de esquerda, ele busca renovar o país. Sua bandeira de luta sempre foi a defesa da água.

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Yaku Pérez. | Wikipedia.

Foi presidente da Confederação dos Povos de Nacionalidade Kichwa do Equador (Ecuarunari) e participou de protestos contra os governos de Lucio Gutiérrez, Rafael Correa e Lenín Moreno. Foi vereador de Cuenca e prefeito de Azuay. Ele apresentou três pedidos de parecer vinculativo perante o Tribunal Constitucional para abrir uma consulta popular contra a mineração, mas todos foram rejeitados. Apesar de aparecer em terceiro nas pesquisas, suas chances na briga pelo segundo turno são pequenas.

Lucio Gutiérrez

Partido: Partido Sociedade Patriótica

Vice-presidente: David Norero.

O ex-presidente do Equador (2002-2005), volta a aspirar à presidência. Gutiérrez foi deposto logo de uma série manifestações populares, que eclodiram após seu partido destituir o recém nomeado Tribunal Supremo de Justiça e o envolvimento de vários de seus funcionários em casos de corrupção.

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Lucio Gutiérrez. | Creative Commons.

Coronel aposentado de 63 anos, tem formação em Administração e Ciências Militares, Engenharia Civil e Educação Física. Tornou-se figura pública ao liderar os protestos durante a crise financeira de 1999, que fizeram com que o então presidente Jamil Mahuad renunciasse. Na época, ele fazia parte de uma aliança com grupos indígenas, representados por Antonio Vargas e Carlos Solórzano Constantine, ex-presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Ele foi preso sob acusações de tentativa de golpe de Estado, mas recebeu anistia do Congresso. Então ele formou o Partido da Sociedade Patriótica, com o qual se candidatou à presidência deste ano.

Ximena Peña

Partido: Alianza País.

Vicepresidente: Patricio Barriga.

Peña é a única candidata mulher nas eleições equatorianas. Com 44 anos, está também entre os candidatos mais jovens.

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Ximena Peña. | Shutterstock

Engenheira de negócios formada em Administração de Empresas pela Bernard Baruch College de Nova York, ela tem uma visão de esquerda. Ela imigrou para os Estados Unidos aos 19 anos e, em 2013, foi eleita deputada pelo Alianza País pelos constituintes dos Estados Unidos e do Canadá. Posteriormente, foi nomeada presidente da Comissão de Justiça e Estrutura.

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Tarjetón electoral de Ecuador. | Shutterstock

Esses são os candidatos mais conhecidos dos 16 que concorreram à presidência, o dobro das eleições de 2017. É uma das primeiras vezes que um país latino vê esse número de candidatos nas eleições presidenciais, o que ilustra o colapso e a fragmentação política que o país vive. Segundo pesquisa da Click Research de janeiro, 44% dos equatorianos não haviam definido seu voto, que no Equador é obrigatório, embora algumas pesquisas elevem o número de indecisos para 60%.

Além disso, diante do excesso de candidatos, muitos têm apelado para propostas populistas que dificilmente seriam capazes de resolver os problemas urgentes do país, como desemprego, acesso à saúde, instabilidade política, corrupção, dívida, pressão sobre o meio ambiente e um modelo econômico dependente principalmente das exportações de petróleo e remessas de imigrantes. Se a isso acrescentarmos a falta de confiança institucional e o desgosto diante da corrupção, espera-se que a abstenção e o voto em branco moldem as eleições.

Pandemia e desesperança

Por que há tanta indiferença e indecisão entre os eleitores? O atual governo teve uma gestão macroeconômica e fiscal deficiente. Como se isso não bastasse, há dívidas elevadas, corrupção, retrocessos na democracia e, claro, os efeitos devastadores da pandemia. Esta lista de fatores fez com que os equatorianos, em sua maioria, expressassem dúvidas de que as eleições trouxessem mudanças positivas.

A apatia se vê refletida na impopularidade Lenín Moreno, que deixa o governo com apenas 10% de aprovação. A rejeição popular a ele é tal que o presidente não pôde apoiar nenhum candidato para dar continuidade ao seu trabalho.

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Imagen de barrios pobres en Guayaquil. | Shutterstock

A Covid-19 atingiu o Equador severamente, uma situação que ficou registrada na história através das imagens de corpos nas ruas de Guayaquil no início da pandemia. Além dos 15 mil mortos até o momento, o novo coronavírus também levou a altos índices de desemprego: o Equador tem uma taxa de desemprego 6,6% e de subemprego de 23,4%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censo (INEC). Outros dados mostram uma taxa de desemprego de 13% e de informalidade de 46%. Similarmente, o Banco Mundial afirma que o PIB nacional caiu 9,5%, o que coloca o Equador como a terceira economia mais afetada da América do Sul e com expectativas de crescimento muito baixas, em torno de 3,5%, para 2021.

Assim, as eleições se dão em um país onde a pobreza aumentou 10% em 2020 e onde a sombra dos empréstimos do FMI e da dívida correspondente projetam um futuro de conflito.

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Imagen de una mujer cargando un bebé en un barrio pobre de Guayaquil durante la pandemia. | Shutterstock

Essas eleições presidenciais, que provavelmente terminarão em 11 de abril no segundo turno, refletem uma sociedade equatoriana polarizada e descontente, que já vivia uma situação de protestos sociais no final de 2019, antes de que a pandemia viesse a mudar tudo. Além disso, seu sistema político está quebrado, evidenciado pelo fato de que 16 candidatos concorrem com estruturas partidárias fracas ou inexistentes. Apenas 55% das 1,5 mil propostas dos candidatos dizem como serão implementadas, como mostra um estudo do Ecuador Decide, plataforma do Grupo Faro.

O que resta, então, é a perplexidade de um concurso de promessas absurdas, como o bônus de US$ 1 mil que Arauz ofereceu a um milhão de famílias, lacunas estruturais, crise social, pressão ambiental e a dívida gigantesca do plano da austeridade do FMI.

Quem vencer enfrentará o enorme desafio de superar a divisão entre correistas e anti-correistas, estabilizar as muitas crises em curso e organizar uma saída ordenada e não violenta da pandemia.

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