Tenho lutado pela liberdade desde jovem, porque fui criada em uma sociedade muito violenta. Enfrentei a violência em todas as áreas – social, econômica, de gênero. Eu fui criada naquele ambiente, e minha luta pela liberdade começou quando eu era jovem, dentro de minha casa. Quando falo de violência de gênero, estou falando de algo que está dentro da família. Eu sempre digo: “O sexismo africano tira sua força da cultura africana”. Essas leis sexistas tradicionais estão dentro da família. Você pode ver a discriminação contra as mulheres dentro da sua casa.
A mulher congolesa ainda não se posiciona contra a sua família. Ela ainda não grita, ou levanta-se para falar sobre os seus direitos. Ela ainda está nessa situação. Mas eu tiro meu chapéu para a mulher brasileira. Vejo o quanto elas lutam aqui. Diante de toda discriminação e sofrimento que ainda enfrentam, elas estão lá, lutando. Mesmo as mulheres negras, que sofrem muito aqui. O ativismo das mulheres brasileiras pela igualdade de gênero e direitos está muito avançado. Não há quase nada comparável para as mulheres no Congo. Há muitos fatores que causam isso. Primeiro, há uma barreira para as mulheres em nossa cultura, a qual foi construída há muito tempo. Esta barreira reproduz-se no interior das nossas casas – faz parte do cotidiano das famílias congolesas. É verdade que temos leis que protegem as mulheres no Congo, mas a desigualdade ainda está acontecendo dentro de casa.
Como nós podemos falar sobre a independência da mulher congolesa onde o ideal de ser mulher na sociedade é através do casamento? A mulher congolesa precisa começar a lutar para quebrar essa ideia. Eu não estou dizendo aqui que a cultura congolesa é ruim. Pelo contrário, eu sou muito orgulhosa da minha cultura. Eu respeito muito os meu hábitos e costumes. Mas, quando eu digo que precisamos quebrar alguns costumes, a cultura a respeito do gênero, isso é para que possamos ter igualdade. Digo isto em relação aos costumes que foram estabelecidos pelos nossos antepassados e afetam as mulheres diretamente. Essas leis, que são costumes, foram constituídas pelo ambiente particular de nossos antepassados, e os homens criaram esses costumes na medida em que eles precisavam deles.
Mas eu acho que hoje o mundo evoluiu. Existem muitas coisas que existiram e que não existem mais. Por exemplo, no passado vivíamos de caça e pesca, mas não hoje. Hoje há escritórios e as pessoas vão à escola. A tecnologia e a globalização fizeram muitas coisas mudarem. As coisas também têm de mudar para as mulheres.
Precisamos sair dessas velhas leis e costumes que foram criadas para governar uma sociedade antiga (masculina). Como era no passado, o papel principal das mulheres é se casar, ter filhos e cuidar da casa. Para ter liberdade, precisamos mudar isso.
H. M., cinco anos no Brasil
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