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Quem matou Marielle? Poucas respostas, um ano depois

O assassinato de Marielle foi um ato combinado, planejado e executado com precisão profissional, e um ano depois, continuamos sem respostas.

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13 Março 2019, 12.01
Marielle Franco em um debate político em 2017. Wikimedia Commons. Todos os direitos reservados.

Ativistas, defensores de direitos humanos, políticos e organizações em todo o mundo continuam chocados com a notícia do assassinato de Marielle Franco, uma das primeiras mulheres negras, pobres, ativistas LGBTI a ocupar um cargo público relevante no Brasil quando foi eleita vereadora no Rio de Janeiro. Aconteceu no dia 14 de março de 2018, data que ficará marcada no calendário da infâmia no Brasil.

A bala fatal veio de uma moto enquanto estava no seu carro e morreu instantaneamente, junto com seu motorista. Este crime chocou o mundo e, um ano depois, continua sem solução. Com o lento progresso da investigação, uma coisa ficou clara: o assassinato de Marielle foi um ato combinado, planejado e executado com precisão profissional. Ao que tudo indica, as balas usadas eram do tipo usado pela polícia, o que sugere que foi um crime político em que o Estado brasileiro poderia estar envolvido de alguma forma.

O legado de Marielle representa uma encruzilhada para ativistas e defensores dos direitos humanos que há anos em muitos países da região são sistematicamente silenciados por se oporem a interesses econômicos e políticos. A morte de Marielle ressalta a importância e a imensa dificuldade da luta de mulheres negras, de ativistas, de defensores de direitos que enfrentam situações diárias de risco, ameaças e violência de todos os tipos, cujos agressores continuam protegidos pela impunidade absoluta.

Os policiais militares acusados de estar envolvidos têm ligações obscuras com Flávio Bolsonaro, filho do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e atualmente senador.

O feminicídio político de Marielle já se tornou um símbolo político no Brasil. O evento foi lembrado e comemorado na recente celebração do Carnaval no Rio de Janeiro, onde muitas escolas de samba homenagearam a ativista e política assassinada, exigindo respostas urgentes ao crime execrável. Portanto, ao completar 365 dias desde a morte de Marielle Franco, estes são os fatos mais importante que você deve saber sobre este caso.

O caso avança lentamente

Três momentos foram fundamentais na tentativa de desvendar a verdade sobre esse crime político. A primeira, a prisão do também vereador carioca Marcello Moraes Siciliano em dezembro de 2018. Ele foi identificado como o suposto idealizador do crime e é acusado (embora sem provas conclusivas) de estar diretamente envolvido no planejamento desse assassinato.

O Ministério Público e a Polícia Civil apreenderam material relacionado com o crime de Marielle na casa do vereador, o que também indica o envolvimento de dois ex-policiais militares que foram detidos como possíveis autores do assassinato.

O segundo, uma grande revelação apareceu em janeiro deste ano após essas prisões: esses policiais militares têm ligações obscuras com Flávio Bolsonaro, filho do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, atualmente senador.

O major e o tenente poderiam ser membros proeminentes e milicianos do conhecido Escritório do Crime, um dos mais perigosos grupos criminosos que operam no oeste do Rio de Janeiro. De acordo com a investigação aberta, eles poderiam ter sido os autores do crime, já que Marielle poderia estar limitando ou controlando alguns de seus negócios.

Em terceiro está a prisão inesperada de um policial militar e outro ex-policial, dois dias antes de completar um ano do aniversário de sua morte.

Um seria acusado de puxar o gatilho e o outro de dirigir o veículo usado para o ataque. Estes parecem ser os primeiros resultados concretos de uma investigação complexa que, em todo caso, continua caminhando na incerteza e em uma direção que confirmaria a participação do Estado.

O que o crime contra Marielle ressalta é a difícil situação dos defensores de direitos humanos no Brasil, que registraram no ano de 2017 cerca de 60 execuções de defensores.

A verdade é que o lento progresso da investigação também lança uma conexão entre a oposição de Marielle à militarização das operações de segurança do Rio de Janeiro. Marielle teria descoberto algumas conexões comprometedoras. Marielle poderia então ter sido vítima de um acordo entre as máfias e agentes do poder para silenciar sua voz. A complexidade da trama e a dificuldade em esclarecer os fatos apontam para a existência de interesses imensos para a verdade completa não venha à tona.

Marielle não é a única

O que o crime contra Marielle ressalta é a difícil situação dos defensores de direitos humanos no Brasil, que registraram no ano de 2017 cerca de 60 execuções de defensores. Isso coloca o Brasil no grupo vergonhoso de países que, como a Colômbia, o México e as Filipinas, concentram o maior número de homicídios contra defensores dos direitos humanos no mundo.

O medo e o silenciamento são estratégias implantadas por interesses econômicos e políticos para limitar os avanços dos direitos humanos e capacidade de defender territórios e comunidades.

Em um país com mais de 63.880 homicídios em 2017, setores da sociedade que incluem negros, indígenas, mulheres e a comunidade LGBTI estão expostos a esses riscos. A discriminação que corrói a sociedade brasileira coloca o país em quinto lugar nos índices de feminicídio e o primeiro em assassinatos de pessoas LGBTI, com 445 só em 2017.

A realidade mostra que defender os direitos e o meio ambiente no Brasil tornou-se um exercício de alto risco que espalha sangue, violência e o silenciamento. Revelar a verdade de tudo o que aconteceu com Marielle e levar os responsáveis à justiça são elementos fundamentais para acabar com a impunidade intolerável que legitima o uso da violência como um mecanismo para minar os direitos e corroer a democracia.

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