De acordo com dados do Observatório de Igualdade de Gênero para a América Latina e o Caribe, as mulheres da região passam em média quase dois terços do tempo exercendo trabalhos não remunerados; para os homens, é apenas um terço. Isto inclui a obtenção de recursos básicos para a subsistência, como água, lenha e alimentos.
Quando os desastres climáticos ocorrem, mulheres são forçadas a dedicar mais tempo a contornar o problema, elevando os níveis de desigualdade e pobreza. Quando as condições pioram, também se observam maiores taxas de violência com base em gênero e de tráfico sexual.
Um relatório do Fundo de População da ONU (UNFPA, na sigla em inglês) registrou o aumento nos níveis de tráfico sexual após tempestades severas na região do Pacífico Asiático. Enquanto isso, a violência dos parceiros aumentou durante tempestades tropicais na América Latina, em períodos de seca na África Oriental e durante eventos climáticos extremos nos países árabes.
A saúde das mulheres e meninas também é desproporcionalmente afetada pelas mudanças climáticas devido ao acesso limitado aos serviços de saúde. Segundo o UNFPA, as mudanças climáticas e seus impactos podem elevar as taxas de abortos espontâneos e doenças como a zika, que podem causar problemas congênitos. Em meio a desastres climáticos, além disso, os recursos são remanejados para os serviços considerados “essenciais”, muitas vezes às custas dos cuidados sexuais e reprodutivos.
Lorenza Terrazas, especialista em política climática internacional e coordenadora da organização boliviana Red Pazinde, defende enfatizar as condições de vulnerabilidade enfrentadas pelas mulheres, e não simplesmente vitimizá-las – ao contrário, mostrar a urgência de incluí-las na formulação de respostas às mudanças climáticas.
“Os homens ainda lideram as questões sendo negociadas”, observa Terrazas. “Se quisermos ter participação equitativa, as mulheres devem ser tomadoras de decisões em questões ambientais”.
“El tráfico sexual aumentó después de los ciclones en la región de Asia y el Pacífico y la violencia de pareja aumentó durante la sequía en África Oriental, así como en las tormentas tropicales en América Latina y fenómenos meteorológicos extremos similares en la región de los Estados Árabes”, citó el informe del Fondo de Población de las Naciones Unidas (UNFPA).
Passos adiante
Embora tenham ocorrido avanços no reconhecimento da relação entre gênero e mudanças climáticas nos últimos anos, ainda falta algo fundamental: a maior presença das mulheres, não apenas nas cúpulas, mas também na mesa de negociação e em outros espaços de tomada de decisão.
“Na América Latina, há um movimento feminista muito importante, e a compreensão das questões de gênero é muito avançada”, diz Jazmín Rocco Predassi, da Farn. “Esta visão ainda precisa aparecer na agenda climática. É importante trabalhar na integração, porque as mudanças climáticas não são cegas ao gênero”.
Este artigo foi originalmente publicado no Diálogo Chino.
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