Racismo! Pessoas e a polícia me dizem o tempo todo que o Brasil não é o meu país, e que eu deveria voltar para o meu país. Às vezes a polícia bate na gente. Eu tenho um vídeo onde um policial brasileiro dá um soco em uma congolesa. Ela desmaiou. No meu país, não existe racismo, mas eu morei em Angola por cinco anos antes de vir para o Brasil, lá existe. É demais, é pior que aqui. Em Angola, os congoleses não têm o direito de trabalhar. Não tem direito de viver. Todo dia a polícia entra nas casas e nos hospitais para pegar os congoleses. Se você não tem os documentos, eles te mandam de volta.
No Brasil, quando você procura um trabalho em um escritório ou em um bar, eles dizem: “Nós preferimos brasileiros, nós não gostamos de africanos”. Ou quando você está no metrô, muitos brasileiros te encaram e tentam te intimidar. Você sempre escuta pessoas dizendo que “africanos vieram para sujar o nosso país”. Às vezes você está andando e alguém na rua diz algo ofensivo, do nada, para você. É chocante!
Outra coisa importante em relação a restrição da nossa liberdade é a violência de gênero. No meu país, existe muita violência contra a mulher. Um homem pode bater em uma mulher no meio da rua – em quem ele quiser, até na sua mãe. Às vezes ele nem te conhece e te agride. A polícia não protege a mulher contra esse tipo de violência. Eles protegem, sim, as pessoas de foram que vão para nosso país trabalhar nas ONGs. Se você ataca essas pessoas que vem de fora, você será punido. Nós somos as pessoas que sofrem e não recebem proteção da polícia. Pessoas com proteção são aquelas que tem dinheiro. Quem tem dinheiro, tem poder, certo?
Não existe discussão sobre gênero e sexualidade. No Congo as pessoas se chamam o tempo todo de “veado” ou “puta”. Crianças crescem com essas palavras na boca. Em Angola, é mais comum você ver pessoas do mesmo sexo se relacionando, mas no Congo, se você é lesbica ou gay você tem que fazer isso em segredo. Se você “sai do armário”, todos vão estar contra você. Se você usa roupas curtas, eles vão mexer com você na rua.
G. L., cinco anos no Brasil
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