Quando você é negra e africana, no trabalho, todo mundo pergunta de onde você é, se existe supermercado no meu país. Eu tenho que ensina-los. Eu preciso dizer que no meu país existe tudo, mas lá existe guerra e nós enfrentamos problemas financeiros, e que é melhor sair do que ficar, mas que o meu país não é uma floresta como eles pensam. Isso é muito triste porque eu deixei a minha família e eu estou sozinha aqui com o meu marido. A única família que eu tenho aqui são as pessoas brasileiras, mas eles não nos tratam bem. Nós ficamos frustrados e tristes.
Eu não tenho um trabalho de fato faz dois anos. Apenas o meu marido está trabalhando, e é muito difícil para o casamento quando apenas uma pessoa trabalha. Ele é quem paga o aluguel, energia, as compras, então isso é muito complicado para a sobrevivência e para eu poder me sentir livre. A língua é um problema também. É difícil você se sentir livre quando existe a barreira da língua. Eu fiz aulas de português e hoje o meu português é melhor, mas ainda assim, viver em um país onde não dominamos a língua completamente, você vive com várias restrições.
Mas, é importante dizer que muitas mulheres brasileiras são generosas e amigas comigo. Além disso, muitas brasileiras trabalham em escritórios, elas possuem bons trabalhos, enquanto no meu país isso é muito difícil para uma mulher conseguir trabalho – a maioria das mulheres ficam em casa após o casamento, elas têm que ter filhos e depois cuidar da casa. No Brasil, você vê que um monte de mulher grávida trabalhando. No meu país, não é assim. Isso me revolta, quando eu penso sobre o meu país. Eu penso, se elas podem fazer tudo isso aqui, nós também podemos fazer lá. Como mulher, eu também posso trazer algo para a sociedade. Eu sou útil. Essa é a diferença que eu vejo entre as mulheres congolesas e brasileiras, quando você pensa sobre liberdade.
Eu penso em deixar o Brasil, porque eu quero ter filhos e aqui pode ser complicado para nós. Apenas o meu marido está trabalhando, será muito difícil sobreviver assim, porque é ele quem paga o aluguel, tem a escola das crianças, água, o supermercado – tudo isso ficaria pesado para o meu marido. E, eu não quero ter filhos para que eles sofram. Esse é o motivo pelo qual eu penso em sair. Em outros países, quando você tem filho e não tem um trabalho, o governo te ajuda a tomar conta da criança, então você consegue comprar leite, açúcar, arroz, roupas, e os educar.
A. K., dois anos no Brasil
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