Os EUA, o Canadá, a China e a Europa são as potências mundiais que contribuíram para a rápida deterioração da qualidade de vida dos centro-americanos por meio de esquemas de exploração e pressão política. Da destruição das economias locais como resultado do Tratado de Livre Comércio entre Estados Unidos, América Central e República Dominicana (CAFTA-DR), ao reforço das políticas comerciais que evitam o cumprimento dos direitos humanos e ao Acordo de Associação entre a União Europeia e América Central, que protege e consolida a dominação e o controle de grandes corporações da matriz energética dos países da América Central.
Poderia a região, desta vez, ser um espaço de teste para um conjunto de políticas que vão, justamente, na direção oposta? Poderosas forças progressistas de ambos os lados do Atlântico se atrevem a pressionar por um Novo Acordo Verde para a América Central como uma resposta à atual crise?
Seria possível para o mundo desenvolvido imaginar uma moratória para os países que são os mais desiguais, violentos e vulneráveis às mudanças climáticas, permitindo que seus povos tenham flexibilidade suficiente para aplicar excepcionalmente outro modelo econômico? Energia limpa? Empregos decentes? Sementes nativas?
A América Central é responsável por 7% da biodiversidade mundial, apesar de seu pequeno tamanho. A região lidera o ranking dos países mais desiguais do mundo e dos países mais pobres das Américas, e abriga quatro das cinquenta cidades mais violentas do mundo. Se a desaceleração econômica se somar à extrema vulnerabilidade às mudanças climáticas, à falta de políticas públicas ativas de inclusão das mulheres e ao racismo às populações indígenas e afrodescendentes, é óbvio que o número de pessoas dispostas a migrar para o Norte, mesmo arriscando tudo, continuará aumentando.
Um "Green New Deal" para a América Central permitiria a realização de testes-piloto, dando forma concreta e defendendo um futuro diferente - não mais como uma ideia, mas como uma realidade comprovada. Substituição de instituições frágeis e fracassadas por arquitetura resultante da transformação econômica e ecológica, fortalecendo as comunidades indígenas e rurais, recuperando o controle do patrimônio natural, revertendo o rápido desaparecimento de espécies únicas, preservando as reservas de oxigênio remanescentes na região, compensando os países da América Central pelo impacto que 10% do mundo infligem sobre eles, colocando-os no mapa dos países mais ameaçados pela crise climática global. Essas mudanças não dependem dos congressos desses países. Elas dependem de Washington, Bruxelas e das instituições financeiras internacionais.
Se a mudança radical não for uma opção, os remendos de ajuda humanitária acabarão nos bolsos de empreiteiros ligados ao setor de segurança.
Essa crise humanitária resume os fracassos do sistema que o mundo inflige aos pobres, levando-os a cruzar mares e desertos e arriscar tudo em busca de uma vida mais digna. Ao mesmo tempo, é também uma oportunidade para uma mudança radical, para transcender os discursos que prometem “futuros sustentáveis” paliativos que ninguém está disposto a financiar. É uma oportunidade para elevar a solidariedade internacional com base em um plano concreto - além das palavras e do papel.
Se o "Green New Deal" não funcionar aqui e agora, se não conseguir superar as reações dos campos humanitários e êxodos em massa e produzir uma pauta positiva, amanhã será tarde demais. Se selarmos um novo contrato social, devemos incluir todos; devemos nos certificar de que ninguém seja deixado para trás - começando com aqueles a quem devemos mais.
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