A chamada de Zoom mais longa da história está em andamento na Assembleia Geral das Nações Unidas desde terça feia, 21 de setembro. Como de costume, o Brasil foi o primeiro país a discursar. E como esperado, o presidente Jair Bolsonaro veio munido, mirando em inimigos reais e imaginários. Embora ele tenha pulado de um tópico para outro, alguns temas se destacaram. Foi um discurso, como diz o ditado, "para inglês ver". Foi também um ataque contra a mídia e qualquer pessoa que discorde do presidente. O discurso de Bolsonaro também serviu para inflamar seus mais fervorosos apoiadores, muitos dos quais suspeitam de instituições globais como as Nações Unidas e adoram ver seu líder atacando os “globalistas.”
Bolsonaro começou em terreno familiar, lembrando os outros líderes de que, apesar de toda a publicidade negativa, o Brasil está "aberto para o investimento". Ele afirmou que o país registrou ingressos de investimento estrangeiro sem precedentes sob sua administração, quando na verdade o inverso é o caso. Ele também elogiou o poderoso setor do agronegócio brasileiro, um grande aliado do presidente, que ele diz estar alimentando mais de um sexto da população global. Entretanto, algumas poucas vezes, Bolsonaro saiu de sua zona de conforto, mencionando questões relacionadas à economia digital, inteligência artificial e proteção de dados.
Sua intervenção tornou-se cada vez mais provocadora à medida que tocava nos dois temas que ameaçam derrubar seu governo. O primeiro é a sua gestão da pandemia da Covid-19, amplamente descrita como uma das mais desastrosas do mundo. O Brasil tem atualmente a terceira maior taxa de infecção do mundo e o maior número de médicos e enfermeiros que morreram em decorrência da doença. Apesar de presidir um sistema de saúde pública de alta qualidade, Bolsonaro não soube administrar a crise, preferindo nega-la. Embora afirme que seu governo delegou aos estados a responsabilidade de responder à pandemia, ele esqueceu de mencionar que atacou e perseguiu pessoalmente os governadores em todas as ocasiões.
Bolsonaro repetiu sua afirmação de que as respostas à Covid-19 deveriam equilibrar a saúde da população com os imperativos da economia. No entanto, Bolsonaro se destaca por sua abordagem singularmente polarizada – minimizando a ameaça da doença (que ele descreveu como uma "gripezinha") e encorajando seus apoiadores a desafiarem as diretrizes de saúde pública que poderiam prevenir sua propagação. Em seu discurso, ele criticou a mídia por politizar o vírus, acusando-a de fomentar o "caos social". Embora seja verdade que seu governo está um auxílio emergencial imensamente popular a mais de 65 milhões de brasileiros, sua ideia inicial era outra. Em realidade, ele se opôs veementemente até que reconheceu os dividendos políticos que poderiam acontecer (e acontecerem).