democraciaAbierta: Opinion

Bolsonaro veste a camisa do assistencialismo e se aproxima de Lula

“Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família. Então vote em outro candidato", disse Bolsonaro em 2017. Hoje, ele pretende co-optar o projeto social de Lula com o Renda Cidadã.

Robert Born
Robert Born
12 Outubro 2020, 12.01
Jair Bolsonaro
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Jeso Carneiro/Flickr/CC BY-NC 2.0

Projeto assistencialista do presidente Jair Bolsonaro pretende englobar o Bolsa Família, programa social de maior sucesso do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que Bolsonaro criticou até assumir a presidência.

“Gostaria que a maioria da população brasileira tivesse um mínimo de conhecimento [...] para escolher A, B ou C, sem ser com o seu estômago. [...] O Governo Federal dá para 12 milhões de famílias em torno de 500 reais por mês, a título de Bolsa-Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos.”

Esta frase foi dita pelo então deputado federal Jair Messias Bolsonaro em agosto de 2010 quando Dilma Rousseff e José Serra disputavam a presidência da república. No mesmo ano, Bolsonaro reafirmou que o Bolsa Família tornavam pessoas “ignorantes” eleitoras de cabresto do PT.

Em 2011, chamou o programa de assistencialista e atacou o Bolsa Família ao dizer que tratava-se de um “obstáculo para que se escolha um bom presidente”.

A aprovação do governo Bolsonaro saltou de 29% em dezembro para um recorde de 40% em setembro, um mês após anunciar a prorrogação do auxílio emergencial

Avancemos para 2020. Bolsonaro anuncia a prorrogação até o fim do ano do auxílio emergencial que beneficia famílias de baixa renda e trabalhadores informais. No fim de setembro, ele anunciou a criação do Renda Cidadã, um programa social que pretende suceder o atual auxílio emergencial e substituir o Bolsa Família, projeto criado pelo rival e ex-presidente Lula.

O que mudou?

Bolsonaro sentiu o gosto de aprovação por parte do eleitorado em 2020 após o início da pandemia. Em um levantamento feito pelo Ibope, a aprovação do governo saltou de 29% em dezembro do ano passado para um recorde de 40% em setembro deste ano, um mês após anunciar a prorrogação do auxílio emergencial.

Em agosto de 2017, quando já era cogitado como pré-candidato à presidência, Bolsonaro criticou mais uma vez de forma contundente o Bolsa Família. “Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família. Então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto.”

No fim de setembro deste ano ele anunciou a criação do Renda Cidadã, indo na direção contrária de anos de palanque como deputado federal. Bolsonaro aproximou-se das ações de Lula que, quando presidente da república no início do século, ampliou e criou inúmeros projetos sociais para ajudar a parcela da população mais carente.

Tal aproximação das ações do rival Lula pode dar-lhe a reeleição que ele tanto gostaria. Mas também poderia trazer um carma enorme em forma de um processo de impeachment

Bolsonaro descobriu que há inverdades no provérbio que afirma ser melhor ensinar uma pessoa a pescar ao invés de dar-lhe o peixe. O presidente da república começa a entender que não é fácil pescar de barriga vazia.

Alguns críticos afirmam que o auxílio emergencial e as políticas assistencialistas de Bolsonaro são responsáveis por apenas 8% no aumento de aprovação do governo, mas a mídia tradicional concorda, em peso, que a nova faceta do presidente tem cheiro de manobra para reeleição.

O próprio presidente precisou de oito tuítes seguidos para explicar-se. Afirmou que não se preocupa com reeleição, negou que se faz qualquer coisa está “pensando em 2022”, mas que busca antecipar os problemas sociais que acontecerão em 2021 por conta da pandemia. Tal aproximação das ações do rival Lula pode dar-lhe a reeleição que ele tanto gostaria. Mas também poderia trazer um carma enorme em forma de um processo de impeachment, já que um dos autores do impeachment de Dilma Rousseff acusou o Renda Cidadã de pedalada fiscal, o mesmo argumento que derrubou a ex-presidente.

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