Mas a operação contra os membros da brigada tem a intenção de construir sua verdade alternativa, inclusive vazando para a imprensa vídeos gravados por um drone, em que os membros da brigada seriam vistos provocando o fogo, como evidência das acusações. Mas em uma declaração, o Instituto, que não teve acesso às imagens citadas, levanta duas hipóteses sobre a origem desse conteúdo: 1) que são imagens de fogo controlado durante um exercício de treinamento padrão, próximo ao Corpo de Bombeiros, ou 2) que as imagens mostram uma ação conjunta de brigadas e bombeiros usando a tática “fogo contra fogo”, usada no combate a incêndio, sempre sob a supervisão do Corpo de Bombeiros.
De qualquer forma, o envenenamento é enorme. E a indignação de pessoas e grupos no terreno também. A ação contra o PSA dói especialmente porque a organização fundada pelos irmãos Scanavino, que, entre outras atividades, opera um navio ambulatório que percorre incansavelmente as comunidades que prestam serviços de saúde, conquistou o amor e a devoção de muitas organizações e grupos que habitam as margens e igarapés dos rios Amazonas e Tapajós.
Um desses grupos, formado por mulheres indígenas de Alter (Suraras do Tapajós), também emitiu uma declaração de apoio e afirmou que “o que estamos testemunhando é uma tentativa de manipular a opinião pública para desmoralizar ONGs e movimentos sociais. Até nós, indígenas, fomos acusados, caluniosamente, de ser responsáveis pela queima da Amazônia. Alter do Chão é um lugar de grande especulação imobiliária, invasão e apropriação de terras e estamos testemunhando a reversão dos fatos, na tentativa de incriminar pessoas inocentes e desviar a atenção dos problemas reais em jogo”.
Quando Bolsonaro deu carta branca a todos os tipos de extrativistas para destruir a Amazônia, ele sabia que encontraria resistência significativa. Mas é claro que ele continua convencido de que a ganância de seu modelo predatório ganhará o jogo. Mas, para lidar com esse impulso destrutivo, existe um tecido importante e resistente da sociedade civil, que inclui os povos indígenas, que resistem.
Os bolonaristas sabem que, para abrir caminho, precisam demonizar as ONGs e manipular a opinião pública com casos como essas brigadas. E eles não têm escrúpulos em construir a mentira que lhes interessa, como negar sistematicamente as mudanças climáticas ou atribuir a destruição da Amazônia precisamente àqueles que lutam para salvá-la.
Um incidente ocorreu em julho passado em uma praça Alter entre um grupo de ativistas locais e o ministro da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub. Ele acabou confrontando publicamente os vizinhos e, em seguida, exigiu uma ação vigorosa para perseguir ativistas que apenas procuravam transmitir seus protestos.
Não seria surpreendente se ainda estamos testemunhando ondas de choque daquele episódio doloroso que deixou visível o caráter autoritário e inescrupuloso daqueles que hoje governam o Brasil.
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