democraciaAbierta: Opinion

Covid-19 Brasil: irresponsabilidade de Bolsonaro exige impeachment

O presidente não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Español

José Zepeda
7 Abril 2020, 3.41
Manifestantes participam de ato a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, em São Paulo, 15 de março de 2020
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FotoRua/NurPhoto/PA Images

Quando o medo da morte é inevitável, nos esforçamos por buscar esperança, voltar os olhos à fé enfraquecida ou, na pior das hipóteses, a persistir em ilusões, por mais falsas que sejam.

Mas até agora não havíamos vivido o caso de alguém que nega o perigo, que o menospreza, que tenta minimizá-lo para proteger seus interesses.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, está comprometido com o impensável.

Todos gostaríamos de acreditar nele. Unir-se à tolice. Tudo indica que Bolsonaro é a maior insolvência mental das últimas sete décadas. O presidente brasileiro está caminhando sobre a linha da negligência criminal contra seu próprio povo. Está caminhando em direção a um crime contra a humanidade, porque ele pode e não pretende impedir que milhares de brasileiros sejam vítimas de morte prematura.

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A realidade social brasileira é tão incerta, o futuro tão sombrio que obrigou a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia a ir ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, para denunciar o Presidente Bolsonaro nesta quinta-feira, 2 de abril, por crimes contra a humanidade. É um esforço desesperado que, mais que uma condenação, procura que o governo recupere a razão de usar todos os recursos disponíveis em prol da vida de mais de 210 milhões de habitantes.

Os juristas brasileiros dizem que "Por ação ou omissão, Bolsonaro coloca em risco a vida da população, perpetua crimes que exigem a ação do Tribunal Penal Internacional para proteger a vida de milhares de pessoas".

A realidade parece estar fora de controle. Entre as muitas declarações adversas, há uma que diz: "Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável... um presidente que contraria as autoridades de saúde pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários. Basta!"

Apesar da ameaça, Bolsonaro insiste em uma posição irracional

Em 5 de abril de 2020, o Brasil tinha mais de 10.278 mil casos de contágio e pelo menos 431 mortes.

É essa realidade difícil de assimilar que nos leva a chamar José Carlos Dias, ex-Ministro da Justiça, atual Presidente da Justiça e Paz de São Paulo e Coordenador da Comissão da Verdade Brasileira. José Carlos Dias sabe que seu país é o mais afetado na América Latina pelo coronavírus.

Sabemos que o discurso do presidente Jair Bolsonaro suavizou desde que ele chamou a pandemia de "gripezinha", hoje chamando-a de problema global. No entanto, continua sendo o maior e talvez o único negador da Covid-19. É difícil acreditar que é simplesmente ignorância.

O presidente é um homem que não tem noção de nada. É totalmente louco, inconsistente. E nessa crise ele comete um crime contra a saúde do povo brasileiro.

Hoje ele está sozinho. Governadores, ministros e principalmente o Ministro da Saúde são homens que agem de maneira séria.

De fato, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem uma atitude diferente da do presidente. Por exemplo, ele prevê o aumento exponencial de infectados e mortos nas próximas semanas. Ele fala, acima de tudo, da necessidade urgente do fornecimento de equipamentos de proteção, recursos médicos e ventiladores. Ele continua pedindo para as pessoas ficarem em casa.

Se, com os auxílios estatais, a situação é extrema em vários países, imagine o colapso do sistema de saúde brasileiro, se não houver ação decisiva do governo.

Apesar da ameaça, Bolsonaro insiste em uma posição irracional.

José Carlos enfatiza que não deve ser presidente da república, porque age contrariamente aos interesses da saúde pública do país.

E há muitas pessoas que ainda acreditam no presidente?

Ainda tem uma certa popularidade, mas acho que está em um estágio mínimo hoje.

Você é um dos signatários de uma chamada a favor da vida. Que eco tem esse tipo de afirmação entre a população do Brasil?

Isso gera uma reação importante contra. Quando ele fala na rede nacional de televisão de todo o país, as pessoas respondem com panelaços. É a reação civilizada ao discurso não civilizado e insensível. Eu acho que todos os dias ele perde mais popularidade (de acordo com uma pesquisa do Datafolha, o presidente reduziu sua popularidade para 33%).

Não é um mistério que o presidente Bolsonaro seja um dos líderes mais iletrados do mundo

O coronavírus não respeita as classes sociais ou de gênero, apesar de atacar pessoas idosas com maior virulência. Mas também é verdade que os setores mais vulneráveis, como 40% dos que estão na economia informal ou os dois milhões de jovens que vivem nas favelas do Rio de Janeiro ou os povos indígenas da Amazônia, podem ser as maiores vítimas. Não quero exagerar, mas isso pode se transformar em uma tragédia humana muito profunda.

Mais importante ainda, a desigualdade social é imensa. Portanto, a população mais pobre é a mais exposta. Ela não tem como seguir as diretrizes de manter uma distância segura de um para o outro. Vivem em espaços pequenos ​​e estreitos, com pouco saneamento. É terrível imaginar isso. Podemos viver trancados em nossas casas, isolados, porque temos os meios para fazê-lo. A realidade das pessoas mais pobres, que é a maior porcentagem da população, não tem essa possibilidade mínima.

Não é um mistério que Bolsonaro seja um dos líderes mais iletrados do mundo. Não lhe parece que, em grande medida, ele ocupar essa posição ilustra um fracasso democrático de proporções sérias no país mais importante da América Latina?

Sim. É um grande fracasso. A eleição de 2018 foi resultado de uma intensa estratégia através das redes sociais. Bolsonaro se beneficiou ao rejeitar debates públicos com os outros candidatos, porque ele é muito ruim na controvérsia.

Além disso, a corrupção alcançou níveis intoleráveis ​​para o povo.

Lembremos que ele era um péssimo deputado, que foi praticamente obrigado a deixar o exército por sua participação em um plano violento no quartel e esse homem é hoje o presidente da república. Não tem cultura nem base para ser estadista. Por tudo isso, acredito que Bolsonaro não vai terminar seu mandato.

O presidente diz que "o brasileiro não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto... e não acontece nada". Declarações dessa natureza ignoram qualquer recomendação de organizações internacionais de saúde, a experiência dramática na Europa e que, se concordam em uma coisa, é em virtude do isolamento social.

Resta apenas ver o que acontecerá no futuro no Brasil de Bolsonaro. Ainda é paradoxal que, o homem que foi votado por mais de 49 milhões de cidadãos prometendo segurança, seja hoje o principal obstáculo para alcançá-la no campo da saúde nacional.

Assim como o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Evaristo Arns, posso dizer que os 22 membros estão discutindo a possibilidade de fazer um pedido de impeachment, um processo de destituição. Ao mesmo tempo, conversamos com outras entidades brasileiras, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Associação Brasileira de Imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil, além de outras entidades nacionais.

Eu não acredito que seja bom que isso termine com o impeachment, o ideal seria ele renunciar, mas ele nunca fará isso.

Você faz uma pergunta que nos fazemos no país com frequência. O presidente praticou crime de responsabilidade, violou as leis do decoro, sua posição sobre a pandemia é um crime que pode ser caracterizado como um crime contra a humanidade.

Estou absolutamente certo, sem dúvida, de que a responsabilidade do presidente atende a todos os fatores agravantes de um pedido de impeachment. Naturalmente, a decisão final está nas mãos do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

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