democraciaAbierta

Crise institucional se aprofunda no Peru

A libertação de Keiko Fujimori nesta semana chama a atenção por acontecer dois meses antes das eleições legislativas, convocadas para 26 de janeiro. Español

democracia Abierta
27 Novembro 2019, 12.01
10 de outubro de 2018, Peru, Lima: defensora da líder da oposição Keiko Fujimori segura uma faixa que diz "Fujimori Liberdade" depois que a política foi provisoriamente presa.
|
Foto: Geraldo Caso Bizama/DPA/PA Images. Todos os direitos reservados.

As recentes manifestações no Equador, Chile e Bolívia, além do ciclo eleitoral que a América do Sul viveu em outubro, ofuscaram a crise institucional do Peru.

Mas desde que o presidente Martín Vizcarra dissolveu o Congresso peruano em 30 de setembro, os problemas no Peru vêm se aprofundando. A evidência pode ser vista nas pesquisas de aprovação de Vizcarra que despencou de 70% para 58% em novembro, segundo o Instituto de Estudos do Peru (IEP). Essa queda vem depois que sua popularidade subiu para mais de 80% em outubro, depois de passar a resolução que dissolveu o Congresso.

Desde então, notícias sobre o Peru nos chegam a conta gotas. Entre protestos pontuais, e a soltura de Keiko Fijimori, as últimas notícias apontam para um rebuliço que fecha o complicado ano que o país andino viveu em 2019.

Keiko Fujimori e o terremoto Odebrecht

Essa semana começou com a notícia de que o Tribunal Constitucional havia aprovado por quatro votos a três a libertação da líder de oposição.

Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori atualmente preso, foi presa em outubro de 2018 acusada de corrupção em um esquema envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht. A ordem do Tribunal não implica na absolvição ou condena de Fujimori.

A soltura de Fujimori acontece apenas dois meses antes das eleições legislativas, que o presidente convocou para o 26 de janeiro

Fujimori - ex-candidata à presidência e líder do Força Popular, partido conservador de direita que faz oposição ao governo de Vizcarra - foi presa baixo acusação de receber dinheiro criminoso da Odebrecht durante sua campanha presidencial nas eleições de 2011. Ela perdeu para o candidato Ollanta Humala, que também foi preso como consequência das investigações do braço peruano da Lava Jato.

Além desses dois personagens centrais na política peruana, o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski também foi preso durante as investigações sobre pagamentos de propina da empresa brasileira. A Lava Jato também culminou em um pedido de prisão do ex-presidente Alan García, que cometeu suicídio em abril deste ano quando agentes da polícia chegaram a sua casa para prendê-lo.

Keiko e as eleições legislativas

A decisão do Tribunal Constitucional de soltar Fujimori esta semana chama a atenção pelo momento político em que ocorreu. A soltura de Fujimori acontece apenas dois meses antes das eleições legislativas, que o presidente convocou para o 26 de janeiro.

O partido de Fujimori, Força Popular, tinha maioria no parlamente até que Vizcarra o dissolveu em 30 de setembro deste ano. O partido deve concorrer às eleições de janeiro, e Fujimori não deve participar. No entanto, seu retorno à vida política deve dar nosso alento ao partido de extrema direita.

“Será importante ter Keiko livre. A vitimização causada por sua prisão injusta gerará um efeito positivo no eleitorado. Isso sempre favorece...", disse Alejandro Aguinaga, ex-congressista e ex-ministro da Saúde.

“Será importante ter Keiko livre. A vitimização causada por sua prisão injusta gerará um efeito positivo no eleitorado. Isso sempre favorece. Mas é preciso levar em consideração as restrições que pode incluir o TC, não sei se elas permitem que ela participe da campanha. De qualquer forma, liberar nossa líder dá um novo impulso ao partido”, disse Alejandro Aguinaga, ex-congressista e ex-ministro da Saúde.

Dissolução do Congresso

O complicado ano jogou o Peru – um país conhecido como um bastião de estabilidade na América Latina – nas profundezas da incerteza.

Vizcarra dissolveu o Congresso no último dia de setembro. O Congresso respondeu com uma declaração que suspendia a presidência de Vizcarra, e nomeou a vice presidente, Mercedes Aráoz, ao cargo. O país acordou em outubro com dois presidentes, e ninguém com poder de governar de fato.

O conflito entre Vizcarra e o Congresso vem desde a presidência de Kuczynski, de quem Vizcarra era primeiro vice presidente. Em 15 de setembro de 2017, o Congresso aprovou, por uma ampla margem, uma moção de censura contra o primeiro-ministro e o gabinete levando a nomeação de um novo primeiro ministro.

In março de 2018, Kuczynski renunciou ao cargo de presidente quando foi exposto escândalo envolvendo o deputado Kenji Fujimori, filho do ex-presidente Fujimori. Kenji virou o alvo de uma investigação de compra de votos para evitar a destituição do então-presidente Kuczynski. O afastamento de Kenji Fujimori resultou em uma vitória para sua irmã mais velha, Keiko, já que os dois brigavam pela herança política do pai.

Na ocasião, Vizcarra assumiu a presidência por ser o primeiro vice presidente. Após assumir o cargo, Vizcarra vestiu a farda da anticorrupção, e liderou os esforços de investigar Keiko Fujimori. Desde então, ele e o Congresso liderado pela oposição se encontram em conflitos políticos.

Protestos

Essa semana também começou com protestos em Lima por diferentes motivos.

Centenas de manifestantes saíram às ruas na segunda-feira (25) para protestar contra a libertação de Keiko Fujimori. Confrontos entre manifestantes e policiais foram reportados em alguns pontos.

Outras centenas de pessoas também se reuniram na capital peruana para comemorar a libertação de Fujimori, mostrando o quanto os Fujimori dividem a sociedade

Entretanto, outras centenas de pessoas também se reuniram na capital peruana para comemorar a libertação de Fujimori, mostrando o quanto os Fujimori dividem a sociedade.

A segunda também foi marcada por conflitos entre a polícia e taxistas informais, conhecidos como colectiveros no país, que exigem a formalização do serviço de transporte que oferecem. Até a segunda-feira (25), pelo menos 120 colectiveros haviam sido presos por queimar pneus em diferentes pontos da capital Lima.

Na terça-feira (26), pelo menos cinco parlamentares da Força Popular apresentaram projetos de lei para formalizar os motoristas informais. Em 2017, os colectiveros estiveram a ponto de ser formalizados por membros do partido de Keiko Fujimori.

O ano acaba tão conturbado como começou. Desde que a Odebrecht começou a cooperar com as autoridades peruanas na investigação de esquema de pagamentos de propinas em 2016, o país vem vivendo uma verdadeira tormenta. Em janeiro, Vizcarra tem a chance de se tornar um presidente com aliados no poder. Mas o retorno de Fujimori é definitivamente um obstáculo nessa trajetória.

We’ve got a newsletter for everyone

Whatever you’re interested in, there’s a free openDemocracy newsletter for you.

Comentários

Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy
Audio available Bookmark Check Language Close Comments Download Facebook Link Email Newsletter Newsletter Play Print Share Twitter Youtube Search Instagram WhatsApp yourData