Testes de Covid-19 em Bogotá, na Colômbia, foram interrompidos durante os protestos de maio de 2021
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Chepa Beltran / VWPics / Alamy Stock Photo
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Desde o começo da pandemia em março de 2020, os países da América Latina, assolados por uma incontrolável desigualdade endêmica, enfrentam uma trágica dicotomia: na região, ou se morre de Covid-19 ou de fome. As quarentenas, os isolamentos e os fechamentos do comércio, embora eficazes na contenção da propagação do vírus, desencadearam outros problemas que evidenciaram a profunda estrutura desigual da região.
Na América Latina e no Caribe, 22,4% da população vive na pobreza, ou seja, ganha menos de US$ 5,5 por dia. Esse número é muito maior em vários países da região, como a Colômbia, onde, em 2020, 42% da população vivia na pobreza, ou seja, com cerca de US$ 90 por mês.
A forte informalidade econômica característica da América Latina não mostra um cenário mais promissor. O setor informal equivale a 35% do PIB da região, setor que emprega 36% da população, uma porcentagem que se estima ter aumentado significativamente durante a pandemia.
Pedir aos cidadãos que fiquem em casa é quase uma sentença de morte para aquela grande proporção da população que sobrevive com sua renda diária. Na Colômbia, milhares de pessoas penduraram panos vermelhos em suas janelas e portas durante os confinamentos, como um sinal de fome, como um pedido de ajuda.
The Covid-19 public inquiry is a historic chance to find out what really happened.
Um pano vermelho pendurado em uma janela como sinal de socorro para receber ajuda e subsídios do governo em Bogotá, Colômbia, em 21 de abril de 2020
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REUTERS / Alamy Stock Photo
No entanto, os governos da região não foram capazes de subsidiar ou prestar ajuda a seus cidadãos. Apenas 58% da população regional recebeu ajuda de emergência durante a pandemia, deixando um trágico 42% forçado a sobreviver da forma que pôde. Em muitos países, a discussão sobre uma renda básica universal ainda está longe de ser concreta.
É nesse cenário que a dicotomia entre Covid-19 e a fome está subjacente. Mas depois de um ano e meio de medidas de confinamento, a fome começa a ganhar o jogo. Os cidadãos não podem mais ficar em casa e os governos cedem. Bogotá, por exemplo, em seu pior pico da pandemia, abriu a cidade 100%, retirando qualquer tipo de restrição. A prefeita da capital colombiana, Claudia López, argumentou que entende que as pessoas têm mais medo de morrer de fome do que de morrer de Covid-19 e decidiu correr o risco de abrir Bogotá sem restrições.
E embora a pobreza, a informalidade e a desigualdade cresçam devido à pandemia, o vírus continua fora de controle na região e a capacidade hospitalar está no limite.
Casos confirmados por milhão de pessoas:
Mortes confirmadas por milhão de pessoas:
Nesse cenário, outro desafio chega à região: a distribuição desigual de vacinas. Enquanto os países do Norte Global se coordenam para produzir e armazenar uma quantidade de vacina equivalente a duas ou três vezes suas populações, na América Latina todos procuram vacinas onde podem.
Proporção da população vacinada:
Mapa mundial de pessoas vacinadas com todas as doses necessárias
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Fonte: Johns Hopkins University Coronavirus Resource Center
Proporción de vacunas en Latinoamérica | Elaboración propia. Fuente: Johns Hopkins University Coronavirus Resource Center
Controlar o vírus provou ser uma tarefa difícil em todo o mundo, mas a pobreza, a desigualdade, a informalidade, a fome e a baixa capacidade hospitalar e governamental, juntamente com uma distribuição fundamentalmente desigual de vacinas, colocaram a América Latina em uma situação mais crítica do que em qualquer outro lugar. A enorme inquietação social, que já se manifestava com força na região no segundo semestre de 2019, pode reaparecer com força, como vimos na Colômbia no mês passado. As condições da população já eram difíceis antes da pandemia, e os governos eram insensíveis às demandas dos cidadãos. O que farão agora?
Resta saber se, quando atingir uma taxa de vacinação aceitável e os programas internacionais, como o Covax ou a promessa do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de doar 500 milhões de vacinas da Pfizer, entregarem os suprimentos anunciados, a região conseguirá enfrentar o vírus e começar a corrigir sua imensa desigualdade, que provou ter consequências caras.
Na Europa e nos EUA parece haver um claro consenso de que a saída da crise pandêmica é por meio de políticas monetárias expansionistas com fortes injeções de liquidez no sistema, a par do reforço das políticas sociais e da ajuda aos setores mais vulneráveis. Os governos da América Latina devem tomar nota e agir de acordo, se não quiserem que as revoltas sociais, que inevitavelmente ocorrerão, desestabilizem ainda mais suas já frágeis democracias.
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