Quando cobrimos a Amazônia, tememos o perigo a cada esquina.
Quando estávamos saindo de território indígena no Pará em uma de nossas recentes viagens jornalísticas, fomos abordados pela polícia militar. Com armas apontadas para nós, os agentes revistaram nossas mochilas e pertences pessoais enquanto nos questionavam.
Nos deixara ir apenas quando perceberam que éramos repórteres estrangeiros. Mas deixaram um aviso: "Eu teria cuidado ao andar por aqui. São lugares perigosos, especialmente para jornalistas como vocês.”
Os corpos que se teme serem do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira foram encontrados na Amazônia na segunda-feira, 13 de junho, pouco mais de uma semana após seu desaparecimento.
As esperanças de encontrá-los vivos começaram a diminuir depois que a polícia confirmou haver encontrado pertences pessoais de ambos. Ao que tudo indica, Phillips e Pereira haviam sofrido ameaças antes de desaparecer na manhã de domingo, 5 de junho.
Ambos os profissionais tinham vasta experiência na região amazônica, tendo publicado reportagens em diversos veículos, incluindo o The Guardian. As autoridades brasileiras prenderam um homem em conexão com os desaparecimentos.
Phillips e Pereira desapareceram no Vale do Javari, onde a combinação de atividades ilegais de garimpeiros, madeireiros e narcotraficantes que descem do Peru se soma à pesca ilegal de pirarucu, um valioso peixe amazônico que chega a pesar 200 kg.
A crescente demanda nas cidades pelo peixe, que sempre fez parte da dieta dos povos indígenas, vem fomentando o tráfico ilegal. Diante da pesca excessiva, o pirarucu já está ameaçado de extinção. Acredita-se que este seja o assunto que Phillips e Pereira estavam reportando quando desapareceram.
Além da pesca do pirarucu, o tráfico de coca, cujo cultivo no vizinho Peru aumentou nos últimos anos e contribuiu para o desmatamento da floresta amazônica, também aumentou no Brasil. Com o aumento da incidência de tráfico de drogas na região, a violência armada contra comunidades indígenas também disparou.
A densidade da floresta oferece excelente cobertura para essas atividades, e a escassa presença de autoridade abre espaço para qualquer tipo de crime. Em partes da região amazônica, a polícia e os militares têm poucos recursos ou fecham os olhos para atividades criminosas. Centenas de guardas indígenas vêm intensificando suas atividades nos territórios, mas os pequenos grupos não dão conta da dimensão da Amazônia.
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