Em ato realizado no início de outubro, o presidente do Equador e meu oponente nas eleições presidenciais deste ano, Guillermo Lasso, advertiu “aqueles que ousam escrutinar” seus bens. Ele se referia aos Pandora Papers publicados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que revelaram como dezenas de líderes mundiais – incluindo Lasso – esconderam bilhões de dólares para evitar pagar impostos.
Ficou mais do que claro que suas ameaças eram dirigidas principalmente a mim, devido ao meu conhecimento do submundo como especialista em bancos offshore.
Em 2017, o Equador aprovou uma lei anticorrupção que proíbe funcionários públicos de ter ativos em paraísos fiscais, direta ou indiretamente. A lei foi promulgada para evitar a utilização de estruturas financeiras opacas e complexas, como trustes, fundações ou empresas. Em 2020, contestei formalmente a candidatura de Lasso por esse motivo, mas ele assinou uma declaração afirmando não ter propriedades em paraísos fiscais e a comissão eleitoral a acatou.
Isso me levou a abandonar o assunto e, quando perdi a eleição em fevereiro, fiz um discurso de concessão e parabenizei Lasso por telefone. Na ocasião, ele prometeu pôr fim à perseguição política contra progressistas iniciada pelo ex-presidente Lenín Moreno.
No entanto, os Pandora Papers revelaram que Lasso havia de fato transferido ações de sociedades de responsabilidade limitada, envolvendo 130 propriedades na Flórida, do Panamá para dois fundos fiduciários no estado da Dakota do Sul. Lasso também reconheceu a existência de 14 entidades que foram ocultadas do tesouro equatoriano.
Antes de assumir a presidência, Lasso negou ter vínculos com essas entidades, incluindo com o Banco Banisi, do Panamá. No entanto, uma investigação da organização Latindadd revelou que Lasso, um dia antes de assinar a declaração, transferiu suas ações do Banco Banisi para a Fundação Internacional Banisi, uma entidade nova de interesse privado da qual seus filhos são beneficiários nominais, mas sem poder de decisão.
Após a publicação dos Pandora Papers, o Congresso ordenou uma investigação. As instituições oficiais pouco ou nada cooperaram, alegando tratar-se de informação confidencial, enquanto Lasso se recusou a comparecer às audiências. Quando a comissão parlamentar aprovou o relatório vinculando Lasso a paraísos fiscais, seu governo imediatamente atacou a comissão, e o Ministério Público abriu uma investigação criminal contra os parlamentares.
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